DISCOS
Jane
Coconuts
· 06 Fev 2006 · 08:00 ·
Jane
Coconuts
2005
Psych-O-Path


Sítios oficiais:
- Psych-O-Path
Jane
Coconuts
2005
Psych-O-Path


Sítios oficiais:
- Psych-O-Path
Diz a Psych-O-Path que Coconuts foi gravado em 2002 no primeiro encontro de Noah Lennox (para quem ainda não sabe, Panda Bear dos Animal Collective) e DJ Scott Mou - ou pelo menos a faixa que dá nome ao disco. É portanto a base de tudo, o momento embrionário e responsável pelo nascimento dos Jane - que mais tarde haviam de gravar Berserker, o disco de estreia editado em 2005 pela Paw Tracks, o selo dos autores de Feels. Primeiramente editado pelos próprios Jane como um CD-R de edição limitada, Coconuts - agora editado pela enorme Psych-O-Path, tornando-se automaticamente o segundo lançamento oficial do duo – é a primeira aventura da dupla (a segunda foi Paradise também editado em CD-R) que para este lançamento se muniu de apenas uma turntable, um misturador, teclados, vozes e efeitos. O resultado é uma trip electrónica com cânticos minimalistas, tribalismo a rodos, um turbilhão hipnotizante espelhado em duas faixas com mais de 20 minutos cada, ambas gravas em Nova Iorque e sem overdubs.

A primeira das duas faixas, “Coconuts”, é uma jam celestial, locomotiva circular sonora em direcção à lua que recolhe as batidas druggy e psych lançadas por Scott Mou para depois, na próxima estação, receber de braços abertos a voz de tribalismo etéreo de Noah Lennox. A voz da metade Animal Collective dos Jane cai na perfeição em base techno. Na verdade, a voz de Noah Lennox cai bem seja em que lado for – e ao que parece a última vez caíu em I'm Not / Comfy In Nautica (UUnited Acoustic Recordings), uma antecipação do seu próximo disco a solo. “Coconuts” é, por assim dizer, como uma mini fogueira causada por uma fagulha saída das campfire songs dos Animal Collective numa noite de batidas electrónicas. Mas que se tenha a consciência que não vale vir para um disco dos Jane procurar o mesmo que se procuraria num disco dos Animal Collective – e o mesmo se poderá dizer dos Terrestrial Tones, o projecto de Dave Portner (Avey Tare dos Animal Collective) e Eric Copeland dos Black Dice. Isto é tudo gente que leva à letra a noção de projecto paralelo. E ainda bem.

O segundo tema, “Ossie”, confessamente gravado para um minidisc, abranda nas batidas mas aumenta na criação de ambiências e paisagens. É mais planante, é mais abstracta. Diminui o ritmo cardíaco mas aumentam os distúrbios que chegam ao cérebro através do nervo coclear. Já perto do fim, é o regresso aos momentos mais destabilizantes e inquietantes do primeiro tema com um aumentar significativo das batidas. Mas bem feitas as contas, independentemente dos momentos de acalmia e da pausa que separa os dois temas, os quase 50 minutos de Coconuts funcionam como uma espécie de ritual celebratório que se quer e imagina ininterrupto. Fosse o sapiente José Hermano Saraiva conhecedor da dupla Jane e estaria aqui a dizer algo como: “E foi aqui, em 2002, que Noah Lennox e o DJ Scott Mou começaram uma aventura frutífera e altamente recomendável. É provável que a história trate de os colocar no seu lugar devido se os Jane – e os registos que se seguem – assim o merecerem. O passado está escrito; agora só o futuro o dirá”.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

Parceiros