DISCOS
Radar Bros.
The Fallen Leaf Pages
· 13 Set 2006 · 08:00 ·
Radar Bros.
The Fallen Leaf Pages
2006
Chemikal Underground / Popstock!


Sítios oficiais:
- Radar Bros.
- Chemikal Underground
- Popstock!
Radar Bros.
The Fallen Leaf Pages
2006
Chemikal Underground / Popstock!


Sítios oficiais:
- Radar Bros.
- Chemikal Underground
- Popstock!
Potencial clássico (menor) cativa a novas audições muito gradualmente e garante a Jim Putman um posicionamento de destaque entre a concorrência da Merge.
Apesar do risco que corre de às primeiras escutas passar completamente despercebido, The Fallen Leaf Pages contém entranhadas todas as qualidades passíveis de serem associadas a um slow burner - estatuto habitualmente atribuído aos discos que conquistam gradualmente e não por embriaguez de amor à primeira vista. Isto porque apesar de não atacar por vias directas ou recorrendo a um arsenal de efeitos viciosos (não existem entre os aditivos evidências de riffs pegajosos ou refrões talhados para adopção instantânea), o quinto e sugestivamente comemorativo tomo discográfico a cargo dos Radar Bros. prima essencialmente por, à custa da força interior que move grande parte das suas canções, tornar indefinidas as fronteiras entre a dita Americana, abrangente estética indie e songwriting de acentuado travo clássico. Passam as três referências a contribuir em uníssono para que as The Fallen Leaf Pages sejam desfolhadas de forma vigorosa e não limitadas por dogmas impostos (“The Fish”, por exemplo, é um truta irrequieta que não conhece paternalidade exacta). Alinhado na cronologia do presente ano, junta-se muito confortavelmente a Last Night Becomes This Morning dos Swearing at Motorists como potencial motivo de arrependimento a longo prazo para quem lhe passar ao lado.

Não se julgue contudo que os Radar Bros. têm sido ignorados até aqui: And the Surrounding Moutains, lançado em 2002, havia já suscitado simpatias e marcado uma presença discreta nas listas de melhores desse ano. Para os que o aclamaram nessa altura, constitui certamente boa nova a confirmação de Jim Putman como abonado de identidade própria e merecedor de lugar cativo entre os escritores de canções que abundam como nata na casa-forte Merge (onde o disco foi originalmente lançado e a partir daí licenciado à Chemikal Underground). Jim Putman que é cada vez mais a ampliação dos seus mais ricos atributos: dinâmico ourives de assobios em coro e restante embalo instrumental cravados com preciosismo numa “Papillon” para transportar ao pescoço, ambicioso arquitecto de intimidades e confissões nostálgicas ao piano de “To Remember”. E isto sem nunca se deixar sufocar pela megalomania a que poderiam almejar os arranjos de quem, em juventude, não passaria muito tempo sem voltar a Harvest da referência Neil Young.

Imagine-se que a apreciação de The Fallen Leaf Pages se orienta pelo tempo que toma o ponteiro a cumprir as 24 horas de um dia, e pode-se dizer que será disco para madrugar entre alguma palha mais descartável da Merge e anoitecer entre aqueles gigantes a que se pronuncia o nome apenas quando o songwriting se insere na melhor colheita e desenvolve resistência à erosão dos anos. Não será leviana a repescagem de entidades como Brian Wilson ou Lennon para o estabelecimento de comparações a que Jim Putman bem pode aspirar num futuro próximo. Enquanto se aguarda por tal advento, é aconselhável folhear The Fallen Leaf Pages como um cancioneiro que se escreve por si próprio à medida que amadurece em mãos alheias.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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