DISCOS
Greg Davis & Jeph Jerman
Ku
· 22 Ago 2006 · 08:00 ·
Greg Davis & Jeph Jerman
Ku
2006
Room 40


Sítios oficiais:
- Room 40
Greg Davis & Jeph Jerman
Ku
2006
Room 40


Sítios oficiais:
- Room 40
A par de Keith Fullerton Whitman, Greg Davis será dos estetas sonoros norte-americanos cuja produtividade dos últimos quatro anos mais flagrantemente tem obrigado a um acompanhamento atento. Extraiu à folk – como que sonhada há três noites – o essencial para dar forma às lindas paisagens flutuantes de Somnia e ainda o ano passado uniu-se a Sébastien Roux para Paquet Surprise que converteu muita gente. Com este currículo, não surpreende que tenha cumprido algumas datas em digressão com o Animal Collective. Por este altura, o nome de Greg Davis já é sinónimo de subtil e mínima manipulação digital aplicada a um corpo denso de elementos orgânicos. Por ocasião de Ku, reincide nessa função e encontra ao seu dispor um montanha maciça e por demais eclética de livres explorações acústicas executadas pelo compatriota Jeph Jerman – a que Davis reconhece um apurado ouvido – na sua quinta em Cottonwood Arizona.

Ku alcança objectivos inéditos enquanto disco lançado pela Room 40: por altura da sua metade já é viável considerá-lo uma das mais atordoantes mostras de aproveitamento sónico que a label até hoje deu a conhecer - uma espécie de mind fuck feroz resultante de uma captação primitiva dos sons que normalmente se esperariam da carpintaria de uma quinta se todas as suas ferramentas se encontrassem envolvidas numa enorme cena de pugilato. O segundo estrato do disco sugere exactamente essa ideia e, virtuosamente, faz um aproveitamento simultâneo das condições meteorológicas turbulentas e efeitos dessas sobre o espaço circunscrito. Escuta-se o tilintar ampliado ao contacto de vidros, o sopro de um vento que torna rugosa a distorção e o ladrar dos cães numa quinta vizinha. Ku funciona quase como uma sinfonia gamelan orquestrada por um fazendeiro esquizofrénico. Como se os ensinamentos do vanguardista francês Luc Ferrari tivessem sido intensificados até um extremo hardcore sem perderem qualquer tempo com a formalidades narrativas. No press-release que o acompanha, Ku surge referenciado como disco pós-concréte. Concretamente falando, sobra a certeza de que Greg Davis continua a acumular estimulantes capítulos ao seu percurso e a suspeita sólida de que Jeph Jerman pode bem vir a surpreender novamente em breve.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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