DISCOS
The Lovekill
These Moments are Momentum
· 26 Jul 2006 · 08:00 ·
The Lovekill
These Moments are Momentum
2006
Eyeball Records Inc. / Astro Magnetics


Sítios oficiais:
- Eyeball Records Inc.
- Astro Magnetics
The Lovekill
These Moments are Momentum
2006
Eyeball Records Inc. / Astro Magnetics


Sítios oficiais:
- Eyeball Records Inc.
- Astro Magnetics
Tratou a história paralela do rock mais emotivo de tornar famoso o episódio da banda, que perante um beco sem saída, coloca a si mesma a questão: What would Fugazi do? (Que fariam os Fugazi (se se encontrassem na nossa situação)?). O caso repetia-se com o nome das Sleater-kinney no lugar dos Fugazi, se a banda fosse de militante orientação pró-feminina. Em qualquer um dos cenários, servia a resposta como orientação a quem procurasse – a nível ético e musical – encontrar as soluções mais adequadas para a carreira. Porém, é sabido que uma mesma solução mantém-se válida para apropriação até acusar saturação. A rectidão dos Fugazi inspirou de alguma forma os momentos altos dos Braid (em ambos os volumes do statement Movie Music), The Promise Ring (na gravação do seminal Nothing Feels Good) e ajudou sobretudo à maturação de uns Cursive que são evidentes camisola-amarela neste pelotão onde as baixas já são numerosas (o novo Happy Hollow reavaliará esse estatuto à banda da Saddle Creek). Os Fugazi que, com a imagem metalizada da tocha a trocar de mãos em The Argument, podiam até estar a insinuar que chegara a hora de passar o testemunho. Logo, torna-se lógico suspeitar que a questão que colocam as bandas actuais do género mais provavelmente será:What would Cursive do?. Os Lovekill não só procuram coordenadas a essa entidade, como aproveitam o entusiasmo de um ex-membro dos Cursive – Stephen Pedersen actualmente nos Criteria - para a produção calibrada e cromática deste These Moments are Momentum.

As premissas são as mesmas de tantas outros discos que à partida associaríamos a um EMO mais sofisticado: uma voz intensa votada a denunciar um desconforto pessoal espinhado, crescendos dramáticos, conjunturas de elementos musicais latejantes afectadas pela ameaça do desencanto, desalmada entrega tão espontânea quanto a respiração, o bom-senso de não repetir os mesmos lamentos de liceu que inundam discos inferiores a este. Assinalar positivamente estas características equivale a acumular qualidades e These Moments... fá-lo de forma constante – sem brecha que leve as suas dez faixas a derramar um pouco que seja de adrenalina-combustível. Vale-lhe uma produção – a cargo de Stephen Pedersen – que se ocupa de optimizar inteligentemente a colocação de riffs pouco imaginativos, preenche com ritmos tilintantes os espaços vazios e supera mesmo o nível alcançado em When we Break dos Criteria (que se suspeita ser o emprego a tempo inteiro do produtor em part-time). Vale-lhe também a faixa-tema que vence sobre as restantes com uma perspicácia comparável à de Daniel-san no golpe que lhe vale a glória em Karate Kid - é um trunfo orelhudo a ter em consideração.

These Moments are Momentum representa o primeiro longa-duração para os Lovekill, como podia ser um novo disco dos Challenger ou um passo atrás por parte dos Cursive. Não incomoda, tal como também nada acrescenta à fórmula que por esta altura conclui duas décadas de aperfeiçoamento ou lá perto. É agradável conhecer resultados a quem tem por modelo a seguir os Cursive ou, num âmbito mais recuado, os Fugazi. Os problemas só suceder-se-ão quando a primeira banda se atrever a colocar ao seu serviço a questão:What would My Chemical Romance do?. Aí sim, será o descalabro.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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