DISCOS
Growing / Mark Evan Burden
Growing / Mark Evan Burden
· 27 Abr 2006 · 08:00 ·
Growing / Mark Evan Burden
Growing / Mark Evan Burden
2005
Xeng


Sítios oficiais:
- Xeng
Growing / Mark Evan Burden
Growing / Mark Evan Burden
2005
Xeng


Sítios oficiais:
- Xeng
Ao observar os dois nomes que constam neste split uma questão torna-se, mais do que legitima, obrigatória. O que é que o duo nova-iorquino Growing e o pianista moderno Mark Evan Burden procuram com este lançamento, esbater diferenças ou procurar o confronto? Tendo em conta que este disco se resume a duas composições (cada uma com mais de 15 minutos), a resposta vem só no fim (do disco e do texto). São claramente dois nomes distintos, que percorrem terrenos diversos mas que aqui se encontram em dois bons momentos criativos, com um desafio em mãos. Quis a cedência de espaço por parte da Zum e da Xeng – uma editora italiana com um catálogo curto mas apetecível onde se incluem os Zu e os Xiu Xiu – que fossem criados aqui dois épicos, para apreciação e combustão lenta.

Através da sobreposição de drones limpos e asseados, os Growing criam em “Firmament” uma espécie de depoimento espiritual, banda sonora para viagens pelas nuvens, uma exploração de 19 minutos que muito deve à beleza e à quietude – esta é a visão dos Growing da música ambiental. Aparentemente, “Firmament” foi escolhida das sessões do seu segundo disco, The Soul of Light and the Harmony of the Rainbow e aqui aterrou para receber as comparações com o trabalho de Brian Eno, especialmente no que diz respeito às suas explorações ambientais conseguidas em discos como Ambient 1: Music for Airports ou Ambient 4: On Land. A capa do disco – nuvens cinzentas rasgadas por uma certa e quente luminosidade – parece ter sido feita à medida da composição dos Growing.

O mesmo já não se pode dizer de “10.24.02”, a composição de Mark Evan Burden, que talvez possa receber comparações com a contracapa do disco: um amontoado de ferros e placas daquilo que parece ser um prédio em construção, gélido. Também a composição de Mark Evan Burden se mostra fria, inacabada, mas com algumas abertas harmoniosas que se vão revelando ao longo de alguns secções claramente distinguíveis. Coadjuvado pela electrónica, o piano nas mãos de Mark Evan Burden parece aqui temperamental, ora exibindo ira, ora procurando um local pacífico, que quando não surge provoca nova ira. Um ciclo vicioso – e viciante – que se torna por vezes capaz de provocar a suspensão do fôlego, ou alguma claustrofobia – mas nunca se torna um fardo. Resultado final: musicalmente distintos, os Growing e Mark Evan Burden seguem por caminhos diferentes para chegar ao mesmo desfecho: o da elevação, o da utopia, o da sublimação e ascensão a um estado superior. Missão cumprida.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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