DISCOS
Leo Abrahams
Scene Memory
· 07 Dez 2006 · 08:00 ·
Leo Abrahams
Scene Memory
2006
Bip Hop / Materia Prima
Sítios oficiais:
- Leo Abrahams
- Materia Prima
Scene Memory
2006
Bip Hop / Materia Prima
Sítios oficiais:
- Leo Abrahams
- Materia Prima
Leo Abrahams
Scene Memory
2006
Bip Hop / Materia Prima
Sítios oficiais:
- Leo Abrahams
- Materia Prima
Scene Memory
2006
Bip Hop / Materia Prima
Sítios oficiais:
- Leo Abrahams
- Materia Prima
Segundo disco de esteta da guitarra denuncia terceiro vértice num triângulo de compositores afectos ao realizador Steven Soderbergh.
Provavelmente sem manter consciência disso, o emergente guitarrista Leo Abrahams pode bem personificar a “ponte oculta” entre dois compositores preferencialmente adoptados pelo realizador Steven Soderbergh: o mais vago e tendenciosamente estratosférico Cliff Martinez e um muito mais assumidamente cool e térreo David Holmes, a que, de imediato, se reconhece o talento para aveludar e preencher - com pinta lounge - o espaço sonoro que sobra após soar a voz de George Clooney na série de ciladas iniciada em Ocean’s Eleven ou no revelador Out of Sight – Romance Perigoso (?). Por esta altura, já não sobram duvidas quanto ao bom gosto de Soderbergh na selecção dos nomes a quem confia a composição das bandas-sonoras dos seus filmes. Acontece que, depois do estelar trabalho feito em Solaris, Cliff Martinez deixou de ser o compositor fetiche reincidente – talvez por causa da fama e inflação adquirida – e a vaga acabou preenchida por David Holmes. Com essa alteração, dissiparam-se as invisíveis evocações, definiram-se alegorias até aqui mais abstractas, simplificaram-se os códigos próprios do cinema - contribuindo também para isso o muito mais universalmente aceite factor Ocean, explorado, num passado recente, pelo senhor que transpôs Traffic do pequeno para o grande ecrã.
O pretexto presente, porém, visa Leo Abrahams, a que importa descobrir a localização na linha cronológica que separa Cliff Martinez de David Holmes. Assim sendo, não será necessário recuar a um ano anterior a 2000, que conheceu um pequeno milagre de estética aplicada com a banda-sonora de Traffic, em grande parte elaborada a partir de guitarra e apurada noção de ambient como agente de imparcialidade. Apesar de apontado a um flagelo socialmente transversal como é o da droga, Traffic havia sido composto de uma forma muito mais flexível do que propriamente incriminadora face às partes envolvidas – Martinez isolara o dramatismo da influência de violinos ou pianos lacrimais e concedera às aplicações mais soltas da guitarra a oportunidade de tornar ambíguos os contextos antes de serem efectuados quaisquer juízos. Assim se passa com Leo Abrahams e este seu segundo Scene Memory, que promete ser o primeiro volume de uma série de Stories for Electric Guitar. Quando o próprio stories convida a que a imaginação se antecipe à informação adquirida por absorção mediática, sobra uma margem enorme aos sentidos que se aventurem por um disco que não oferece o quadro completo, mas sim a palete de cores para a pintura livre desse – e, isso, conferindo efeitos a uma guitarra filtrada em tempo real por laptop e com o aproveitamento total do seu rasto tonal e ressonâncias gradualmente abafadas.
Atendendo a que são de tal forma perceptíveis as semelhanças entre o trabalho de Martinez e Abrahams, depreenderia-se que a continuidade da tal estética vaga na filmografia de Soderbergh fosse assegurada de alguma forma. Nem por acaso, Leo Abrahams passou, com o início da era das ciladas Ocean, a integrar a equipa de instrumentistas angariada por David Holmes – colmatando o espaço pertencente ao que de mais subtil e refinado pode oferecer o subtexto sonoro de um filme onde os vilões acabam por ser os heróis (pela capacidade de ludibriarem o vilão maior). Leo Abrahams sabe exactamente como extrair à guitarra os sons que oferecem as pistas menos exactas. A haver um sentimento que predomine em Scene Memory, e esse será o da nostalgia e da batalha por essa travada com a amnésia incutida pelos anos. Nostalgia essa que se sente à sequência final de Traffic, em que o bom samaritano Javier Rodriguez (um inesquecível Benicio del Toro) vê a cumprida a sua vontade de ser iluminado o campo de basebol para os miúdos da sua localidade - enquanto se escuta a intemporal e indescritível “An Ending (Ascent)” de Brian Eno, que também contou com a guitarra de Leo Abrahams nos seus mais recentes discos (Drawn from Life e Another Day on Earth). Com mestres como estes, Leo Abrahams não pode estar enganado. Apenas quem o escuta corre esse saudável risco.
migarsenio@yahoo.com
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