DISCOS
Mujician
There’s No Going Back Now
· 26 Fev 2007 · 08:00 ·
Mujician
There’s No Going Back Now
2006
Cuneiform


Sítios oficiais:
- Mujician
- Cuneiform
Mujician
There’s No Going Back Now
2006
Cuneiform


Sítios oficiais:
- Mujician
- Cuneiform
Quarteto de Keith Tippett e Paul Dunmall trabalha em registo de improvisação utilizando referências cromáticas do free jazz
A banda entra lançando a confusão: o piano solta umas notas, do saxofone ouvem-se sopros envergonhados, há toques leves de percussão e surgem as primeiras vibrações do contrabaixo. Cada um parece seguir um caminho autónomo e aparentam não demonstrar muita segurança. Esta turbulência e timidez inicial vai sendo afastada até que os instrumentos se soltam e se unem para uma cooperação orgânica. O piano vai debitando notas que o saxofone trata de seguir e explorar mais adiante. O contrabaixo (frequentemente com o arco) vai fazendo uma certa marcação rítmica e a percussão acaba por se deixar ficar em segundo plano, abandonando funções rítmicas em favor de uma acção mais textural. O saxofone assume a liderança através de uma exploração melódica e o restante trio apoia-o seguindo-lhe o ritmo intenso.

É assim que começa o sexto disco do grupo Mujician. Este quarteto inglês reúne alguns dos maiores nomes da improvisação livre da ilha britânica. Formado em 1988, este grupo junta o pianista Keith Tippett, o saxofonista Paul Dunmall, o contrabaixista Paul Rogers e o baterista Tony Levin. Neste mais recente registo do quarteto, “There’s No Going Back Now”, não há como voltar atrás: numa frutuosa sessão de improvisação - uma única faixa que se prolonga por cerca de 45 minutos – o quarteto parte sem qualquer conceito base para desenvolver estruturas através de sequências e diálogos até chegar a progressões crescentes próximas do free jazz.

Paul Dunmall, um assumido coltraneano (além do seu sopro seguir o do saxofonista, chegou a tocar com Alice Coltrane) mostra gosto particular por explorar melodias, algo pouco habitual nos executantes da improvisação europeia mais radical. Afastado da desconstrução/recriação de Lol Coxhill, mais próximo das metodologias seguidas por Evan Parker, Dunmall tem um papel fundamental na execução desta música, é dele muita responsabilidade e, particularmente, muita iniciativa. Ao piano, Keith Tippett constrói diálogos criativos com o sopro. Este inglês, que chegou a colaborar com os King Crimson, investe aqui a sua forte personalidade musical, fazendo do piano um centro temático a partir do qual nascem cascatas de notas sobre as quais o saxofone tem liberdade - um pouco à maneira como trabalhava o pianista McCoy Tyner para John Coltrane.

As abundantes referências ao free jazz não são à toa; unidade e criatividade com que esta unidade improvisacional trabalha remete frequentemente para a música revolucionária de Albert Ayler ou Cecil Taylor. Este sexto registo não acrescenta grandes variações à obra anterior, mas é uma importante marca de criatividade. Agora não dá para voltar atrás.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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