DISCOS
Yasushi Yoshida
Secret Figur
· 02 Out 2006 · 08:00 ·
Yasushi Yoshida
Secret Figur
2006
Noble


Sítios oficiais:
- Yasushi Yoshida
- Noble
Yasushi Yoshida
Secret Figur
2006
Noble


Sítios oficiais:
- Yasushi Yoshida
- Noble
Não será demérito ou motivo de embaraço para ninguém calçar os sapatos que usou Ryuichi Sakamoto para percorrer o caminho que separou os dias coloridamente dançáveis na Yellow Magic Orchestra do compositor cinemático globalmente aceite e aclamado. As premissas que norteiam Secret Figure de Yasushi Yoshida assumem declaradamente a sua vocação cinemática que se denota a uma iniciática “Silent Park” que, apesar de manter velada - com trejeitos inconclusivos - a radiância que lhe sucede, revela madrugadoramente que a carga impressionista do disco dependeria invariavelmente da eficiência elementar do piano, cordas (quase sempre, agentes de um maior dramatismo) e de tudo o mais que lhe fosse sendo acrescentado à medida que o encanto desenvolvesse garras para arranhar o céu (e um disco da Noble aponta sempre o seu olhar simbólico para as alturas). Não se estranha, portanto, que, logo de seguida, “Parade for Closure” provoque a gravitação compassada de uma imensidão de labaredas digitais que serpenteiam em movimentos de ascensão, em perseguição de uma primeira guitarra que se evaporou num subtil sorriso de gambuzino. O reino celestialmente suspenso de Secret Figure parece ter sido arquitectado a partir da ilusão que imprime o facto de quase sempre ser inicialmente terrena e sólida toda a maravilhosa componente orgânica do disco, que, só quando tem garantida a sonolência sensorial, convoca o tratamento digital que o conduz até paragens estratosféricas. Daí que percorrer Secret Figure seja como caminhar harmoniosamente de um avião em voo até ao exterior do mesmo, sem que isso envolva o agravo da discrepância atmosférica.

Alegoricamente, será este um disco para acompanhar o biopic que o autor sul-coreano Kim Ki-duk nunca filmou para ilustrar a vida de Ícaro - perdida entre o dilema de se limitar ao solo ou aproximar-se do sol. A certas alturas, Yasushi Yoshida consegue obter a magia que se pode apenas imaginar a um disco que fundisse num só projecto as estéticas dos Sigur Rós e das parceiras Amina – hipoteticamente aliadas naquele que poderia ser uma variante mais ambiciosa e desenvolta do incompreendido EP Ba Ba / Ti Ki / Di Do (“Remembrance in Glass” encontra-se flagrantemente próxima desse cenário fantasioso, por gestão branda de piano e electrónica amena – a que não falta sequer um som próximo do “theremin” que as Amina emulam com um serrote). Motivos de sobra para se poder afirmar:Ágaetis Byrjun. Um bom começo.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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