DISCOS
Spacehorse
Spacehorse EP
· 10 Jul 2006 · 08:00 ·
Spacehorse
Spacehorse EP
2005
Gravity


Sítios oficiais:
- Gravity
Spacehorse
Spacehorse EP
2005
Gravity


Sítios oficiais:
- Gravity
Devo admitir que nutro uma sólida simpatia saudosista por aquele hardcore que não teme o contacto visual com o alvo humano a quem dirige um desafio ético. Não há como duvidar da intenção samaritana à questão crua que os Bad Brains colocavam a alguém mergulhado em espiral de vicio:”How low can a punk get?”. Perdoe-se às lendas de Washington DC os pecados de fim de carreira e recupere-se esse mandamento do hardcore que, em surdina, ditou que “quando um cai na merda, todos caiem com ele”. A verdade é que a cena de San Diego (e não só) ainda está em divida para com um Matt Anderson – força motora destes Spacehorse - que arquitectou visionariamente um pilar underground a partir da eternamente modesta Gravity Records e de uns Heroin cuja influência importa aclamar. Matt Anderson cavou as entranhas ao hardcore quase como o Joaquim de Almeida que, no algo desastroso Tentação, acede a descender ao fundo rochoso da heroína na tentativa de salvar quem a esse parecia condenado. Matt fez do género um lugar mais obscuro e rarefeito, uma entidade a que convinha o isolamento que oferece o parcial anonimato, colocou trancas à porta com um nome tão corrosivo como Heroin. Agora colhe despreocupadamente os frutos dessa reputação e forma, em conjunto com um invejável rol de figuras musicais (recuperadas aos abrasivos Clikatat Ikatowi e Camera Obscura), uma banda de hardcore sem truques conceptuais na manga ou ambição que vá além do quarto de hora de consistente combustão de métodos incendiários que o género apresenta por defeito. Ou seja, a habilidade nata para simular a sensação de que a banda caminha sobre brasas, com baixo e guitarra (Scott bartilonni é foda!) unidos na mesma cilada a que incitou a inquietude anárquica dos Dead Kennedys. Depois, "Blood like honey" tem uma entrada que é puro Bad Brains (mas que não serviria à mão reprodutora de Frank Black que os invocou algures em Teenage of the Year). Alguma redundância nos temas invocados, mas intacta a atitude de um hardcore que, resistentemente, recusou pintar os olhos e usar lenços na cabeça. Temos uma cobóiada das antigas... Ao que dá a entender este curto EP, ainda se aceitam inscrições na velha escola.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

Parceiros