DISCOS
James Figurine
Mistake Mistake Mistake Mistake
· 06 Nov 2006 · 08:00 ·
James Figurine
Mistake Mistake Mistake Mistake
2006
Monika Enterprise / Flur


Sítios oficiais:
- James Figurine
- Monika Enterprise
- Flur
James Figurine
Mistake Mistake Mistake Mistake
2006
Monika Enterprise / Flur


Sítios oficiais:
- James Figurine
- Monika Enterprise
- Flur
Compasso de espera manipulado pela metade dos Postal Service Jimmy Tamborello cumpre escala num muito positivo combinado de techno e magnífica pop.
Não representa segredo para ninguém a constatação já surgida por aqui numa introdução semelhante a esta: a cada novo disco merecedor dos talentos individuais de Ben Gibbard e Jimmy Tamborello, estoiram mais uns quantos mil fusíveis espalhados pela paciência colectiva de quem espera e desespera por sucessor de Give Up dos Postal Service, projecto que une os dois suspeitos mencionados. Esse primeiro e único longa-duração que soma já quase quatro anos de expectativas e um peso semelhante ao igualmente hipotético próximo disco dos Portishead. Transcende quaisquer limitações culturais a angústia que provoca a espera por um carteiro que traga boas notícias e a dúvida, neste caso, é se os Postal Service nunca foram, afinal, mais que um dos imensos projectos secundários de ambos.

E isto porque, ao leme dos Figurine, Jimmy Tamborello conta com um volume de trabalho muito mais substancial – se bem que menos popular e apreciado – do que aquele que cultivou nos Service ou DNTEL. Desta vez, optou por acrescentar o James (bem perto de Jimmy) para frisar o cariz individual – perante uns Figurine que eram um trio – deste Mistake Mistake Mistake Mistake que se Europeíza espontaneamente ao aliar a criatividade do seu mentor à de um John Tejada cujo nome praticamente basta para simbolizar a gestação prolongada de um techno mais intimista e juvenilmente romantizado à imagem das mais cosmopolitas cidades do velho continente.

Contudo, a parceria mantida com John Tejada – polivalente na concepção do disco - e o luxuoso rol de vocalistas convidados (um recorrente Erlend Øye e Jenny Lewis) surgiram numa fase póstuma à plantação das sementes, que se materializaram durante uma digressão por território alemão partilhada por Tamborello em modo DNTEL e os Lali Puna, que merecem a simpatia e estima quase consensual do Bodyspace. Segundo consta (de press-release respeitante ao disco), bastaram alguns discos da influente label Kompakt no rádio e as auto-estradas germânicas (as famosíssimas Auto-Bahns) para que Jimmy Tamborello se decidisse dedicar a um disco que explorasse as capacidades mais melódicas e minimalistas do techno típico da pátria de David Hasselhoff. O factor anómalo – e principal motivo de interesse do presente disco – reside na inevitável ascensão à superfície dos genes mais pop que conserva Tamborello no seu código musical. Os dígitos que compõem o número de telefone a James Figurine têm por indicativo o techno caracteristicamente alemão e por número de destino toda a amplitude cativante que é capaz de gerar uma pop que é elevada ao estado de arte a cada vez que Jimmy Tamborello dá corda à sua cornucópia funcionalmente talhada para debitar sólidos hinos de armário.

O quarto disco da entidade Figurine vai mais longe e obriga uma mais acanhada faceta fantasiosa a arriscar a sua sorte na pista de dança imaginária, que é palpável durante dez momentos que se alongam sempre acima dos cinco minutos – tempo mais que suficiente para adquirir alguma margem progressiva um techno que da repetição faz limado detalhe, da limitação de elementos faz imaginativas programações e dum ponto de partida berlinense o pretexto turístico ideal para visitas pontuais a um mais perceptível charme francófono Daft Punkiano (“Apologies” dissipa as fronteiras unitárias). Tal como demonstra a penitência repetida no seu próprio título, Mistake Mistake Mistake Mistake encontra-se perfeitamente ciente da sua caprichosa natureza hedonística – em termos de dedicação ao techno mais lúdico – e, a partir da premissa que tem por inicial, sabe exactamente que vias tomar ao seu labirinto de referências para garantir um maior agrado. Enquanto não toca duas vezes o carteiro, os românticos de armário mais noctívagos contam por aqui com muito com que se entreter.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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