DISCOS
Arc
The Circle is not Round
· 05 Jul 2005 · 23:00 ·
Arc
The Circle is not Round
2005
A Silent Place / Small Voices
Sítios oficiais:
- Arc
- Small Voices
The Circle is not Round
2005
A Silent Place / Small Voices
Sítios oficiais:
- Arc
- Small Voices
Arc
The Circle is not Round
2005
A Silent Place / Small Voices
Sítios oficiais:
- Arc
- Small Voices
The Circle is not Round
2005
A Silent Place / Small Voices
Sítios oficiais:
- Arc
- Small Voices
As linhas que se seguem são as possíveis de se captar a uma impressão que anda suspensa entre as Ursas Maior e Menor. Isto porque um disco também se mede pela distância – aquela que uma percepção incorpórea trata de estabelecer entre o solo desconhecedor e o ponto indefinivelmente transcendente que se arranha quando tudo é apenas cor. Isto parece paleio new age ou yogueiro (como alguém já lhe chamou), mas The Circle is not Round é mesmo um daqueles discos que faz com que todos os sinónimos para anti-gravidade sejam escassos. Chamemos-lhe disco propício a “estado de espírito etereamente gasoso”.
O responsável Aidan Baker, homem de múltiplos ofícios, não estranharia a aplicação do pleonasmo para descrever um notável trabalho que, em tão curto tempo, já se reparte vigorosamente por quatro projectos (em nome próprio, Nadja, Mnemosyne e estes Arc) e por mais de duas dezenas de labels (entre quais, a extinta Piehead Records, cujo carácter provocatório deixará saudades). Enquanto vértice do trio Arc – que o une em irmandade mística a Richard Baker e Christopher Kukiel -, o prolífico Aidan debruça-se sobre a prática alquimista que mais tem contribuído para fazer do seu um nome a que se associa um espectro sónico próprio: aquele que gravita à tona de uma guitarra amplamente tentaculada sob a forma de loops. Vocação essa que, de resto, lhe vale a admiração do especializado e elucidativo www.loopers-delight.com e lhe merece os testemunhos curiosos dos que se perdem em trips mentais nos concertos em que actua. Haja um padroeiro do drone em Toronto e a auréola pertence à pinha de Baker.
É de difícil descrição o que se escuta aos Arc do disco que agora edita a italiana Small Voices. Aceitam-se sugestões que complementem as seguintes: strip tease de lógica invertida protagonizado por uma cebola com poros esponjosos no lugar do ácido, os loops extraídos à guitarra enquanto raios ultra-violeta que provocam o degelo a tudo o que nas imediações é orgânico (flauta, bateria sussurrante), o desenovelar de um kraut que, de tão imensurável, torna ainda mais absurda a noção limitada que se tinha do mundo antes da intervenção elucidativa de Colombo. Eis que, por aproximação, talvez sirva o termo “ambiente étnico” – notariado pelo próprio Aidan – para descrever um condomínio sónico onde vão sendo harmoniosamente alinhados djembés, tablas e percussão vária - instrumentos que, embora a tempos indistinguíveis entre o fluído, denunciam o carácter étnico da coisa e a negação não-agressiva a uma ala do drone essencialmente debruçada sobre o alcance das guitarras. Contudo, dissecar a composição a The Circle is not Round significa, em parte, anular a sua capacidade medicinal. Receba-se antes este maná como os dedos esguios de Jennifer Jason Leigh na ansiedade de acariciar um pod masculino em eXistenZ. Arrisque-se o desenvolvimento de proximidade com o êxtase que proporciona esta sideração alcançada por meio de um doze off natural, paralelo ao descrito por William Burroughs nos seus delírios alucinados.
