DISCOS
Yellow Swans
Drift
· 01 Set 2006 · 08:00 ·
Yellow Swans
Drift
2006
Acuarela


Sítios oficiais:
- Yellow Swans
- Acuarela
Yellow Swans
Drift
2006
Acuarela


Sítios oficiais:
- Yellow Swans
- Acuarela
Duo californiano inventa caminho singular na cada vez mais populosa paisagem noise/avant. A nebulosidade drone convive com oásis de melodia.
O noise ou o avant-rock têm produzido, de há uns anos para cá, uma quantidade quase incalculável de edições, dispersas em discos convencionais, cassetes ou CD-R, por via da massificação das tecnologias de gravação de discos e da Internet, meio de divulgação teoricamente infinito. Mas a "democratização" traz um revés: a saturação e o esvaziamento da vitalidade de algo que se quer transgressor. É algo que temos visto acontecer com todos os movimentos culturais e que acontecerá, mais cedo ou mais tarde, à medida que comecem a nascer clones dos Wolf Eyes.

Não é o caso dos Yellow Swans, dupla de Oakland, Califórnia, Pete Swanson (voz, electrónica e caixa de ritmos) e Gabriel Mindel Soloman (guitarra e electrónica). Neste EP, assinam um disco menos bombástico e dissonante que Psychic Secession, também deste ano, mas que apresenta múltiplas vias sem se afastar da estética noise/drone.

Os primeiros instantes da faixa inicial dizem ao que viemos: a estática convive com uma guitarra solitária a respirar ruído. A música evolui a partir dos detritos que vai produzindo, como um caudal poluído que encanta pela fealdade. A segunda peça abre com uma onda compacta de som à LaMonte Young de onde desponta uma melodia emitida por um órgão ou coisa parecida, manipulada até se transformar num afago circular. A paz dura pouco: entra um ritmo insidioso e rasteiro, a criar tensão e a suportar acontecimentos sonoros dispersos (vozes em choro, ruídos).

A viagem termina no nebuloso terceiro tema, o mais longo do EP. A melodia de guitarra quase shoegazer no meio do hiss e da estática é sinal da postura criativa dos Yellow Swans, que não caem nos lugares comuns do género - só no crescendo final mergulham totalmente no ruído, sem descurar sempre a construção de várias camadas, uma das características mais valiosas de Drift.
Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com

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