DISCOS
Atone
Un An
· 01 Ago 2006 · 08:00 ·
Atone
Un An
2006
Autres Directions / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Atone
- Autres Directions
- AnAnAnA
Atone
Un An
2006
Autres Directions / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Atone
- Autres Directions
- AnAnAnA
No espaço de um ano tudo pode acontecer, tudo pode permanecer exactamente igual. No caso do francês Antoine Monzonis-Calvet, um ano é justamente o tempo necessário para criar um disco que resolveu precisamente apelidar de Un An, sem mais nem menos. O nome pode não soar imediatamente aos ouvidos ou aos olhos de todos mas Antoine Monzonis-Calvet é membro activo da cena electrónica/pós-rock francesa já lá vão dez anos. Nesse espaço de tempo este multi-instrumentalista francês colaborou com vários projectos, mas este Atone é descrito como sendo o seu trabalho mais pessoal até hoje. Un an parece ser a resposta lógica e ampliada do EP Un Jour, lançamento de cinco temas editado pela mesma Autres Directions in Music na Primavera de 2004. Uma resposta de calendário, portanto.

Apesar de ser um disco instrumental, Un an é supostamente um disco onde cada faixa reflecte um determinado evento da vida de Antoine Monzonis-Calvet, o que nos deixa a legitimidade de pensar que a sua vida além de melancólica tem sido até aos dias de hoje calma e harmoniosa. Estas conclusões advêm do facto das doze composições que compõem este Un an se desenrolarem precisamente como um dia iluminado por alguma razão especial. Um piano, um acordeão, percussão, melódica são aqui os mecanismos postos em marcha por Antoine Monzonis-Calvet para transpor para disco o mais fielmente possível a luz desses dias especiais. A linha dos dias e o fio das horas são aqui conseguidos com texturas por vezes tão gentis que confundem com frágeis. A base é seguramente electrónica, fielmente digital. Talvez como resultado disso, Un an é acima de tudo um disco visual, visualizável. Um pouco como é o primeiro disco da francesa Colleen, Everyone alive wants answers, belo alicerce electrónico para absorção de instrumentos vários.

Depois dos momentos iniciais essencialmente planos e atmosféricos, o ritmo dá ares da sua graça em temas como “Cordes” e “Résonance”. E fazem-no bem, no instante exacto em que se começava a ver que Un an, se continuasse assim até ao final, seria uma boa hipótese para ainda outro EP, deixando para um possível Une décade, aí sim, uma boa altura para um verdadeiro disco em volta da temática Un quelque chose com a eficácia desejada. Feitas as contas no final são quase tantas as construções onde o ritmo espreita como aquelas em que fica de fora, um acordo possível e apreciável. Um acordo feliz. O ritmo faz com que se possa ver as paisagens de Antoine Monzonis-Calvet com outros olhos, com olhos renovados. Um dos melhores exemplos dessa reunião é “Rupture”, exercício melódico a fazer lembrar Four Tet ou Ulrich Schnauss, muito provavelmente a peça central do disco.

Ausência de espaço e de tempo, asfixia, intemporalidade, eternidade. Estes são alguns dos sintomas que a audição deste composto pode causar. Não são contra-indicações, mas sim sensações que podem ou não desaparecer depois do tratamento. Esta é a terapia de Antoine Monzonis-Calvet enquanto Atone. Terapia com duração de um ano, pessoal e transmissível. Utilizar sem ler o folheto informativo.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

Parceiros