Apesar de à partida parecerem almejar a um som exclusivo, os Jane (DJ Scott Mou e Noah Lennox do Animal Collective), os Excepter e estes Arc são provavelmente bem mais comunitários do que se julga. Não se tome por arrogância ou capricho freak aquele isolamento dissimulado que habitualmente encontra ambos os projectos além de um rio fisicamente intransponível – como templários em ritual no extremo mais profundo de uma gruta. Atenda-se a isso como uma tentativa de fidelização sensorial que convide quem escuta a juntar-se a eles por telepatia e não por contacto imediato. E quando assim é, enegrece-se a eficácia das categorizações e pouco importa se é drone ou psicadelia. Enquanto experiência, a sintonia que se desenvolve com as três frequências hipnóticas é invariavelmente milagrosa. Basta isso a um ouvido por sarar.
Miguel ArsénioO responsável Aidan Baker, homem de múltiplos ofícios, não estranharia a aplicação do pleonasmo para descrever um notável trabalho que, em tão curto tempo, já se reparte vigorosamente por quatro projectos (em nome próprio, Nadja, Mnemosyne e estes Arc) e por mais de duas dezenas de labels (entre quais, a extinta Piehead Records, cujo carácter provocatório deixará saudades). Enquanto vértice do trio Arc – que o une em irmandade mística a Richard Baker e Christopher Kukiel -, o prolífico Aidan debruça-se sobre a prática alquimista que mais tem contribuído para fazer do seu um nome a que se associa um espectro sónico próprio: aquele que gravita à tona de uma guitarra amplamente tentaculada sob a forma de loops. Vocação essa que, de resto, lhe vale a admiração do especializado e elucidativo www.loopers-delight.com e lhe merece os testemunhos curiosos dos que se perdem em trips mentais nos concertos em que actua. Haja um padroeiro do drone em Toronto e a auréola pertence à pinha de Baker.
É de difícil descrição o que se escuta aos Arc do disco que agora edita a italiana Small Voices. Aceitam-se sugestões que complementem as seguintes: strip tease de lógica invertida protagonizado por uma cebola com poros esponjosos no lugar do ácido, os loops extraídos à guitarra enquanto raios ultra-violeta que provocam o degelo a tudo o que nas imediações é orgânico (flauta, bateria sussurrante), o desenovelar de um kraut que, de tão imensurável, torna ainda mais absurda a noção limitada que se tinha do mundo antes da intervenção elucidativa de Colombo. Eis que, por aproximação, talvez sirva o termo “ambiente étnico” – notariado pelo próprio Aidan – para descrever um condomínio sónico onde vão sendo harmoniosamente alinhados djembés, tablas e percussão vária - instrumentos que, embora a tempos indistinguíveis entre o fluído, denunciam o carácter étnico da coisa e a negação não-agressiva a uma ala do drone essencialmente debruçada sobre o alcance das guitarras. Contudo, dissecar a composição a The Circle is not Round significa, em parte, anular a sua capacidade medicinal. Receba-se antes este maná como os dedos esguios de Jennifer Jason Leigh na ansiedade de acariciar um pod masculino em eXistenZ. Arrisque-se o desenvolvimento de proximidade com o êxtase que proporciona esta sideração alcançada por meio de um doze off natural, paralelo ao descrito por William Burroughs nos seus delírios alucinados.
Apesar de à partida parecerem almejar a um som exclusivo, os Jane (DJ Scott Mou e Noah Lennox do Animal Collective), os Excepter e estes Arc são provavelmente bem mais comunitários do que se julga. Não se tome por arrogância ou capricho freak aquele isolamento dissimulado que habitualmente encontra ambos os projectos além de um rio fisicamente intransponível – como templários em ritual no extremo mais profundo de uma gruta. Atenda-se a isso como uma tentativa de fidelização sensorial que convide quem escuta a juntar-se a eles por telepatia e não por contacto imediato. E quando assim é, enegrece-se a eficácia das categorizações e pouco importa se é drone ou psicadelia. Enquanto experiência, a sintonia que se desenvolve com as três frequências hipnóticas é invariavelmente milagrosa. Basta isso a um ouvido por sarar.
migarsenio@yahoo.com
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