DISCOS
V/A
35 Mutant Seconds: Based on Rafael Toral's Creamy Burst
· 26 Jan 2007 · 08:00 ·
V/A
35 Mutant Seconds: Based on Rafael Toral's Creamy Burst
2005
Grain of Sound / Baskaru


Sítios oficiais:
- Grain of Sound
- Baskaru
V/A
35 Mutant Seconds: Based on Rafael Toral's Creamy Burst
2005
Grain of Sound / Baskaru


Sítios oficiais:
- Grain of Sound
- Baskaru
35 segundos mutantes de Toral desenvolvem-se em 11 composições, num processo de osmose sónica que conduz a onze visões heterogéneas sobre explosões cremosas.
Ideia: partindo da composição “Creamy Burst”, de Rafael Toral, onze artistas (ou colectivos) são convidados a criar novas obras tendo apenas como objecto sonoro de trabalho essa mesma composição. Interessante? Claro que sim, embora o conceito latente permaneça vago. Enquanto que uns optam pela abordagem frontal e explícita, em que a utilização da peça de Toral gira mais em torno da reconstrução, outros buscam o subterfúgio e subtileza em que a modulação de sons tem primazia.

“Creamy Burst” é a primeira faixa do disco, com a duração de 35 segundos, e versa assim: guitarras que se descrevem como sónicas, em pequenos solos circulares que auguram a iminência de um acontecimento. Distorção e destruição sónica ao segundo. ''33. Era este o acontecimento. O disco começa num registo sério. Talvez demasiado sério. Também não é para menos, Richard Chartier dedica a sua composição às vítimas do tsunami de 26/12/04. Uma faixa densa, que foca um ambiente soturno de cataclismo iminente. Espero que nenhum sobrevivente do tsunami alguma vez ouça esta peça – o resultado seria mais assustador do que ver o Rambo a chorar.

Seguem-se as duas melhores composições do disco – “Ent sunrise creamy sun” e “Ian Epps longfellow”. Ambos conseguem construir obras sonoras que, sem pôr em causa o objectivo do projecto, são bastante pessoais e extrapolam o contexto em que estão inseridas. Principalmente Ian Epps que constrói a composição mais original da compilação. Quando chega a vez desta música no CD abre-se um belo hiato, durante sete minutos e alguns segundos, que chega mesmo no momento certo. “Boa”, penso eu, ao perceber que estou na presença de uns quantos “clicks” e outros tantos “cuts” num ambiente de melodia electrónica (lembram-se de Oval? Isto anda lá perto). Cheio de tonalidades discretas homogéneas o tema parece que se desenvolve por si próprio, como se não houvesse relação entre artista e obra, mas antes um processo natural de formação e desenvolvimento.

O tempo avança e os temas vão passando sem que nada mais me prenda a atenção. Mas eis que mais dois temas escapam à minha impaciência e monotonia. O dos portugueses @C prima pela construção ambiental que produzem, trabalhando em primeiro plano os sons quase imperceptíveis que ecoam lá distantes no tema de Toral. E o do sr. Peter Rehberg a.k.a. Pita a quem ninguém fica indiferente. Em primeiro lugar pela portentosa utilização de drones capazes de criar na música tonalidades tão complexas, que ele se diverte a desconstruir e a sobrepor. E depois pela autêntica destruição sonora que dá à guitarra, que mais parece uma moto-serra utilizada para salvar os passageiros de um avião despenhado. É uma música tão apelativa quanto desconfortável.

No entanto, enquanto o som se difunde numa melopeia de bom augúrio a disciplina da análise ao disco transforma-se numa primária evocação do que é aprazível, ou não. E a questão permanece: é este disco bom? O disco... é um constante clamor de mil sentidos que desune a aparente homogeneidade que este deve encarnar.
Bruno Moreira

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