DISCOS
Pan American
For Waiting, For Chasing
· 22 Jun 2006 · 08:00 ·
Pan American
For Waiting, For Chasing
2006
Mosz / Vortex


Sítios oficiais:
- Mosz
Pan American
For Waiting, For Chasing
2006
Mosz / Vortex


Sítios oficiais:
- Mosz
Parte condenado à partida um produto que procure junto de um grande público vender a imagem de um Arnold Schwarzenneger grávido por inseminação artificial. A Universal mediu mal o paladar a uma audiência – cada vez mais interessada em acompanhar o apogeu Miramax -, quando em 1994 lançou para os cinemas Junior, que rapidamente confirmou a sua natureza fracassada. Assim era porque, entre os pagantes, o homem comum não suportaria a ideia de um Schwarzenneger grávido (incapaz de manusear artilharia pesada), a dona de casa dificilmente simpatizaria com essa imagem grotesca e ao curioso casual não interessaria conviver durante hora e meia com o sotaque forçado de Emma Thompson. Além do mais, ainda estava bem presente na memória colectiva o famoso e desde aí saturado “Hasta la vista, baby!”, que serviu de slogan à sequela de Exterminador Implacável. Posto isto, todo o contexto de concepção que encaminha Junior ganha uma leitura bem mais macabra , quase contra-natura. Contudo, vale Junior pela tentativa de aplicar à vivência masculina as sensações de um parto.

Mark Nelson – o nome que oculta a transversalidade de Pan American - vai mais longe e procura com For Waiting, For Chasing sumariar o período psicológico que lhe tomou a assimilar a ideia de que seria pai. Fá-lo com uma discrição zen (que sai favorecida pela presença de metais orientais logo na primeira faixa) e através de apuradíssimo sentido aplicado à manipulação temporal (“Love Song” descreve a ternura de um momento, “From Here” o ponto inicial de uma eternidade). Tratou a vienense Mosz de arriscar no testemunho de alguém que, sem o receio de alienar os que lhe seguem o rasto, se entrega à feitura de um disco absolutamente intimo como à oportunidade que oferece uma segunda vida.

Talvez por partir de um novo início, For Waiting, For Chasing é um disco que se expande a cada vez que acumula entusiasmo sobre o que o futuro antecipa e que reflecte sobre decisões tomadas a cada vez que tem as encruzilhadas da vida pelas costas. Sendo a primeira ocasião mais frequente: talvez numa percentagem de 75% para 25%. E sendo essa faceta dominante a que também lhe serve de pretexto ao cultivo da horizontalidade sem fim à vista da música para aeroportos que compôs Brian Eno – acrescendo a isso o facto do universo aéreo ser simpático a ambos. Com abordagens distintas entre si e à luz do percurso recente, Pan American garante alguns pontos de interesse e sacrifica outras tantas características que, até The River Make No Sound, garantiam ao projecto um selecto número de entusiastas. O interesse estimulado pela tentativa individual de cada um na leitura do pensamento a Mark Nelson - com base num título como “From Here” e a variedade tonal infinita que oferece o seu debulhar de ruído branco, uma batalha organizada entre espirais vertiginosas e uma distante precursão a que parece ter sido aplicada um silenciador engendrado por Aidan Baker (figura de proa do drone canadiano). “From Here” também conta com o balanço a que almeja actualmente Mark Nelson (conforme o próprio garante em entrevista cedida ao Bodyspace). Depois, os sacrifícios evidentes na total ausência de jogos pop ou batidas a que se podia agarrar um raver intelectualizado. O abandono da escassa facilidade que ainda oferecia o último disco fluvial de Pan Am.

Enfim, é um disco mais complexo. For Waiting, For Chasing descreve em frentes múltiplas o embater de uma vontade humana contra o pesar de uma decisão irreversível. E é a partir das reacções que isso produz que lapida o seu conjunto de camadas gasosas ou contrapontos ultra-sonoros. A cada vez que procura serenar um raciocínio, Mark Nelson abafa o crepitar empolgado das suas componentes mais ruidosas e evapora-se num imenso clarão. Aquele que na série Sete Palmos de Terra oferece os segundos de que necessita o raciocínio para encadear o acontecimento, aquele que no presente disco serve de separador aos diversos sentimentos que se abatem sobre alguém pela primeira vez a braços com a paternalidade.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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