DISCOS
The Shins
Wincing the Night Away
· 22 Fev 2007 · 08:00 ·
The Shins
Wincing the Night Away
2007
Sub Pop / Popstock Portugal


Sítios oficiais:
- The Shins
- Sub Pop
- Popstock Portugal
The Shins
Wincing the Night Away
2007
Sub Pop / Popstock Portugal


Sítios oficiais:
- The Shins
- Sub Pop
- Popstock Portugal
Um exemplo de como é viável uma recomendável colheita indie assumir-se simultaneamente TV friendly.
Mesmo as mais alheadas criaturas terão dificuldade em afirmar peremptoriamente jamais terem tido contacto com a música dos The Shins. Haverá quem diga "talvez", alegando não memorizar particularmente nomes (desconfiamos sempre desses pseudo-amantes musicais, não é?) e haverá possivelmente quem diga que já viu o nome da banda escrito algures, mas que ainda não ouviu. Nada mais insensato para se dizer acerca dos The Shins. De facto, quando finalmente confrontados com um disco da banda, esses ouvidos que julgam apreender algo de novo, descobrem que estão afinal familiarizados com o que ouvem. Não sabem de onde vem esse conhecimento prévio, se foi música de fundo em casa de amigos melómanos, se foi na rádio universitária de playlist variada e revigorante ou através de outro meio de comunicação qualquer. Mas não surge exactamente como novidade. O enigma da música que antes de se ouvir já se ouviu deslinda-se rapidamente após descoberta do percurso e proezas da banda.

Os protagonistas em questão são James Russel Mercer, Martin Crandall, Dave Hernandez, Jesse Sandoval e o recém-recrutado Eric Johnson, um colectivo oriundo de Albuquerque, a maior cidade do estado norte-americano do Novo México. Editam, em 2007, Wincing the Night Away, depois de se terem imposto no circuito independente com o registo de estreia Oh, Inverted World e o seu sucessor Chutes to Narrow. Ao terceiro disco, a banda, que entretanto se muda de malas e bagagens para Portland, reúne, por um lado o agrado da crítica e dos apreciadores de indie com pedigree, e, por outro, bem mais do que uma mão cheia de temas com aproveitamento televisivo e cinematográfico. E assim se vai desvendando o porquê de soar nosso conhecido o conteúdo de um disco da banda norte-americana. Pode ter-se infiltrado na memória auditiva via série televisiva de sucesso (casos de "Buffy: A Caçadora de Vampiros" ou "Os Sopranos") ou, muito natural ainda, através de um dos maiores garantes de visibilidade nos nossos dias: a publicidade. Tanto a McDonald's como a Guiness escolheram a música dos The Shins para campanhas publicitárias. Outra possibilidade de se darem a conhecer foi proporcionada por Natalie Portman que, no filme "Garden State", atesta que "New Slang", tema retirado do primeiro disco da banda, é música capaz de mudar uma vida. Ao certo só sabemos que, mesmo que não mude a nossa vida, a música dos The Shins entrará, pelo menos, nela.

Wincing the Night Away é (e já tardava a ser aqui dito) um álbum certeiro. Não há uma fórmula que lhes assegure a patente da orientação criativa, mas o caminho pelo qual enveredam leva-os a um destino seguro. Provavelmente serão bem digeridos por apreciadores de, entre outros, Iron & Wine, The Decemberists ou New Pornographers. Mas há mais qualquer coisa. Há uma pop com pés e cabeça, difícil de atacar (coisa rara), que evoca décadas anteriores, conciliando esse recuo temporal com uma frescura e adaptação ao presente convincentes. O álbum abre com "Sleeping Lessons", faixa que se desvenda numa progressão assente em teclados e percussão até surgirem guitarras eléctricas a causar rebuliço. Mais para diante no alinhamento, surge o single "Phantom Limb", que se desenrola sempre a partir do baixo e debita uma melodia cantarolável. É, para o bem ou para o mal, o tema que se prende facilmente ao ouvido. Outras faixas poderão igualmente destacar-se, ora por serem de natureza evocativa ("Turn On Me" tem muito de Beach Boys), ora por surpreenderem pelas texturas que exploram ("Sea Legs" aproxima-se ao de leve do hip hop).No entanto, façam os desvios que fizerem, os The Shins têm neste Wincing the Night Away um punhado de canções luminosas que não destoam no conjunto.

James Mercer, o vocalista que chama si a tarefa de escrever letras e compor é actualmente uma mente menos complexa. Se nos dois primeiros registos era difícil descortinar o sentido obscuro das suas palavras, hoje-em-dia parece apostado em fazer-se entender melhor. Daí que as letras destas onze canções façam mais facilmente sentido. Em "Turn On Me", por exemplo, constatamos o mesmo sentimento de fracasso, desistência e amargura que povoava as letras mais antigas, mas aqui apresentado num registo mais acessível ("So affections fade away. / And do adults just learn to play / The most ridiculous, repulsive games?). Por falar em "Turn On Me", acrescente-se que este tema teve igualmente honras televisivas, tendo integrado um episódio da série "O.C.:Na Terra dos Ricos". E agora, tem a certeza que nunca ouviu os The Shins?
Eugénia Azevedo
eugeniaazevedo@bodyspace.net

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