DISCOS
Plan B
Who Needs Actions When You Got Words
· 30 Set 2006 · 08:00 ·
Plan B
Who Needs Actions When You Got Words
2006
679


Sítios oficiais:
- Plan B
- 679
Plan B
Who Needs Actions When You Got Words
2006
679


Sítios oficiais:
- Plan B
- 679
A vontade e atitude corre-lhe nas veias, mas faltou-lhe arte e engenho para edificar um álbum sem que o conteúdo fosse arrebatado pela forma.
O amor, o sexo, a família, descriminações raciais e a violência urbana são tópicos habituais no hip-hop. Foi um dos propósitos por detrás da sua génese: proporcionar à gente da rua o direito a expressar-se, dando voz à sua indignação. Todos opinaram, falaram, cantaram ou bradam aos céus as mensagens que achavam pertinentes. E ainda hoje em dia o se faz, para que não haja dúvidas. O que resta saber ao certo é o motivo porque o fazem: será por uma questão de facilidade de comunicação com um público-alvo receptivo a determinadas mensagens ou será porque em todo discurso proverbial existe um conteúdo existencial com figuras e situações reais que perturbam a alma de todos? Será uma questão de fazer rap para o prestigio em vez do dialogo interior perante realidades cruéis? Tudo volta a ser uma questão de postura. Todos pretendem reflectir o estado das ruas desprezadas pela política ou as atitudes violentas ignoradas pela sociedade. É honroso faze-lo enquanto a verdade for uma necessidade do íntimo em vez do mero aproveitamento circunstancial.

No álbum de estreia, Plan B, de guitarra na mão, pregoa ao longo de uma hora, fala de tudo e de forma impressionante acaba por não falar de nada. No entanto fá-lo com a convicção de quem está a transmitir ao mundo – que o quer ouvir – uma mensagem pertinente. E será mesmo a convicção que o salva do desastre completo? Na veemência do palavreado expressa-se com força capaz de fazer parar o trânsito, no entanto existirá algumas dúvidas quanto ao conteúdo. Who Needs Actions When You Got Words revela de boa vontade que a atitude de pregador fica-lhe mal. A preconização excessiva retira-lhe alguma sensibilidade e em vez da mobilização do público com um conteúdo sensivo, impressiona apenas com a forma rude como tenta ser exageradamente incisivo.

A estrutura rítmica, em evidente textura hip-hop, revela-se competente ao ponto de suportar uma guitarra em acordes repetitivos e desinteressantes. Ben Drew – a cara por detrás de Plan B – revela-se assim um músico com poucos recursos técnicos na manipulação do instrumento. O dedilhar das cordas ficaria bem enquanto servisse como mais um elemento gerador de melodia e não um suporte evidente para toda a operação. Alem disso sobressai uma evidente contradição em Who Needs Actions When You Got Words, premeditada pelos vistos, ao tentar atribuir calor humano ao grime. Uma perversão de algo que por natureza nasceu frio e agreste e que seria perfeitamente adequado a suportar aquilo que Plan B desejaria para este disco: rudeza no ditado sobre texturas ásperas. Aí há que admitir: foi um tiro a sangue frio no próprio pé.

Há quem o tenha comparado como uma mistura entre Mike Skinner e Eminen, no entanto nem tem a atitude confiante de um nem a segurança na escrita de outro. Pode ter se inspirado com ambos, mas certo é que ainda não captou a essência necessária a tornar se num músico ou produtor proficiente com a determinação suficiente para sair do seu pequeno bairro de subúrbio e revelar-se como mensageiro de alguma boa-nova. Por enquanto fica-se por um mero pregador de pedras na mão com um recado frágil e delgado.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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