DISCOS
The Advantage
Elf Titled
· 21 Mar 2006 · 08:00 ·

The Advantage
Elf Titled
2005
5 Rue Christine
Sítios oficiais:
- The Advantage
- 5 Rue Christine
Elf Titled
2005
5 Rue Christine
Sítios oficiais:
- The Advantage
- 5 Rue Christine

The Advantage
Elf Titled
2005
5 Rue Christine
Sítios oficiais:
- The Advantage
- 5 Rue Christine
Elf Titled
2005
5 Rue Christine
Sítios oficiais:
- The Advantage
- 5 Rue Christine
É brincadeira de meninos compor um disco por cada um dos estados representados na bandeira que comporta as 50 estrelas. Os Advantage impuseram a si mesmos a ambiciosa meta de, até cessar a vida ao último dos seus membros, reproduzir todas as músicas incluídas num jogo Nintendo (pelo grafismo dos dois discos até aqui lançados, depreende-se que se limitem à oito bits NES, a clássica entre os clássicos). Além de hercúlea e doentiamente nerd, a tarefa não se adivinha fácil se tivermos em conta que só o universo Zelda deve ter “encartuchadas” umas 100 composições ao longo dos seus capítulos. Somadas as versões constantes dos dois discos entretanto editados, contabilizam-se 42 sumarentas faixas. Os Advantage estão no bom caminho. Pertence-lhes um lugar cativo na estima de quem um dia perdeu tempo a tentar encontrar o ponto fraco a King Hippo no Super Punch Out! ou a interrogar-se acerca do “fraquinho” que Toad parece cultivar pelo Super Mario.
Perante a premissa assente sobre a tal emulação física – duas guitarras, um baixo e uma bateria na maior parte dos casos - do que era apenas toscamente digital, o que importa realmente é avaliar o cariz inventivo explorado para recriar musicalmente ambientes principalmente vocacionados para um entretenimento fácil. Os Advantage tratam da compensação que faltava a hinos Nintendo para se tornarem apreciáveis exercícios pós-qualquer coisa. Alturas há em que a vertigem medida à escala de notas musicais é de tal forma impossível de acompanhar, que mais parecem os Advantage uma banda nostalgicamente obcecada pela década de 80 e estilisticamente fixada no rock progressivo da década anterior a essa. Não seria difícil conceber os King Crimson empenhados na criação de um acompanhamento sonoro alternativo para Rastan Saga, cuja música original havia já sido composta por Naoto Yagishita e Masahiko Takaki, e reutilizada em várias remisturas. Calejados pelos anos em que a pad era uma extensão corporal (e isto tem qualquer coisa de Cronenberg), os Advantage demonstram na conversão para formato rock a mesma perícia que exigiam os níveis avançados dos jogos Nintendo.
Assim sendo, não é de espantar que “Contra – Alien’s Lair & Boss Music” seja estupidamente eficaz no mergulho aos infernos que impõe assim que descende de uma orientação horizontal até um face a face com todo o virtuosismo de que os Advantage são capazes, num momento cuja energia padece de adjectivos que o descrevam com exactidão (mas que, mesmo assim, é reincidente, pois a sua segunda metade constava já do primeiro homónimo). A explosão em múltiplas direcções desse dispositivo, que impele a de imediato voltar a jogar Contra, serve também para estimular os sentidos, ou não fosse o confronto com o boss – que finaliza o nível – o momento do jogo em que o gamer tem de aplicar todas as aptidões adquiridas. Ao que parece, os Advantage sintetizaram diversos géneros, a que agora acendem o rastilho pixelado. Existem por aqui brilhantes amálgamas: “Ducktails – Moon”, por exemplo, consegue, em simultâneo, invocar um hard rock digerível e ser um surpreendente exercício de elipse temporal em minuto e meio (tal é a velocidade das guitarras-foguetão); “Bomberman 2 – Wiggy” podia pertencer como interlúdio em Wowee Zowee dos Pavement, caso estes cumprissem durante alguns dias uma dieta de Maltesers e café.
