DISCOS
Cagesan
I love machine
· 07 Fev 2007 · 08:00 ·
Cagesan
I love machine
2006
Beaubrun


Sítios oficiais:
- Beaubrun
Cagesan
I love machine
2006
Beaubrun


Sítios oficiais:
- Beaubrun
Álbum de estreia de Cagesan pela francesa Beaubrun é voz que quer voar em base electrónica. Com asas.
Cagesan é um artista nascido em Beauvais, na França (2005) e a sua família é originária de Bicheno, na Tasmânia. A forma como canta chamou a atenção de dois produtores no mercado de pássaros em Paris – foi descoberto pelo ilustrador Florence Manlik e pelo músico e poeta Toog. Só há um pormenor em toda esta história que não foi até agora mencionado. Cagesan é na verdade um pássaro. Para dar vida à voz do bichinho recrutaram-se nomes como o do britânico Momus, Cubist Literature (EUA), O.Lamm (França), Olga (Argentina), Montag (Canada), Felix Kubin (Alemanha), MC Cat Genius (EUA), David Balula (França), James Harvey (Reino Unido) e Digiki (França, com base no Japão), entre outros.

Urge antes de mais dizer que I love machine é um disco de electrónica. Electrónica de todas as cores e feitios, de matizes distintas - a voz do pássaro também tem protagonismos diferentes de tema para tema. É apenas justo que um disco que tem como figura central um pássaro se faça de sons tão peculiares quão particular é a ideia. Fashion Flesh abre o disco disparando electrónica em direcção do pássaro que responde com o seu cantar infalível. A partir daí entra-se num mundo onde Cagesan é herói de um filme de ficção científica e viaja pelos esgotos de Paris tentando fugir de outros pássaros vilões. I love machine permite tantas interpretações distintas quanto a mente permitir, ou seja, todas.

Enquanto que Momus faz a coisa com electrónica light e um piano enigmático, MC Cat Genius assina uma bizarra intromissão onde Cagesan se vêm entre bandas sonoras terríveis de filmes ou séries de televisão não menos horríveis e safa-se pelo momento quase nonsense e bem disposto. O cantar de Cagesan leva com efeitos em cima mas aguenta-se. Bem diferente é a faixa de Digiki, atrevida e, a espaços, melódica; electrónica inteligente mas não demasiado. Digiki usa e abusa das potencialidades do cantar de Cagesan - até este ponto do disco é o melhor a fazê-lo.

Dois dos nomes mais sonantes desta compilação ocupam os lugares 9 e 10 da mesma. São eles o francês O.Lamm e o alemão Félix Kubin, dois artistas de águas distintas. O primeiro consegue alguns dos momentos mais apelativos e belos desta compilação (rico em elementos e farto em pormenores, a paisagem é bonita de se ver daqui), o segundo aposta na sinergia entre as vozes e electrónica de baixa temperatura (leia-se gélida) mas fecha a coisa com um piano cabarético que pensamos já ter ouvido anteriormente. Até fechar salta à vista os temas de Olga e do canadiano Montag, ambos a explorarem minudências electrónicas com bastante sucesso (o último a explodir para algo mais estruturado a certa altura). Apesar de em certas alturas do disco parecer que o conceito se sobrepõe à forma, isso não impede que I love machine brilhe em bastantes ocasiões (metade do disco, digamos) e que Cagesan tenha um cantar deveras invejável. Recompensa: no último tema, numa espécie de paródia com "Free as a Bird" dos Beatles, é entregue a Cagesan, ainda que metaforicamente, a sua liberdade.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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