DISCOS
V/A
Calenda
· 22 Mar 2007 · 07:00 ·

V/A
Calenda
2006
Rudimentol
Sítios oficiais:
- Rudimentol
Calenda
2006
Rudimentol
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- Rudimentol

V/A
Calenda
2006
Rudimentol
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Calenda
2006
Rudimentol
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Editora portuguesa faz uma recolha de nomes do experimental português em forma de calendário - e consegue um documento interessante.
No seu quarto lançamento, a Rudimentol, um selo português dedicado à edição de música experimental, apresenta uma proposta curiosa: um calendário abrilhantado com as visões de diversos artistas sobre cada mês do ano, um qualquer ano não identificado e por isso aberto à imaginação. E fá-lo convidando evidentemente doze artistas, de mundos artísticos e raios de acção distintos: F.Leote, nalalana, Guilherme Proença, Miguel Cabral, Rodrigo Magalhães, Iff e Travassos, Paulo Razoável e João Matos, Frango, Miguel Leiria Pereira, Pedro Alçada, João Silva e Carlos Santos e Emídio Buchinho. Elenco de luxo para uma produção de baixo custo. Importantíssima desde logo pela escassa edição em CD de música neste tipo de campos em Portugal.
Janeiro começa com uma paisagem aparentemente campestre, com pássaros e cães, mas transforma-se rapidamente numa situação urbana onde o caos é apresentado por sirenes e máquinas, pelo noise. Esta é pelo menos a visão de F.Leote, conseguida através de um computador, samples e três leitores de CDs, aplicando-lhes uma regra matemática simples. Fevereiro continua com o noise como denominador comum pelas mãos de nalalana; no final vertiginosos e hipnóticos raios de melodia conseguem penetrar na teia ruidosa construído a principio. Enquanto que em Março Guilherme Proença explora o laptop e o violoncelo em Paris, Miguel Cabral utiliza percussão, guitarra, baixo, violino e especialmente piano para fazer de Abril um mês de interesses mil.
A pintura de Maio coube a Rodrigo Magalhães, que aqui explorou a televisão, efeitos de delay e um aspirador, intento descrito como “melodyless music from a musicianshipless non-musician for non-melomaniacs”. Cabe alguma beleza nestas explorações da vida real. Junho e Julho são meses de explorações “digitais” consistentes no caso de Iff + Travassos na primeira, e mais abertas no caso de Paulo Razoável + João Matos, muito por culpa das field recordings que aqui grassam. Em Agosto tomam posse os Frango para um dos testemunhos mais interessantes de Calenda, arrancado à força de percussão, baixo e guitarra. A participação dos Frango é ao mesmo tempo cristalina, levemente circular e ritualista e desafiante. Quase oito minutos de uns Frango no seu melhor.
Setembro é o espaço em que Miguel Leiria Pereira se movimenta. Escolheu fazê-lo com um contrabaixo unido a field recordings que recolhem a noite e o som da água. A pureza e beleza da exploração de Miguel Leiria Pereira faz de Setembro um mês ainda mais apetecível. Outubro é o mês de Pedro Alçada e de overdubs em volta de guitarra, flauta, percussão e electrónicas. Infelizmente o resultado é menos interessante daquilo que os seus elementos poderiam fazer prever. João Silva e Carlos Santos chegam a Novembro com um tema baseado num poema não publicado de António Ramos Rosa, espaço para se fazerem ouvir a electrónica, field recordings, um contrabaixo fugidio e a voz de Etsuko Kimura, em tradução japonesa. As ambiências ponderadas e intimistas deste tema revelam-se ricas e sugestivas a cada canto.
Decembro chega com dedicação ao inolvidável Derek Bailey assinada por Emídio Buchinho. Em pouco mais de três minutos o músico aproveita a energia de sinos chineses, guitarra acústica (quase inaudível), field recordings, do relinchar inconfundível do ebow em cordas e de outros sons apreciáveis. Emídio Buchinho fecha de óptima forma uma compilação essencial para saber o que vai nas estranhas da música feita por portugueses, aquela que se não vê ou ouve falar por aí. É uma das mais recentes e evidentes provas que Portugal é um país recomendável para presenciar e testemunhar música experimental.
André GomesJaneiro começa com uma paisagem aparentemente campestre, com pássaros e cães, mas transforma-se rapidamente numa situação urbana onde o caos é apresentado por sirenes e máquinas, pelo noise. Esta é pelo menos a visão de F.Leote, conseguida através de um computador, samples e três leitores de CDs, aplicando-lhes uma regra matemática simples. Fevereiro continua com o noise como denominador comum pelas mãos de nalalana; no final vertiginosos e hipnóticos raios de melodia conseguem penetrar na teia ruidosa construído a principio. Enquanto que em Março Guilherme Proença explora o laptop e o violoncelo em Paris, Miguel Cabral utiliza percussão, guitarra, baixo, violino e especialmente piano para fazer de Abril um mês de interesses mil.
A pintura de Maio coube a Rodrigo Magalhães, que aqui explorou a televisão, efeitos de delay e um aspirador, intento descrito como “melodyless music from a musicianshipless non-musician for non-melomaniacs”. Cabe alguma beleza nestas explorações da vida real. Junho e Julho são meses de explorações “digitais” consistentes no caso de Iff + Travassos na primeira, e mais abertas no caso de Paulo Razoável + João Matos, muito por culpa das field recordings que aqui grassam. Em Agosto tomam posse os Frango para um dos testemunhos mais interessantes de Calenda, arrancado à força de percussão, baixo e guitarra. A participação dos Frango é ao mesmo tempo cristalina, levemente circular e ritualista e desafiante. Quase oito minutos de uns Frango no seu melhor.
Setembro é o espaço em que Miguel Leiria Pereira se movimenta. Escolheu fazê-lo com um contrabaixo unido a field recordings que recolhem a noite e o som da água. A pureza e beleza da exploração de Miguel Leiria Pereira faz de Setembro um mês ainda mais apetecível. Outubro é o mês de Pedro Alçada e de overdubs em volta de guitarra, flauta, percussão e electrónicas. Infelizmente o resultado é menos interessante daquilo que os seus elementos poderiam fazer prever. João Silva e Carlos Santos chegam a Novembro com um tema baseado num poema não publicado de António Ramos Rosa, espaço para se fazerem ouvir a electrónica, field recordings, um contrabaixo fugidio e a voz de Etsuko Kimura, em tradução japonesa. As ambiências ponderadas e intimistas deste tema revelam-se ricas e sugestivas a cada canto.
Decembro chega com dedicação ao inolvidável Derek Bailey assinada por Emídio Buchinho. Em pouco mais de três minutos o músico aproveita a energia de sinos chineses, guitarra acústica (quase inaudível), field recordings, do relinchar inconfundível do ebow em cordas e de outros sons apreciáveis. Emídio Buchinho fecha de óptima forma uma compilação essencial para saber o que vai nas estranhas da música feita por portugueses, aquela que se não vê ou ouve falar por aí. É uma das mais recentes e evidentes provas que Portugal é um país recomendável para presenciar e testemunhar música experimental.
andregomes@bodyspace.net
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