DISCOS
Ian Cho
The Waking Sounds
· 26 Jun 2006 · 08:00 ·
Ian Cho
The Waking Sounds
2006
Tovian


Sítios oficiais:
- Tovian
Ian Cho
The Waking Sounds
2006
Tovian


Sítios oficiais:
- Tovian
Ian Cho tem vinte anos de existência e uma confessa adoração pela natureza, e está disposto a provar que tudo aquilo que se apreende como conhecimento será posto em funcionamento mais tarde ou mais cedo, de uma ou outra forma, com os mais diversos resultados possíveis. E os argumentos são bons. Apesar da capa do disco, desenhada pelo próprio Ian Cho, parecer denunciar um new-age mofento e desinteressante não é nada disso que se demonstra em The Waking Woods, um projecto criativo que durou três anos. O nome é aparentemente a expressão do desejo de Ian Cho saber a resposta à questão: se uma árvore pudesse cantar… como é que soaria? Tirando a parte da natureza, Ian Cho é o Khonnor (Type Records) da Tovian, o selo australiano que se estreia nas edições discográficas com este lançamento: as esperanças são bastantes e só o futuro dirá se nestes casos o talento é, no seu crescimento, proporcional à idade dos mesmos.

O que Ian Cho aqui consegue é quase cinquenta minutos de electrónica submersa nos oceanos e a captar os infinitos sons dos animais que as suas águas abraçam e a natureza que a sua profundidade acolhe. E para isso faz-se acompanhar de harpas, sintetizadores, cordas, pianos, entre outros instrumentos. Um disco quase sempre plano, sem grandes ondas, com uma grande qualidade melódica. Começa pacífico e acaba à deriva (elogio) mas em águas calmas. Em “Piano lost in the River”, Ian Cho leva um piano para o fundo das águas e espera que o som se expanda o suficiente para que seja possível ouvi-lo em terra. Se até ao sexto tema “Time Stands Still for you” não se havia percebido ainda, Ian Cho deve muito a Brian Eno, que, imagino, deve ter começado a ouvir quando tinha uns 12 anos. “Get Free!” é supostamente a descrição da fuga das tragédias das cidades e, quem sabe, uma boa aposta caso se pense alguma vez em actualizar a banda sonora do clássico Metrópolis de Fritz Lang. “Dragon” por sua vez reforça a ideia de uma viagem pelos oceanos e acrescenta a sensação que não há vida em terra, que tudo o que existe está ali. Não é certo que Ian Cho tenha conseguido reproduzir o som das árvores como se propunha fazer, mas conseguiu certamente dar uma ideia do que se passa debaixo de água.

Talvez seja este o disco definitivo que legitime finalmente os efeitos visuais do Windows Media Player e lhes dê alguma utilidade; é provável que este disco, na sua audição, não possibilite outro acompanhamento senão observar as formas semi-abstractas que o dito programa nos oferece. E não. Não é preciso recorrer ao argumento “é melhor ele com esta idade estar a fazer isto do que andar a fazer outras coisas, como andar a drogar-se” para se gostar deste disco. Apenas uma certa predisposição para se entrar na água a qualquer hora do dia.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

Parceiros