DISCOS
V/A
Wayfaring Strangers: Ladies of the Canyon
· 14 Mar 2007 · 07:00 ·
V/A
Wayfaring Strangers: Ladies of the Canyon
2006
Numero Group
Sítios oficiais:
- Numero Group
Wayfaring Strangers: Ladies of the Canyon
2006
Numero Group
Sítios oficiais:
- Numero Group
V/A
Wayfaring Strangers: Ladies of the Canyon
2006
Numero Group
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- Numero Group
Wayfaring Strangers: Ladies of the Canyon
2006
Numero Group
Sítios oficiais:
- Numero Group
Joni Mitchell é o motivo para que 14 vozes femininas se encontrem e sejam resgatadas da eterna obscuridade. Belo baú, este.
A Numero Group destaca-se pela peculiaridade das temáticas que encontram para as compilações que editam. Como o próprio nome da colectânea indica, este é um documento onde é impossível entrar e sair sem se sentir a presença de Joni Mitchell. Wayfaring Strangers: Ladies of the Canyon, da responsabilidade de Rob Sevier e Ken Shipley, é o retrato de 14 vozes que permaneceram absolutamente obscuras até agora, retirado do baú muito por causa do revivalismo folk que grassa neste momento nesta nossa comunidade. São as vozes de 14 mulheres que se sentiram como que obrigadas a fazer música no final dos anos 60 e nos anos 70 em resposta às influências folk que bebiam um pouco por todo o lado.
Tendo em conta que nunca chegaram aos braços e cofres das grandes editoras de então, as cantautoras reunidas nesta compilação viram-se obrigadas a produzir e gravar os seus próprios discos, assim como a lançá-los. Fizeram-no financiadas por empregos de verão, por membros da família e organizações religiosas. Tocaram em igrejas e em cafés, não perderam a esperança. Agarraram-se a guitarras e a vozes, e aos sonhos. Apesar de serem todas de pontos bastante diversos do território norte-americano, encontraram-se muitos anos depois neste documento que as retira da obscuridade para sempre.
Entre as 14 faixas que compõem esta compilação não existem muitas diferenças estéticas. Todas elas quase sem excepção (o último tema, de Ellen Warshaw move-se por terrenos folk-rock) se encontram na poesia baladesca folk de influência maioritariamente “Mitchelliana” – com mais ou menos distância da sua voz. “A Special Path” de Becky Path, em menos de um minuto, traça decisivamente a toada desta compilação. Canções suaves e ternas, acústicas e delicadas. Logo a seguir Collie Ryan mostra-se detentora de uma voz a atirar para o misticismo, como que perto do tal desfiladeiro de uma América a encontrar-se consigo própria e à procura de direcção. “Sunlight Shadow” de Linda Rich é a primeira canção que realmente causa impacto, na voz de vento, no violoncelo discreto mas fundamental, nas flautas que criam paisagem.
Depressa se nota o defeito de “Engram” de Caroline Peyton: de todas as vozes em Wayfaring Strangers: Ladies of the Canyon esta é a que mais se cola à de Joni Mitchell, ao ponto de nos perguntarmos se não será esta canção um lado-b de Blue. As parecenças são assombrosas. Ao que parece acabou por dar voz a filmes da Disney. “Eternal Life” de Shira Small destaca-se por ser aquela que provavelmente mais se desvia esteticamente de todas as outras. Tem qualquer coisa de início ou final de série de televisão norte-americana (e isto é um elogio) que faz dela altamente aditiva, apesar das limitações da voz de Shira Small. “Maybe in another year” destaca-se por outros motivos: por ser interpretada por Jennie Pearl, que na altura com 15 anos dava voz a um tema algo sombrio, acompanhada de um piano.
É todo um desfilar de poesia de época e de sons cristalinos (nem todos tecnicamente perfeitos) que aqui acontece. Até ao final do disco salta à vista “Wildman” de Ginny Reilly, pela peculiaridade da sua voz e pelas ambiências criadas. É uma das pérolas que faz com que Wayfaring Strangers: Ladies of the Canyon, apesar de algumas limitações estilistas e de algumas sobreposições, seja um valioso descobrir de vozes que só não se julgavam perdidas porque nunca foram achadas. Oxalá se descobrissem tantas maravilhas sempre e todas as vezes que um baú tão antigo se abre.
André GomesTendo em conta que nunca chegaram aos braços e cofres das grandes editoras de então, as cantautoras reunidas nesta compilação viram-se obrigadas a produzir e gravar os seus próprios discos, assim como a lançá-los. Fizeram-no financiadas por empregos de verão, por membros da família e organizações religiosas. Tocaram em igrejas e em cafés, não perderam a esperança. Agarraram-se a guitarras e a vozes, e aos sonhos. Apesar de serem todas de pontos bastante diversos do território norte-americano, encontraram-se muitos anos depois neste documento que as retira da obscuridade para sempre.
Entre as 14 faixas que compõem esta compilação não existem muitas diferenças estéticas. Todas elas quase sem excepção (o último tema, de Ellen Warshaw move-se por terrenos folk-rock) se encontram na poesia baladesca folk de influência maioritariamente “Mitchelliana” – com mais ou menos distância da sua voz. “A Special Path” de Becky Path, em menos de um minuto, traça decisivamente a toada desta compilação. Canções suaves e ternas, acústicas e delicadas. Logo a seguir Collie Ryan mostra-se detentora de uma voz a atirar para o misticismo, como que perto do tal desfiladeiro de uma América a encontrar-se consigo própria e à procura de direcção. “Sunlight Shadow” de Linda Rich é a primeira canção que realmente causa impacto, na voz de vento, no violoncelo discreto mas fundamental, nas flautas que criam paisagem.
Depressa se nota o defeito de “Engram” de Caroline Peyton: de todas as vozes em Wayfaring Strangers: Ladies of the Canyon esta é a que mais se cola à de Joni Mitchell, ao ponto de nos perguntarmos se não será esta canção um lado-b de Blue. As parecenças são assombrosas. Ao que parece acabou por dar voz a filmes da Disney. “Eternal Life” de Shira Small destaca-se por ser aquela que provavelmente mais se desvia esteticamente de todas as outras. Tem qualquer coisa de início ou final de série de televisão norte-americana (e isto é um elogio) que faz dela altamente aditiva, apesar das limitações da voz de Shira Small. “Maybe in another year” destaca-se por outros motivos: por ser interpretada por Jennie Pearl, que na altura com 15 anos dava voz a um tema algo sombrio, acompanhada de um piano.
É todo um desfilar de poesia de época e de sons cristalinos (nem todos tecnicamente perfeitos) que aqui acontece. Até ao final do disco salta à vista “Wildman” de Ginny Reilly, pela peculiaridade da sua voz e pelas ambiências criadas. É uma das pérolas que faz com que Wayfaring Strangers: Ladies of the Canyon, apesar de algumas limitações estilistas e de algumas sobreposições, seja um valioso descobrir de vozes que só não se julgavam perdidas porque nunca foram achadas. Oxalá se descobrissem tantas maravilhas sempre e todas as vezes que um baú tão antigo se abre.
andregomes@bodyspace.net
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