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Songs Of Green Pheasant
Songs Of Green Pheasant
· 05 Jun 2006 · 08:00 ·
Songs Of Green Pheasant
Songs Of Green Pheasant
2005
Fat Cat / Flur


Sítios oficiais:
- Fat Cat
- Flur
Songs Of Green Pheasant
Songs Of Green Pheasant
2005
Fat Cat / Flur


Sítios oficiais:
- Fat Cat
- Flur
Paul Simon e Art Garfunkel juntaram-se na cidade de Nova Iorque, que não é propriamente o local mais bucólico de sempre para dois rapazes se juntarem para fazer folk, apesar de Robert Zimmerman (Bob Dylan) ter um dia rumado lá justamente para isso. Em defesa deles, acabaram a viver em Greenwich Village, a parte mais bucólica da cidade.

Duncan Sumpner, a par dos Kings of Convenience o mais interessante herdeiro moderno do duo, escreveu e gravou Songs of Green Pheasant numa cozinha em Sheffield, algo ainda menos bucólico, a não ser que seja uma cozinha medieval. Isso faz de Sumpner, automaticamente, o Simon & Garfunkel de cozinha, o que não é nada mau.

Consta que um dia chegou aos escritórios da FatCat uma demo que só dizia Kayak. Os responsáveis da editora apaixonaram-se por aquelas canções e passaram os dois anos seguintes à procura de Sumpner, o autor daquilo. O resto é um óptimo trabalho de masterização de canções mal gravadas num quatro-pistas e de gravação de mais um tema num estúdio mais ou menos a sério para este Songs of Green Pheasant.

Songs of Green Pheasant surge-nos não como o nome de um projecto, mas como o nome de um disco, não havendo mais nada que identifique o mesmo. Em "I Am Daylights" há um drone de fundo que se mantém durante a canção toda, lá atrás, mas que não tira o protagonismo ao dedilhado muito Simon & Garfunkel da guitarra, e às duas vozes, uma delas com reverb, que cantam "Because I am, I am daylights".

Segue-se "Nightfall", onde Sumpner estica de uma forma deliciosa palavras como "snow" e "know", e onde aos dois minutos entra um belíssimo refrão "No, they can't your soul / no, tell me what is a soul", acompanhado por pandeireta e a própria voz de Sumpner duplica para fazer harmonias de voz. Tudo descamba numa parte instrumental soturna, com batidas tribais e um solo de guitarra eléctrica (que vem, literalmente, do nada) cheia de distorção, com os mesmos acordes de guitarra acústica lá por trás, continuando até ao fim, mesmo quando os outros instrumentos já se apagaram. O resto continua sempre por aí, com destaque para os dedilhados acústicos e para o piano belíssimos de "The Burning Man", os assobios de "Knulp", a maior aproximação ao duo americano, e toda a ideia de "Soldiers Kill Their Sisters".

Songs of Green Pheasant não passa de um professorzeco na sua cozinha a cantar um conjunto de canções que passam sempre por montes de reverb, toda uma ambiência de baixa fidelidade, com guitarra acústica delicada e belíssima, percussão esparsa e teclados e assobios, com outras guitarras ou baixos aqui e ali. Mas é fácil perceber porque é que os rapazes da FatCat se apaixonaram por isto, não há propriamente muita variação (uma batida electrónica mais rápida aparece em "The Wraith of Loving" mas é tudo basicamente o mesmo, de resto) mas todas as canções têm pontos de interesse, melodias bonitas e entram após poucas audições. A produção pobre adequa-se perfeitamente ao ambiente que Sumpner quer mostrar (e ajuda a disfarçar o facto de soar tudo a Simon & Garfunkel). Duncan Sumpner, o Simon & Garfunkel de cozinha, tem neste disco um dos melhores discos de canções do ano passado só descobertos devidamente este ano.
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net

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