DISCOS
Robb Scott
Afro Odyssey
· 21 Nov 2006 · 08:00 ·
Robb Scott
Afro Odyssey
2006
Sunshine Enterprises


Sítios oficiais:
- Sunshine Enterprises
Robb Scott
Afro Odyssey
2006
Sunshine Enterprises


Sítios oficiais:
- Sunshine Enterprises
Uma viagem pragmática e pouco ousada à memória de África transforma toda a acção num momento fastiado e sem cor.
Todas as grandes odisseias levam o seu tempo. Pesquisar a complexa e longa matriz musical africana, captar o seu espírito, interiorizar todos os antípodas culturais e, num golpe de magnificência, expressar toda a sabedoria ancestral é tarefa que a poucos pode ser confiada. Um dos requisitos será sempre a forma como toda a informação genética é analisada e processada mas essencialmente como alma reage a todo um espólio histórico rico em sofrimento. A dor foi desde sempre uma presença nos sentidos plangentes de um povo descriminado pela cor da pele, pela forma como se relacionava com a natureza e pelos rituais incompreendidos por culturas paladinas da civilização dita moderna e evoluída. A escravização e opressão de uma raça conduziram a braços de ferro irracionais onde intolerância, xenofobismo e racismo passaram a ser palavras demasiado fortes para serem ignoradas. Dos contastes e fricções – e tentativas de emancipação racial – acabou por nascer uma nova noção de dor interior. Uma nova forma, definitivamente mais sentida, de dar expressão a almas pesarosas. Concluímos então que a dor originou uma alvorada que culminou na definição toda a música contemporânea moderna: do blues ao jazz, da soul ao hip-hop.

Depois da edição do EP Fallin´ em 2003 e dos típicos entusiasmos de quem encontra na soul e jazz o repasto para a alma, Robb Scott recolheu-se temporariamente e decidiu deitar mãos ao trabalho e, num momento de arrojado sentido de responsabilidade, erguer uma odisseia africana. Como em qualquer viagem, recheada de aventuras e dificuldades, havia o risco iminente de tudo terminar bem ou simplesmente acabar num fracasso onde prazer rimasse com amargura. Afro Odyssey acaba por encaixar-se na última possibilidade: um percurso extenso, sinuoso e custoso e com poucos momentos de prazer.

A ambição do título poderia sugerir a vontade convicta de quem realizou profundo trabalho de investigação. Na verdade a expectativa acaba por sair defraudada e a desilusão uma realidade fria o suficiente para ser calculada. Para além dos evidentes talentos vocais de Jill Jones, Theasha Faison ou de Ellen McIlwaine, que acrescentam a cor necessária ao resto da peça, Robb Scott, com origem no Harlem, Nova Iorque, nada mais evidencia senão um absoluto pragmatismo broken-beat em piloto automático – para não dizer forçado, sintético e quadrado – que em nenhum momento deveria ter saído das máquinas que os originaram. As vozes, mais espontâneas, parecem ser as únicas a esforçarem-se a na concretização da premissa estipulada pelo autor e produtor. O sincretismo, que muito graças á tecnologia têm alegrado outras almas mais inspiradas, parece um cerdo espetado na perna do viajante. Em vez de Robb Scott soltar as tipologias, deixa-las interagirem, integrarem-se e criarem um ambiente onde a festividade, somada a doces contradições, seja possuída por almas em busca do avito, o produtor acaba por repreender os excessos naturais, limitando a acção a um quadrado. Tudo podia ser melhor mas não o é. Simplesmente o pragmatismo excessivo governa uma viagem que podia mais aventureira.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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