DISCOS
Langoth
Grounding
· 14 Nov 2006 · 08:00 ·
Langoth
Grounding
2006
Sunshine Enterprises


Sítios oficiais:
- Sunshine Enterprises
Langoth
Grounding
2006
Sunshine Enterprises


Sítios oficiais:
- Sunshine Enterprises
Não será a confirmação definitiva mas é um passo seguro para a possível reabilitação do som de Viena.
Viena ainda parece estar a recuperar da crise. A falta de objectividade e alguma desorientação estética, aliada a um refrear criativo das principais mentes, atiraram a música austríaca nos últimos tempos para um marasmo onde nem o sol se põe nem a alvorada soa. Os Tosca provaram que, depois de Suzuki (2001), não acrescentaram nenhuma mais-valia ao reportório. Os Madrid De Los Austrias, que em busca de mais amor atormentaram-nos a alma em 2005, decidiram em comum acordo a união de facto com Dorfmeister e mais uma série de outras personagens que lançaram escavadelas em busca de mais minhocas, provaram definitivamente que o toldar da visão de escape eloquente com uma razão pragmática jamais seria solução para um beco sem saída. Kruder afastou-se de Viena e preferiu parcerias em Munique, Stereotyp encontrou em 2004 nos Al-Haca o estímulo para produzir – e agora na soul a vontade de viver –, o Dub Club diminuiu o seu domínio sobre o dub. Raras foram as excepções que, de aos quatro anos para cá, evidenciaram substância na produção ou criação musical com matéria de estudo suficiente para captar as atenções dos melhores – e mais atentos – alunos.

Michael Langoth editou em 2004 o seu primeiro álbum. Sentimental Cooking foi um dos discos saídos dos laboratórios vienenses que passou despercebido a muitos e que se encaixava na definição alternativa dos downtempo tipicamente Kruder & Dormeister que caracterizavam na altura a cidade banhada pelo Danúbio. Apesar de revelar algum encanto pelos ritmos desacelerados, os embalos jazzisticos e pelos efeitos narcóticos dos dub (em pequena escala), Langoth sonhava com a soul, descomprometida e em busca de novos prazeres. Acrescentando alguns delírios electrónicos eloquentes redefinia à sua maneira a sua própria paisagem no interior do género. Nem em todos momentos o conseguiu de forma evidente, mas a vontade estava lá. Volvidos três anos edita o seu segundo álbum e, apesar de não se afastar significativamente dos pressupostos iniciais, volta-nos a conquistar a atenção, obrigando-nos, no fim de umas quantas escutas, a um elogio, não muito grande, mas um elogio expressivo. Um indicativo de um resultado satisfatório que revela a mesma alma e vontade em escrever com sentido.

Grounding demonstra essencialmente uma música produzida para agradar exclusivamente ao seu autor, ignorando o resultado do impacto num mundo exterior. Não será obrigatório agradar a massas. Antes pelo contrário. O segredo continua a estar na forma como a verdade interior é catapultada para a música e nela integrada o que de melhor sentimos da vida. Por aqui encontramos o gosto pela descoberta de novas ideias, apesar de inovação nem sempre ser um carácter em manifestação. Langoth alarga definitivamente o espectro da sua música á pop e, sentindo-se simultaneamente atraído pela soul com traços mais europeus, renova-se com a espontaneidade necessária. Não atinge todos os patamares com a uniformização exigida, mas o importante será constatar a coerência mínima com que nos confronta num período onde este tipo de sonoridade, num evidente namoro com linguagens jazz, hip-hop, soul e pop, pouco tem revelado senão a preguiça sabática de quem um dia sentou-se no sofá e dele ainda não quis sair.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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