DISCOS
Over the Atlantic
Junica
· 18 Dez 2006 · 08:00 ·
Over the Atlantic
Junica
2006
Carpark / Sabotage


Sítios oficiais:
- Carpark
- Sabotage
Over the Atlantic
Junica
2006
Carpark / Sabotage


Sítios oficiais:
- Carpark
- Sabotage
As semelhanças mantidas entre os Over the Atlantic e os Beach House são poucas e meramente triviais: ambos os projectos incluem apenas dois membros (especializados nos seus respectivos instrumentos), percorreram em conjunto a mesma digressão de Outono deste ano, o selo editorial Carpark é-lhes comum, assim como a fixação temática sobre o imaginário marítimo e a metodologia fiel ao lema “a partir de menos, faz-se mais”. Por sua vez, as semelhanças entre os autores de Junica e os Postal Service são demasiadas - tantas que superaram a vontade pessoal de evitar referir a dupla composta por Ben Gibbard e Jimmy Tamborello, que excessivas vezes surgem por estas linhas.

Após a escuta do debute da dupla neo-zelandesa, Junica, torna-se realmente inevitável pensar num cenário actual dividido em duas eras – uma prévia e outra póstuma ao surgimento dos Postal Service em grande plano com Give Up. A garantia disso afirma-se desde logo numa “Glass Break” que se circunscreve ao que de mais derivativo podem produzir os dois membros de Over the Atlantic, Bevan Smith e Nik Brikman: um combinado pop de guitarras, oscilantes entre calmaria e rasgos mais declaradamente enérgicos, e uma drum machine automatizada que, por vezes, cede espaço a outros apontamentos de electrónica igualmente simétrica. Depois, as suspeitas confirmam-se com a persistência de “Heart Land” no termo “silhouette” (associável aos Postal Service) e com a sensação de levitação que proporciona “Fly to the States”. Fosse necessário retroceder um pouco mais no tempo, e muito facilmente se atribuiria a paternalidade estilística dos Over the Atlantic a uns New Order ou Pet Shop Boys – adocicados e simplificados por uma ingenuidade muito própria do indie caseiro. Apesar da previsibilidade imposta pelas algemas que o agrilhoam às suas musas, Junica acende a chama a algumas ideias que anexa às requisitadas e obtém magia química suficiente à combustão de “Kevin Shields”, em modo de shoegaze desenfreado e reclamante do enorme fosse que abre no disco assim que se impõe na dita faixa. O restante Junica derroca as suas porções mais frágeis sobre o orifício que forma uma guitarra trespassante. Sobra uma pérola e a sua graça compacta.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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