DISCOS
Stuart A. Staples
Leaving Songs
· 02 Dez 2006 · 08:00 ·
Stuart A. Staples
Leaving Songs
2006
Beggars Banquet / Popstock Portugal!


Sítios oficiais:
- Stuart A. Staples
- Beggars Banquet
- Popstock Portugal!
Stuart A. Staples
Leaving Songs
2006
Beggars Banquet / Popstock Portugal!


Sítios oficiais:
- Stuart A. Staples
- Beggars Banquet
- Popstock Portugal!
A amargura veiculada pelas canções não esconde que, musicalmente, todos os dias de Staples sejam dias sim.
A categorização dos músicos pode obedecer a muitos critérios. Deixando por instantes de parte a produção sonora, podemos centrar a nossa atenção em diversos outros aspectos que alargam o nosso conhecimento do artista. Não amiúde, associamos a música a formas de vestir, balizadas pela onda do momento. Assim, podemos considerar duas categorias de músicos: os que procuram estar na moda ou criar um estilo que sirva o mesmo propósito, e os que pura e simplesmente ignoram ou desconsideram esse ponto. Para os primeiros, a moda é um elemento omnipresente e vital. Os palcos transformam-se em passerelles onde se exibem tendências e estilos e onde os músicos projectam a imagem ideal, o penteado, a fatiota. É uma fashion awareness que atrai todos quantos estão dispostos a delegar nesses músicos a escolha do seu estilo "próprio". A outra categoria contempla aqueles que contornam a efemeridade das Converse All Star e afins e prosseguem a sua realidade intocável envergando o mesmo de sempre. Stuart Staples pertence ao clube: veste os mesmos coletes que lhe conhecemos há anos e não se mostra definitivamente na moda. Ainda bem!

Por não ir em modas, a música que fabrica, quer nos Tindersticks quer a solo, tem também ultrapassado a efemeridade e almejado algum culto, se quisermos, mas fundamentalmente respeito. Leaving Songs surge-nos este ano como o sucessor de Lucky Dog Recordings, a estreia a solo lançada no ano passado. Confrontados com este registo, alguns ouvidos mais desatentos tenderão a conotá-lo como mais um trabalho dos Tindersticks, visto que as nuances na sonoridade não escondem que o produto final vive sobretudo da voz de Staples. E, a solo ou com a banda de sempre, a aceitação não difere em larga medida. Talvez se deva ressalvar, no entanto, o antecessor deste Leaving Songs, que demorou a ser digerido inclusivé pela comunidade de seguidores da banda responsável por Curtains e Simple Pleasures. Desta feita, e para ajudar a evitar esse risco, Staples voltou a usar o trunfo das colaborações, que tão bons frutos havia dado nos Tindersticks, à cabeça dos quais se situa "Travelling List", o magnífico dueto com Carla Torgerson dos Walkabouts. A recuperação desta prática beneficia a criação de uma ponte entre esse passado aclamado e um presente à espreita da mesma sorte.

Leaving Songs é contado em dez capítulos. Os cenários são já nossos conhecidos e integram percursos tortuosos, ao que se junta um emaranhado de melancolia e luminosidade subtil. Staples não esquece a fórmula que o acreditou. A primeira amostra é "Goodbye to Old Friends", uma manobra acústica de inserção no seu universo de resignação hipnótica. A partir daí, a história desenrola-se com base na associação de cordas com o piano (muito favorável à criação de épicos) e percussão. Aqui nada se sobrepõe, tudo reclama o seu espaço e se conjuga harmoniosamente em prol da canção. É claro que há momentos que se colam de forma mais imediata: a guitarra no refrão de "One More Time" poderá determinar um deles. De resto, e inevitavelmente, o destaque vai para "This Road is Long", em que partilha as vocalizações com Maria McKee e o soberbo "That Leaving Feeling" com Lhasa de Sela. E, por falar em leaving, o título do disco pretende representar, segundo o seu autor, o fim de algo e o começo de uma aventura desconhecida. Foi o mote perfeito para se iniciarem as especulações, a mais consistente das quais sugerindo o fim da banda que sempre liderou.

Apesar de, nos últimos tempos, o futuro dos Tindersticks se reger pela incerteza, Leaving Songs traz-nos um cheirinho do seu universo, contando inclusivé com as colaborações de Terry Edwards e Gina Foster, habitués do colectivo britânico. Aqui, contudo, e apesar de serem musicalmente irrepreensíveis os acompanhantes de suporte, a atenção recai em absoluto sobre o seu maestro. Não deixa de ser curioso que Staples tenha escolhido para capa do seu disco uma imagem do mítico lobo do mar, ele que é igualmente uma figura de proa com estatuto mitificado. Daí advém que a maioria das referências que lhe são feitas incorrem na recorrente previsibilidade, tratando-se de julgamentos invariavelmente abonatórios baseados num recheado trabalho que, se em determinadas alturas terá flanqueado a mediania, nunca roçou a mediocridade. Desta forma, qualquer abordagem a um produto da sua autoria tende a ser uma tarefa frustrante no que à crítica diz respeito. O resultado situa-se a meio caminho entre a redundância e a castração de juízos de valor díspares, pelo que a crítica nos transporta sempre para a reafirmação do seu valor.
Eugénia Azevedo
eugeniaazevedo@bodyspace.net

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