DISCOS
Anti Pop Consortium
Arrhythmia
· 03 Set 2002 · 08:00 ·
Anti Pop Consortium
Arrhythmia
2002
Warp


Sítios oficiais:
- Warp
Anti Pop Consortium
Arrhythmia
2002
Warp


Sítios oficiais:
- Warp
O facto de serem Anti Pop não reduz este trio de Nova Iorque à condição de simples contestatários de mensagens pseudo-revolucionárias. Pelo contrário, os Anti Pop Consortium são os testas-de-ferro do hip hop da Warp, editora mais conhecida pelos trabalhos de batidas experimentais e irregulares de Autechre e Aphex Twin. Precisamente, os ATP introduzem a experimentação e a descoberta num meio já saturado, indo de encontro a uma nova corrente no hip hop, de carácter fusionista (de que é simbólica, aliás, a sempre propalada influência do “génio louco” do free jazz, Sun Ra), juntamente com nomes como El-P, Kool Keith ou Cannibal Ox.

“Arrhythmia” é o quê, afinal? É hip hop e IDM, e mais importante do que isso, fruto da mistura de batidas frenéticas e “arrítmicas” – cardíaca, nalguns casos, trazendo desequilíbrios, sobressaltos, tensões – e samples inesperados e cortantes, das bolhas dos “Pop-Up Videos” do VH1 à construção de um tema inteira à volta do som de uma bola de ping-pong. Não falando nos coros pseudo-ópera introduzidos de forma sarcástica. No entanto, todos os sons introduzidos tem em comum, de forma generalizada, uma certa esterilidade e sintetização, numa abordagem “a la Warp” que perturba e desestabiliza o ouvinte. O universo dos ATP despreza qualquer conceito de “easy-listening”, sendo marcado por um certo cinismo mesmo em relação ao hip hip “habitual”.

Com “Bubblz” e “Ping Pong” a abrir o álbum, as características de músicos “entre o ghetto e o laptop” são vincadas nos samples “disco-sound” e nas vocalizações sarcásticas e frias, que se irão verificar ao longo de “Arrhythmia”. “Ping Pong” é bastante mais agressivo e próximo de um certo “Gansta Rap”, complementado pelo já referido som da bola de ping pong, que é o motivo principal. A faceta experimental continua com o sublime “Dead in Motion”, com uma batida contagiante que joga quer com o sub-bass quer com as rimas secas e marcadas.

Outro tema a destacar é o “uptempo” “Ghotlawns”, com um breakbeat sóbrio mas consequente e com os coros “Tonight, Alright” dissonantes, que servindo de refrão, desprezam de forma interessante qualquer tentativa de melodia.

“Arrhythmia” não é certamente tão revolucionário como pretende, mas consegue estabelecer uma ponte interessante entre o hip hop mais abstracto e a intelligent dance music, sem viver apenas de acrescentos de bleeps aos beats originais. É inventivo e cutting edge em alguns momentos. E é, infelizmente, o último registo dos Anti Pop Consortium, já que acabaram.
Nuno Cruz

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