DISCOS
The Blow
Paper Television
· 28 Dez 2006 · 08:00 ·
The Blow
Paper Television
2006
K / Tomlab / Flur


Sítios oficiais:
- The Blow
- K
- Tomlab
- Flur
The Blow
Paper Television
2006
K / Tomlab / Flur


Sítios oficiais:
- The Blow
- K
- Tomlab
- Flur
Franjas sonhadoras e bloggers emocionalmente voláteis, uni-vos! Encontra-se activo o sinal televisivo do canal que, por magia, se adaptará a todos os cenários sentimentais possíveis.
A julgar pela tendência evidentemente electrónica que assumem os mais recentes discos da label K, dir-se-ia que o romantismo de armário típico da instituição sedeada em Olympia, Washington, dobra actualmente o cabo que separa a simplicidade própria de songwriter de um mais abrangente labor criativo que não se recusa, à partida, a explorar recursos além dos que engloba um eixo rock ou acústico. Contudo e se observada atentamente a elasticidade (e génio) das figuras que supostamente formam uma espécie de cânone que serve de tronco à actual K, é inevitável perceber que a libido dos Beat Happening não teria a mesma intensidade sem a repetição dos ritmos maquinais e primários, tal como a confessionalidade labiríntica de Phil Elvrum soaria demasiado estável se não sofresse imprevisíveis colapsos impostos pela estática e ruído. Ou seja, destaca-se a K por ser uma casa muito mais apostada a atingir fins com os seus discos, do que propriamente aplicada a uma obediência restritiva que espartilhe os seus meios.

Quase messiânicos no aproveitamento que fazem da frescura digital presentemente responsável pela revitalização da K, Khaela Maricich e Jona Bechtolt (apesar de tudo, membro secundário na dupla The Blow) incubem-se, com um optimismo característico das manhãs de sábado mais coloridas, de programarem fantasiosamente um canal de televisão (de papelão, como descreve o título) com dez curtas-metragens onde o único fio condutor é a pop esclarecida e imediatamente convincente (moucos são os ouvidos que não se rendam aos refrões de hinos de porte menor como “Pile of Gold” e “Fists Up”).

A partir dessa transversalidade suficiente à recomendação de Paper Television como valioso objecto de entretenimento, valem todo o tipo de oscilações: o dimensionamento do afecto que varia conforme o dócil temperamento de Khaela (esse que se camufla de doo-wop em “Parentheses” e adormece a boiar no mar cor-de-rosa de “True Affection”), a alternância operada por uma voz que, à vez, parece provocar à ginástica moderada da Rua Sésamo ou apelar a que se centrem no ventre os movimentos musculares, durante o desfile pomposo de uma “The Long List of Girls” que não seria a mesma sem a globalização do funk favela. Dominante, além da pop açucarada, todo um interminável aparato de programações electrónicas que marcam presença em Paper Television como nunca antes num disco de The Blow. A mudança, ao que parece, foi para melhor.

Não admira, pois, que Khaela Maricich seja potencial equivalente indie de Beyoncé Knowles e o seu companheiro Jona Bechtolt a resposta possível a Timbaland. Quanto a Paper Television, cumpre como disco capaz de alegrar as existências a todo o tipo de gente que dança como se ninguém as observasse. Acaba por ser esse o segredo de Paper Television, tal como da maioria dos discos da K (de todas as eras): multiplicar-se em digressões genuinamente pessoais como se essas não estivessem sujeitas a julgamentos externos. A sinceridade e tratamento engenhoso da mesma serve ainda para conquistar audiências.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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