DISCOS
Nuno Ferreira / Vasco Agostinho
À Espera do Verão / Fresco
· 24 Jul 2006 · 08:00 ·
Nuno Ferreira / Vasco Agostinho
À Espera do Verão / Fresco
2006
Tone of a Pitch


Sítios oficiais:
- Tone of a Pitch
Nuno Ferreira / Vasco Agostinho
À Espera do Verão / Fresco
2006
Tone of a Pitch


Sítios oficiais:
- Tone of a Pitch
O panorama geral do jazz em Portugal revela-nos um dado muito característico: a guitarra é o instrumento preferido dos jovens jazzmen nacionais. Talvez o principal motivo seja simples: os jovens aspirantes a músicos, na sua maioria fãs de rock, na ânsia de desenvolver o seu talento escolhem escolas de jazz (que são reconhecidamente bons pólos de formação musical) e a meio do caminho de formação deixam o rock de lado e decidem enveredar definitivamente pelo jazz. Poderá esta ser uma explicação, demasiado simplista e talvez nem sempre certa, mas uma tentativa de justificação para um facto particularmente português.

O leque de distintos guitarristas de jazz nacionais em actividade é vasto: Mário Delgado, Pedro Madaleno, André Fernandes, Miguel Martins, Afonso Pais, André Matos, Bruno Santos, Nuno Ferreira, Vasco Agostinho, entre outros. Entre discos e concertos, estes músicos têm demonstrado sempre grande dinamismo. Indício claro deste facto é a recente edição de dois discos de guitarristas portugueses por parte da editora Tone of a Pitch. O portuense Nuno Ferreira edita “À Espera do Verão” e Vasco Agostinho anuncia a edição de “Fresco”.

Em “À Espera do Verão” Nuno Ferreira lidera um quinteto que inclui, além da dulpa rítmica, saxofone e órgão. Ao lado de Ferreira, colaboram Bernardo Moreira (contrabaixo), Jesse Chandler (órgão e piano), John Ellis (saxfones tenor e soprano) e Bill Campbell (bateria). Esta gravação resultou de uma encomenda do Festival de Jazz do Porto tendo todas as músicas sido escritas pelo líder do projecto.

“Fresco” de Vasco Agostinho resulta da intervenção de um quarteto exclusivamente nacional. À guitarra de Agostinho juntam-se Jorge Reis (sax alto), Hugo Antunes (contrabaixo) e Bruno Pedroso (bateria). Aqui a maioria dos temas é original de Vasco Agostinho, com as excepções “Chelsea Bridge” (de Billy Strayhorn, o celebrado colaborador de Duke Ellington) e “Falando de Amor” (de Tom Jobim).

Em ambos os discos, há bons pontos a favor: a selecção dos executantes é óptima, a sua qualidade técnica é irrepreensível. A capacidade de composição também é evidente em ambos os discos, desenhando esboços de raiz clássica aos quais elementos de modernidade, notando-se alguma preferência por estruturas que favoreçam desenvolvimentos do tipo hardbop.

Não há no entanto qualquer reflexo de actualidade no som destes grupos, que negligenciam grande parte dos progressos introduzidos no jazz a partir de 1959. A utilização permanente de estruturas e regras demasiado restritivas tolhe a criatividade desta música, que poderia partir do jazz para transmutar-se numa forma maior. Demasiado matemática e imitadora, falta a esta música a tónica que reforce a sua individualidade.

Apesar da discutível estética dominante, estes discos são importantes testemunhos da personalidade musical de dois guitarristas de técnica francamente apurada. Sobram-nos pistas de um extremo profissionalismo, o material já cá está todo, há apenas que decidir o caminho a seguir. Caso haja interesse em abandonar trajectos passadistas para arriscar formas não restritivas, o jazz português (que tem especial apetência por guitarristas) tem tudo a ganhar.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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