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Skream
Skream!
· 29 Nov 2006 · 08:00 ·
Skream
Skream!
2006
Tempa


Sítios oficiais:
- Tempa
Skream
Skream!
2006
Tempa


Sítios oficiais:
- Tempa
Iniciou-se cedo mas logo mostrou talento. Não será por fruto do acaso que é considerado o wonderboy do dubstep.
E uma vez mais o dubstep. Da obscuridade para a ribalta, o género tem-se revelado ao mundo como uma das mais interessantes tipologias a imergirem dos undergrounds londrinos. Figuras como Benga, Kode 9, Digital Mystik, Burial ou Skream passaram subitamente para a linha da frente e, como principais inovadores estéticos do dubstep, revelaram-se produtores hábeis capazes produzir algumas das mais estimulantes bizarrias sonoras contemporâneas. Certo que os primeiros a atingirem o estatuto de porta-estandarte – Burial e Kode 9 – foram também os primeiros a exporem um dubstep personalizado, desenhado para a mente e com carácter suficiente para atraírem algumas franjas de mercado que olhavam com alguma desconfiança, senão mesmo com algum desprezo, para uma série de putos de bairros suburbanos de Londres que brincavam ora com um bassliner 404 ou uma Playstation.

Um desses putos era e é Olli Jones. Conhecido agora mundialmente por Skream, Olli abandona aos 15 a escola católica que frequentava em Croydon e decide vender discos na Big Apple Record Shop. A vontade de viver da música já lá estava e, um pouco contra a vontade dos pais, decide enveredar pela produção. Depois de conhecer Benga decide levar a tarefa mais a sério e começa compulsivamente a experimentar sons no seu computador. O fascínio por uma sonoridade garage/2step obscura, minimal e hipnótica, onde o baixo, a transmitir informação em baixas frequências, entorpece mais o corpo do que propriamente o tímpano, leva Skream a insistir na fórmula que mais tarde viria a ser a base de “Midnight Request Line”, um dos temas mais influentes na divulgação do dubstep ao mundo.

Depois da experimentação e de investidas algo irregulares expostas nos dois volumes Skreamizm é agora a vez da afirmação em longa duração. E a única forma possível de elaborar trabalho, reunir o pertinente e posteriormente expô-lo como obra conceptual, como obra possuidora de coluna vertebral, é com a edição de um long play. Skream teve naturalmente de esperar pela conjuntura certa para o fazer. Mais, tinha de ter a certeza do que trazia ao mundo e de que forma. Skream! é o álbum de estreia e é também a confirmação de uma direcção que poucos teriam dúvidas que fosse diferente.

Ao contrário de Burial e Kode 9, Skream investe tempo no lado mais radioso do dubstep. Em vez de explorar o lado negro, o vórtice para onde converge toda luz e energia, o jovem Olli prefere expor a força do ritmo, a prepotência do sub-baixo e as melodias inspiradas no dub ou no ragga. E apesar de na primeira escuta tomarmos consciência que por aqui não existe o nervo conceptual de Memories of The Future ou a visão de um Burial, há no entanto um esforço de captar as atenções exteriores para o dubstep através da simpatia, através da descontracção daqueles que apenas pretendem uma noite variada, descongestionada, sem grandes pressões intelectuais. Simplesmente mover o corpo e a mente sem necessariamente ficar possuído pela repetitividade brutal e minimal que por exemplo caracteriza o álbum de estreia de Benga, editado este ano. Por aqui não haverá grandes dúvidas sobre o que deverá ser o futuro do dubstep. E a visão de Skream, apesar de curta, abre porta a outras experiências essenciais para a sobrevivência do género e, claro, do próprio Skream enquanto produtor. Não haverá grandes surpresas neste disco, muito menos labirintos enigmáticos ou ideias fortes que tombem os desprevenidos. Mas há alguma espontaneidade inocente de quem se esforçou para trazer á luz do dia um conjunto de temas desenhados para proporcionar prazer.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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