DISCOS
Spanky Wilson & Quantic Soul Orchestra
I’am Thankful
· 18 Out 2006 · 08:00 ·
Spanky Wilson & Quantic Soul Orchestra
I’am Thankful
2006
Tru Thoughts


Sítios oficiais:
- Spanky Wilson & Quantic Soul Orchestra
- Tru Thoughts
Spanky Wilson & Quantic Soul Orchestra
I’am Thankful
2006
Tru Thoughts


Sítios oficiais:
- Spanky Wilson & Quantic Soul Orchestra
- Tru Thoughts
Eis um caso pontual onde o encontro de gerações gera mais-valia estética.
Porque na história da música em geral ainda rezam alguns feitos de outrora, haverá poucas figuras históricas hoje em dia que necessitarão de grandes introduções formais. Spanky Wilson ainda é uma lenda viva, ainda inspira novas gerações e ainda é capaz de contribuir para o aperfeiçoamento de alguma música produzida actualmente. Ela colaborou com alguns dos mais importantes nomes ligados à soul, jazz e blues dos anos 60 e 70 e a sua presença ao lado de digníssimos como Marvin Gaye, Sammy Davis Jr., Lalo Schifrin, Jimmy Smith, The Duke Ellington Orchestra, Pretty Purdie ou Willie Bobo não passaram despercebidos aos anais da história e, mesmo vivendo hoje em dia uma vida recatada entre Paris e Los Angles e admitindo que o seu tempo já lá vai, ainda entusiasma uma série de jovens músicos, produtores e DJ que, fartos da programação do sampler, passaram a olhar para os clássicos de outra forma e a erguer a sua música com outra dinâmica. É o caso evidente do Sr. Will 'Quantic' Holland que não esconde – nem nunca escondeu – as suas referências, ou heróis de adolescente, nomeadamente Spanky Wilson. Não se estranhe por isso que da boca de Spanky tenha saído recentemente um comentário a revelar algum espanto: “I was shocked by this new found interest from new young folks in me”.

O sentimento de admiração de Will levou-o em 2003 a convidar a diva a colaborar em “Dont Joke With a Hungry Man” incluído em Mishaps Happening. Com a certeza que o curto contacto foi um sucesso, esse mesmo sentimento impeliu-o a convidar a senhora uma vez mais. Na mente de Holland estava num trabalho de longa duração. Depois de um momento menos feliz este ano – coma a edição de An Announcement To Answer – Quantic, acompanhado agora pela sua Quantic Soul Orchestra, volta a revelar o talento que tem para a composição, mas especialmente para a forma engenhosa como consegue captar o espírito de outros tempos e enquadrar tudo numa matriz contemporânea. Com o melhor de dois mundos acaba por edificar o seu próprio universo sonoro onde diversas tipologias fazem sentido num único momento. Do choque de gerações é possível extrair-se a mais-valia que acaba por enriquecer não só a música mas a arte em geral. E Quantic sabe disso, daí que a sua habilidade aliada à escrita criativa tenha sido já amplamente reconhecida e hoje admirada por muitos.

Em I’am Thankful, Spanky entrega-se de corpo e alma a toda a música e expõe uma voz segura e de tom portentoso – e que voz esta senhora ainda possui – enquanto Will recorre a todos os seus conhecimentos do velho filão soul, jazz e funk, tentando assegurar-se que todos os momentos são arrebatadoramente eficazes. Este álbum inclui na sua matriz todos os elementos que, jogados e integrados no tempo e espaço certos, permite concluir que toda a operação é um sucesso encantador onde tradição colide com modernidade. Não se estranhe por isso que Will e companhia ainda estejam na linha da frente de uma linguagem funk de inteligência rara. Muitos poderão achar que a fórmula, além de datada, estará esgotada mas depois de ouvir I’am Thankful é pouco provável que todo o dinamismo live de Spanky e do conjunto liderado por Will Holland, não seja alvo de aplausos, mesmo dos mais cépticos, porque além de um encontro histórico entre duas gerações é mais um marco – como foi Sharon Jones & The Dap Kings e Lefties Soul Connection há pouco tempo – na revitalização estética do género. Já só falta James Brown juntar-se aos Breakestra para o quadro estar completo.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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