DISCOS
Terrestrial Tones
Dead Drunk
· 22 Set 2006 · 08:00 ·
Terrestrial Tones
Dead Drunk
2006
Paw Tracks


Sítios oficiais:
- Paw Tracks
Terrestrial Tones
Dead Drunk
2006
Paw Tracks


Sítios oficiais:
- Paw Tracks
Terceiro capitulo do duo Eric Copeland (Black Dice) e Dave Portner (Animal Collective). De Paris para o mundo e além. Faixas de garra.
Paris. Verão de 2005. Eric Copeland (Black Dice) e Dave Portner (Animal Collective), companheiros de quarto num apartamento da capital francesa, inspirados pelos flea markets (tradução livre para feira da ladra), criam sete peças musicais que partem de Paris para os cantos da Terra. E não só. Dead Drunk, o terceiro registo assinado pelos Terrestrial Tones, é um cabaret a ser invadido por todo o tipo de personagens electrónicas vindas de outros mundos. É um disco que busca os cheiros das ruas, as cores das paredes, o óleo dos motores e as peças dos robôs, o cheiro das frutas e das verduras frescas e a ferrugem dos metais. Aparentemente Eric Copeland e Dave Portner passaram muito tempo em Paris à volta de discos esquecidos de Europop e maquinaria electrónica da era soviética.

A melodia em repeat que irrompe logo no inicio de Dead Drunk em “Car Fumes” parece querer indicar algo. O inicio de uma experiência ou o reflectir de uma prova. Depois chegam interferências que levam imediatamente o tema para outras frequências. Parece sugerir um futurismo onde nem sempre há espaço para revivalismos de todas as espécies. O segundo tema aplica a repetitividade como padrão salutar; “The Sailor” é uma trip electrónica circular a receber vozes – as tais de outro mundo. Estes dois exemplos são a prova evidente que os Terrestrial Tones conceberam este Dead Drunk como um disco com principio, meio e fim, com um seguimento lógico e fluido, ao contrário das experiências anteriores.

Os elementos repetitivos continuam logo em “Plowman”, rotunda sonora electrónica onde se escutam aquilo que parecem ser cânticos resgatando algum tradicionalismo por entre o ruído. A circularidade fica-lhes também. E a exploração do ruído igualmente. É que tal como acontecia nos outros discos, também em Dead Drunk se nota mais a influência dos Black Dice do que dos Animal Collective. “Magic Trick” é apenas tempo para situar o disco no espaço e no tempo, mas que nem por isso serviu para evitar a perda de direcção que “Future Train” indicia. Ao longo de quatro minutos (e sete segundos), o penúltimo tema não enriquece especialmente Dead Drunk; antes, danifica-o um pouco nas suas intenções.

Felizmente há “This Weekend Now” a repor a imagem logo no final; a imagem daquele que é provavelmente o disco melhor conseguido da dupla Terrestrial Tones. “This Weekend Now” vê os Terrestrial Tones a afastarem-se cada vez mais da Terra, colocando quase em causa o nome que decidiram colocar a si mesmos. Resta saber se pensam voltar ao planeta Terra. De qualquer das formas, Dead Drunk parece cada vez mais aquilo que se poderia esperar do encontro entre Eric Copeland e Dave Portner. Apesar das ambiências algo perturbadoras de alguns temas, Dead Drunk respira até um ar bastante saudável. Mesmo para quem está nas profundidades de Paris. Os Terrestrial Tones escavaram um túnel na cidade das luzes.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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