DISCOS
Venetian Snares
Hospitality
· 27 Nov 2006 · 08:00 ·
Venetian Snares
Hospitality
2006
Planet Mu
Sítios oficiais:
- Venetian Snares
- Planet Mu
Hospitality
2006
Planet Mu
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- Venetian Snares
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Venetian Snares
Hospitality
2006
Planet Mu
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Hospitality
2006
Planet Mu
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A suavização dramaticamente lógica do mais absurdo pico abrasivo atingido por Venetian Snares não o descaracteriza – apenas enriquece o seu espectro.
A ingenuidade costuma ser a vitima predilecta da torrente frenética de beats que, desde há muito, identifica o terrorista que conhecemos por Venetian Snares / Aaron Funk. Aquele que muito provavelmente será o mais incansável dos cirurgiões fieis ao drum n’ bass mais bélico e matematicamente indomesticável– o explosivo drill n’ bass, se se preferir -, propaga essa fé no género, entretanto desactualizado, com uma farta e calibrada produção a que pode até faltar alguma inovação, mas que nunca deixa de arrebatar e de caçar desprevenidos os tímpanos - tal é a imprevisibilidade das recorrentes armadilhas subversivas que Funk arma entre a vegetação digital de cada um dos seus trabalhos orientados (mesmo que vagamente) por um conceito.
Nesse âmbito, sofreram um valente abanão os limites do bom-senso com a afronta imposta por Nymphomatriarch, disco de duríssimo e asfixiante drill n’ bass elaborado a quatro mãos (e sabe-se lá que mais) com Hecate, a namorada de então, que agiu coomo cúmplice numa cilada a que Sade atribuiria cinco estrelas se ainda vivo: um tumultuoso núcleo nevrálgico de colisões rítmicas geradas a partir da samplagem exclusiva de sons captados à prática de sexo oral, anal e vaginal pelo inspirado casal aquando de uma digressão europeia (Paris jamais deixará de inspirar os amantes). Muito mais prático do que à partida possa parecer, Nymphomatriarch inspirava a pulsação sanguínea até níveis impropriamente clínicos, enquanto declarava – da forma mais carnalmente flagrante – a paixão de Venetian Snares pelo tratamento anatómico da sua matéria-prima. Entretanto o mago canadiano acumulou uma popularidade que vem a crescer de disco para disco (a menção feita por Jay Leno ao disco “amoroso” ajudou certamente) e suspeita-se que, entre os seus fãs, se descubra uma grossa fatia expectante dessa faceta mais afecta ao que de recôndito reserva o corpo humano. O mini-álbum Hospitality colmata a fome a todos esses e prova Aaron Funk como versátil mestre capaz de construir um cenário de telenovela tematicamente inspirada pela prática medicinal como contraponto a um obtuso extremo pornográfico. Como se este se tratasse de um disco para exibição em horário nobre, enquanto o outro emitiria em sinal codificado (por programações impossíveis de se seguir o rasto) a altas horas da madrugada.
Naturalmente, Hospitality revela-se muito mais amigável do que qualquer uma das violentações disparadas por Nymphomatriarch - exibindo preocupações orquestrais logo na primeira “Frictional Nevada”, que, além de ostentar um requinte melodioso raro e convincente, oferece o ponto de partida a uma perturbada narrativa que se mantém de pé durante as seis faixas. A partir daí, seria uma questão de tempo até o matreiro dramatismo televiso de Hospitality abrir as pernas à intervenção do característico drill n’ bass que tornou infame Venetian Snares – assim que “Beverly’s Potatoe Orchestra” oferece brecha susceptível à infiltração dos tais ritmos metamorfos, passa o mini-álbum a acumular nódulos e o aspecto dolente de quem sofreu a sova habitual de beats (des)alinhados em catadupa. E quem conhece bem o código de silêncio dos slasher movies, sabe que a marretada dói mais quando quebra um continuo som oco. Hospitality ocupa o lugar do estabelecimento clínico onde deu entrada um normalizado e sano drum n’bass, que de lá escapou mais doentio e vigoroso. Típico cenário Venetian Snares.
Miguel ArsénioNesse âmbito, sofreram um valente abanão os limites do bom-senso com a afronta imposta por Nymphomatriarch, disco de duríssimo e asfixiante drill n’ bass elaborado a quatro mãos (e sabe-se lá que mais) com Hecate, a namorada de então, que agiu coomo cúmplice numa cilada a que Sade atribuiria cinco estrelas se ainda vivo: um tumultuoso núcleo nevrálgico de colisões rítmicas geradas a partir da samplagem exclusiva de sons captados à prática de sexo oral, anal e vaginal pelo inspirado casal aquando de uma digressão europeia (Paris jamais deixará de inspirar os amantes). Muito mais prático do que à partida possa parecer, Nymphomatriarch inspirava a pulsação sanguínea até níveis impropriamente clínicos, enquanto declarava – da forma mais carnalmente flagrante – a paixão de Venetian Snares pelo tratamento anatómico da sua matéria-prima. Entretanto o mago canadiano acumulou uma popularidade que vem a crescer de disco para disco (a menção feita por Jay Leno ao disco “amoroso” ajudou certamente) e suspeita-se que, entre os seus fãs, se descubra uma grossa fatia expectante dessa faceta mais afecta ao que de recôndito reserva o corpo humano. O mini-álbum Hospitality colmata a fome a todos esses e prova Aaron Funk como versátil mestre capaz de construir um cenário de telenovela tematicamente inspirada pela prática medicinal como contraponto a um obtuso extremo pornográfico. Como se este se tratasse de um disco para exibição em horário nobre, enquanto o outro emitiria em sinal codificado (por programações impossíveis de se seguir o rasto) a altas horas da madrugada.
Naturalmente, Hospitality revela-se muito mais amigável do que qualquer uma das violentações disparadas por Nymphomatriarch - exibindo preocupações orquestrais logo na primeira “Frictional Nevada”, que, além de ostentar um requinte melodioso raro e convincente, oferece o ponto de partida a uma perturbada narrativa que se mantém de pé durante as seis faixas. A partir daí, seria uma questão de tempo até o matreiro dramatismo televiso de Hospitality abrir as pernas à intervenção do característico drill n’ bass que tornou infame Venetian Snares – assim que “Beverly’s Potatoe Orchestra” oferece brecha susceptível à infiltração dos tais ritmos metamorfos, passa o mini-álbum a acumular nódulos e o aspecto dolente de quem sofreu a sova habitual de beats (des)alinhados em catadupa. E quem conhece bem o código de silêncio dos slasher movies, sabe que a marretada dói mais quando quebra um continuo som oco. Hospitality ocupa o lugar do estabelecimento clínico onde deu entrada um normalizado e sano drum n’bass, que de lá escapou mais doentio e vigoroso. Típico cenário Venetian Snares.
migarsenio@yahoo.com
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