DISCOS
Ensemble
Ensemble
· 16 Jan 2007 · 08:00 ·
Ensemble
Ensemble
2006
Fat Cat / Flur


Sítios oficiais:
- Ensemble
- Fat Cat
- Flur
Ensemble
Ensemble
2006
Fat Cat / Flur


Sítios oficiais:
- Ensemble
- Fat Cat
- Flur
Electrónica de aurora conhece pólos orgânicos em arranjos orquestrais e vozes de Lou Barlow e Chan Marshall (Cat Power).
Há um qualquer equilíbrio de circunstâncias que torna radiantes e inesquecíveis alguns instantes proporcionados pela estrada eixo norte-sul de Lisboa. Quando a via se encontra em grande parte desimpedida e são moderadas as cores reflectidas nos prédios espelhados que por ali abundam, percorrer o trecho que passa por cima de Sete Rios torna-se uma experiência – de mais intenso efeito, se o estado de espírito matinal se encontrar algures entre a embriaguez da noite anterior e a ressaca preanunciada pelo dia que abre.

E assim acontece também com Ensemble: revela-se mais esplendorosamente quando, em instantes decisivos, alinha em diagonal perfeita a sua electrónica de progressão sonâmbula, orgânicas poeticamente suspensas à imagem dos objectos na capa e vozes que dispensam apresentações, mas requerem todo a estima indie de que é capaz o mundo. Refiro-me, pois, ao poder felino de Chan Marshall e ao maduro charme caseiro que oferece Lou Barlow. Sob o risco de ver o seu nome ensombrado pelos de quem convidou a participar, Ensemble é criação exclusiva do francês Olivier Hardy que conta já com asterisco que o acompanhará até a um hipotético quinto disco: co-escreveu com Björk “Desired Constellation”, parte de um Medulla que ainda assombra algumas nucas, e remisturou “Triumph of the Heart” do mesmo disco.

Os vestígios da aliança mantida com a islandesa encontram-se bem distribuídos pelo segundo disco de Ensemble, mas são apenas perceptíveis quando efectuada uma comparação directa. Ninguém diria, de antemão, que este é um protegido da diva escandinava (sem haver algum problema nisso, como comprovam os Matmos). Dedicando igual cuidado a cada um dos ingredientes combinados, Ensemble procura atrair até um epicentro delico-doce as quantidades certas de electrónica vespertina (glitch com pijama de tecido angorá) e o brando acumular emocional que cumprem Lou Barlow e Chan Marshall (no seu melhor, em “Disown, Delete”). Sem armadilhas, as balizas “Summerstorm” e “Loose” compensam a falta de vozes mais célebres com picos que resultam em erupções elegantes muito semelhantes às que se escutam a Everything Ecstatic de Four Tet (esse que também era um ensaio sobre a radiância espiritual).

Alguma insuficiência de conteúdo (cinco faixas de corpo inteiro só a custo compõem um álbum) impossibilita Ensemble de um veredicto mais concreto. Na parcialidade do que de revela de mais substancial (as passagens que incluem vozes), Ensemble exibe clínica ponderação atribuída a tudo o que o torna amplamente paisagístico. Sobram argumentos suficientes para este ocupar a pole position entre os discos de eleição para acompanhar, um dia destes, o espectáculo natural que proporciona o lusco-fusco ao ser observado a partir do eixo norte-sul.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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