DISCOS
Eliot Lipp
Tacoma Mockingbird
· 31 Mai 2006 · 08:00 ·
Eliot Lipp
Tacoma Mockingbird
2006
Hefty / Flur


Sítios oficiais:
- Eliot Lipp
- Hefty
- Flur
Eliot Lipp
Tacoma Mockingbird
2006
Hefty / Flur


Sítios oficiais:
- Eliot Lipp
- Hefty
- Flur
Era necessária aos aficionados do ZX Spectrum uma boa dose de ingenuidade para encarar com entusiasmo o final de um jogo que, após esgotados os inimigos a aniquilar, queimasse os restantes kilobites de informação com uma nave espacial a desfilar sobre o mesmo fundo horizontal repetido vezes sem conta e, consequentemente, trespassasse o rol de programadores informáticos responsáveis. Por contraste a um plano gráfico estático, quase sempre ficava reservada para a recta final uma extensa música cuja eficácia e detalhe compensassem pela imagem encalhada em loop. Ou seja, era prática recorrente de programadoras como a Gremlin ou Ocean apostar na composição musical quando já escasseavam meios que inserissem figuras inéditas.

O inverso sucede-se em Tacoma Mockingbird: tem ao seu dispor toda a tecnologia de ponta e opta voluntariamente por uma transversal essência retro, que vai dos instrumentos emulados à forma como são empregues. Para mais, fá-lo com a imponência de um carril de letras - em formato Impact, tamanho 22 – a desfilar num ecrã de computador e com a desbunda coloquial de quem entende a música de uma forma descomprometidamente anacrónica. Parece-se ser essa a atitude do produtor Eliot Lipp, que, à luz néon de Tacoma Mockingbird, projecta uma Los Angeles como se tivesse sido filmada por Michael Mann (que fez de Tom Cruise um vilão em Colateral) na Digi-Cam de um Game Boy.

A tarefa não é tão dispersa quanto parece. Há que minimizar as componentes ao ponto de poderem ser enquadradas na consola portátil da Nintendo. Uma cidade a 8-bits constrói-se então com o vicioso “cowbell” de “Last Night”, funk capaz de queimar calorias às paredes de um club de Miami, um hip-hop descomprometido que se podia ter escutado à jam noite dentro que nunca chegou a suceder a “California Love”, o hit que unia Dr. Dre a um 2 Pac condenado ao “kaput” que lhe ceifou a vida. Reconheça-se que tudo isso só resulta conjugado porque trataram de facultar um molde de suporte notoriedades como Gary Numan (escute-se a linha inesquecível de “Metal” para entender a associação) ou o inestimável Giorgio Moroder (que, além de explorar a elasticidade às miscelâneas, atrevia-se a associá-las a filmes). Tacoma Mockingbird pertence ao sistema sonoro que emite som no salão de jogos da Mansão Playboy. Talvez por isso, o parisiense Dimitri conhece a partir de agora um primo além Atlântico: chamemos-lhe Eliot from Los Angeles.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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