DISCOS
Aids Wolf VS. Athletic Automaton
Clash of the Life-Force Warriors
· 06 Mar 2007 · 08:00 ·
Aids Wolf VS. Athletic Automaton
Clash of the Life-Force Warriors
2006
Skingraft


Sítios oficiais:
- Skingraft
Aids Wolf VS. Athletic Automaton
Clash of the Life-Force Warriors
2006
Skingraft


Sítios oficiais:
- Skingraft
A escola de Providence bate por K.O. técnico abonada besta canadiana que justifica o hype que traz agrilhoado.
Não deixa de ser divertido perspectivar, a partir do ângulo sociológico, os diferentes formatos que utilizam para extravasar a sua produtividade as bandas supostamente mais avessas a essa estruturação. É evidente uma certa diferenciação entre o material que serve a cada um dos suportes presentes em catálogos mais caseiros e extensos. Os mais baratos CD-R e cassetes (caso mais raro) costumam servir à divulgação de concertos ou momentos mais ásperos, sem que isso seja sinónimo de desleixo, mas, quase sempre, simbolize aproveitamento de liberdade DIY. A prensagem em vinil já se distingue da primeira pelo seu aspecto mais cerimonial que deve arrecadar conteúdo cuja estirpe vá além da meramente barométrica. As coisas podem não ser exactamente assim e é inevitável generalizar se não quiser dedicar um artigo de corpo inteiro ao assunto. O split de colaboração, porém, será aquele que suscita mais densa incógnita até ao momento em que é escutado. Este, Clash of the Life-Force Warriors, relata detalhadamente a sucessão de acontecimentos tais como verificados aos embate entre o lutador experiente e calejado, os Athletic Automaton (com o ex-Arab on Radar Stephen Mattos a servir de metade calibrada pelos ensinamentos da escola Providence), e o aprendiz disposto a tudo, Aids Wolf, nome assinalado por substancial hype à custa de se encontrar sedeado num dos seus epicentros recentes - Montreal, no Canadá.

Também o homem e a mosca eram dois seres diferentes até entrarem na mesma cápsula de teletransporte. Esclarecidamente, Clash of the Life-Force Warriors oferece, logo à partida, garantias de que um split mais “apressado” não dispõe: espreita-se, à vez, os Aids Wolf e Athletic Automaton na tortura autónoma do filão rock e intecala-se isso com visões ofuscantes de ambos os colectivos em orgiástica sodomização do mesmo rock moribundo. A aliança contra-natura traduz-se em mais colossal estrilho quando os dois monstros partilham o mesmo espaço e é por isso que, logo ao primeiro contacto grotesco, “Collecting Past Debts” prova que o Professor Charles Xavier está certo quando se pronuncia em defesa dos mutantes – ou tudo se torna mais claro quando se escuta à guitarra possessa um mesmo riff obtuso que vai sendo arrastado pelo soalho de um asilo atrelado ao histerismo de Special Deluxe, homicida de saias ao serviço dos Aids Wolf.

E na escola Skingraft ninguém se inscreve se não se comprometer de antemão a amputar um dos órgãos ou membros do seu corpo musical – talvez por isso, as vozes que uiva Special Deluxe pareçam ecoar às mesmas bigornas que esmagam o coração electro aos Les Georges Leningrad (também eles canadianos) ou os Athletic Automaton surjam, em “Olympic Pawns”, tão desesperados em preencher com fuzz e um combinado lodo Load uma lacuna instrumental que cobrem com um rodeo de ritmos que, após quatro investidas dispares entre si, retoma ao ponto de partida. Fica a ganhar o apetite sónico com esta necessidade flagrante de afirmação dos dois gladiadores na arena.

Contudo, Clash of the Life-Force Warriors não alimenta qualquer preocupação em revelar coordenadas ou sinalética formal que sirva de candeio por entre esta selva dadaísta: o disco não contém os títulos das faixas ou quaisquer créditos. Contém essencialmente três revelações extremamente bem-vindas: os Aids Wolf rendem mais quando sobrevivem ao imediatismo espasmódico do debute The Lovvers, os Athletic Automaton provocam algum salivar por acrescento de substancial novidade ao muito trilhado caminho dos duos demolidores, e o split, quando disposto a apresentações isoladas e colaboração medonha dos envolvidos, pode mesmo servir como montra a ideal aos mais desejosos de dar a ver o sangue que corre na guelra underground.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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