Fica bem cimentada a noção de que são tão bizarros os resultados quanto a ideia de alguém enclausurado no universo musical dos anos dourados da Nintendo. Mais do que uma mera curiosidade, meteorito novelty ou excentricidade para partilhar com amigos, Elf Titled, assim como o disco que lhe antecedia, consegue operar o milagre ao alcance de poucos discos compostos apenas por versões: através de uma erudita exploração da variante, torna sua a matéria alheia. Mark Kozelek tem sido exemplar na apropriação de heranças musicais díspares (AC/DC e Modest Mouse). Os Advantage não lhe ficam atrás enquanto notáveis praticantes da arte da pilhagem, com a vantagem de palmilharem um terreno bem menos ortodoxo e consequentemente mais fresco que o trilhado pelo songwriter oculto no desígnio Sun Kill Moon.
Miguel ArsénioPerante a premissa assente sobre a tal emulação física – duas guitarras, um baixo e uma bateria na maior parte dos casos - do que era apenas toscamente digital, o que importa realmente é avaliar o cariz inventivo explorado para recriar musicalmente ambientes principalmente vocacionados para um entretenimento fácil. Os Advantage tratam da compensação que faltava a hinos Nintendo para se tornarem apreciáveis exercícios pós-qualquer coisa. Alturas há em que a vertigem medida à escala de notas musicais é de tal forma impossível de acompanhar, que mais parecem os Advantage uma banda nostalgicamente obcecada pela década de 80 e estilisticamente fixada no rock progressivo da década anterior a essa. Não seria difícil conceber os King Crimson empenhados na criação de um acompanhamento sonoro alternativo para Rastan Saga, cuja música original havia já sido composta por Naoto Yagishita e Masahiko Takaki, e reutilizada em várias remisturas. Calejados pelos anos em que a pad era uma extensão corporal (e isto tem qualquer coisa de Cronenberg), os Advantage demonstram na conversão para formato rock a mesma perícia que exigiam os níveis avançados dos jogos Nintendo.
Assim sendo, não é de espantar que “Contra – Alien’s Lair & Boss Music” seja estupidamente eficaz no mergulho aos infernos que impõe assim que descende de uma orientação horizontal até um face a face com todo o virtuosismo de que os Advantage são capazes, num momento cuja energia padece de adjectivos que o descrevam com exactidão (mas que, mesmo assim, é reincidente, pois a sua segunda metade constava já do primeiro homónimo). A explosão em múltiplas direcções desse dispositivo, que impele a de imediato voltar a jogar Contra, serve também para estimular os sentidos, ou não fosse o confronto com o boss – que finaliza o nível – o momento do jogo em que o gamer tem de aplicar todas as aptidões adquiridas. Ao que parece, os Advantage sintetizaram diversos géneros, a que agora acendem o rastilho pixelado. Existem por aqui brilhantes amálgamas: “Ducktails – Moon”, por exemplo, consegue, em simultâneo, invocar um hard rock digerível e ser um surpreendente exercício de elipse temporal em minuto e meio (tal é a velocidade das guitarras-foguetão); “Bomberman 2 – Wiggy” podia pertencer como interlúdio em Wowee Zowee dos Pavement, caso estes cumprissem durante alguns dias uma dieta de Maltesers e café.
Fica bem cimentada a noção de que são tão bizarros os resultados quanto a ideia de alguém enclausurado no universo musical dos anos dourados da Nintendo. Mais do que uma mera curiosidade, meteorito novelty ou excentricidade para partilhar com amigos, Elf Titled, assim como o disco que lhe antecedia, consegue operar o milagre ao alcance de poucos discos compostos apenas por versões: através de uma erudita exploração da variante, torna sua a matéria alheia. Mark Kozelek tem sido exemplar na apropriação de heranças musicais díspares (AC/DC e Modest Mouse). Os Advantage não lhe ficam atrás enquanto notáveis praticantes da arte da pilhagem, com a vantagem de palmilharem um terreno bem menos ortodoxo e consequentemente mais fresco que o trilhado pelo songwriter oculto no desígnio Sun Kill Moon.
migarsenio@yahoo.com
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