DISCOS
B. Fleischmann
The Humbucking Coil
· 09 Mai 2006 · 08:00 ·
B. Fleischmann
The Humbucking Coil
2006
Morr Music / Flur


Sítios oficiais:
- B. Fleischmann
- Morr Music
- Flur
B. Fleischmann
The Humbucking Coil
2006
Morr Music / Flur


Sítios oficiais:
- B. Fleischmann
- Morr Music
- Flur
Serve de tradição regente a Bernard Fleischmann aquela que ao longo dos anos estabeleceu uma etiqueta para os românticos de armário. Orienta-se essa trupe por uma vivência onde a criatividade e desgostos coexistem produtivamente e todos os dias da semana são iguais. Habitualmente, não tardam em assumir a predilecção por tudo o que fique aquém da alta fidelidade. À sua maneira, Fleischmann invoca o romantismo como pacto de fé que conduz quem escuta ao degustar dos momentos mais arriscados do seu passado recente (as coincidentemente extensas segundas partes de TMP - captado em take directo - e do último Welcome TouristThe Humbsucking Coil.

Mas antes de responder em nome próprio Fleischmann, recapitule-se o depoimento da label Morr que levou a que se abatesse sobre um júri um dilema de penosa resolução. Isto porque a acaba a fusão entre orgânico e electrónica por representar na anatomia da Morr a marca da sua virilidade (própria do cabelo de Sansão) e a principal fragilidade (como se no lugar do calcanhar de Aquiles). Arrisca-se a reproduzir o slogan Been there, done that. - de uma campanha publicitária da Pepsi - a reacção de quem escutar num curto intervalo de tempo dois discos extraídos ao catálogo da label berlinense. Recentemente, assim também era no bem mais inferior disco homónimo dos Electric President (que, contra si, tinha a mania das grandezas que aqui nem sequer se vislumbra). Volta a Morr a demonstrar um inveterado apetite pelo lançamento de óperas de bolso que, por incisiva acção de uma produção englobante, baralham qualquer avaliação que procure abalizar o domínio das componentes analógicas e digitais.

Não obstante alguma redundância que até si atrai a perspectiva contextual, The Humbucking Coil é qualitativamente distinto: por estabilidade da temperatura entre amena e quente que mantêm as suas guitarras e vibrafone idílicos, alinhados em escalada cognitiva. Ambos conhecem um tratamento tão caloroso que pode bem ser este um disco merecedor de reavaliação no momento em que for escutado a um prato de vinil. Alturas há – leia-se “Compusure” - em que o músico austríaco quase parece abeirar-se do comedido e elegante flirt matinal entre guitarra e ritmos programados que os Mogwai refinaram a título definitivo no último Mr. Beast. Aproveite-se a estadia escocesa para apontar que os ritmos alinhados também não distarão muito daqueles a que habituaram os Arab Strap – com a diferença destes serem muito mais efervescências manifestadas pela intimidade do que assumidamente libidinosos ou miseráveis. Aproveite-se agora a menção dos Strap para dar conta de que “Gain” quase parece uni-los - em câmara obscura – aos Tindersticks numa homenagem a Leonard Cohen. Antes que alguém disque compulsivamente o número do seu psicólogo (tal é o horror que sugere a anterior conjugação), acrescente-se que o resultado é subversivamente animador. Ou então já começou a surtir efeito o optimismo de “Composure”, que recua até à Chicago de meados de 90 sem dar por isso.

Nunca é tarde para descobrir uma gaveta ao armário de Bernhard Fleichmann e que melhor pretexto que este para percorrer em retrospectiva a discografia a alguém que para si já reservou um lugar entre os sonhadores diurnos?
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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