DISCOS
Windsor for the Derby
Confianza / Visiones EP
· 23 Jan 2006 · 08:00 ·
Windsor for the Derby
Confianza / Visiones EP
2005
Acuarela / Popstock


Sítios oficiais:
- Acuarela
- Popstock
Windsor for the Derby
Confianza / Visiones EP
2005
Acuarela / Popstock


Sítios oficiais:
- Acuarela
- Popstock
Três salvas pela acção mecenática da Acuarela Discos na divulgação de emergentes talentos indie e atracção desses até ao cantinho peninsular. Merece especial consideração a label que agiu de ponte estratégica na vinda de Destroyer ou Lou Barlow ao burgo luso. Destroyer havia já contribuído para uma compilação da label madrilena com a auto-elucidativa “Song for Acuarela”. Lou Barlow agradece nos diários do seu site o auxílio logístico da Acuarela na sua mini-digressão ibérica. Ambos deixaram saudades ao sagrado aquário da Zé dos Bois. Mas os laços da aliança luso-castelhana não se ficam por aqui: a compilação onde participara Destroyer incluíra nesse segundo disco um inédito intitulado “Each One as Lovers”, que será provavelmente uma das mais gráficas músicas conhecidas ao reportório do nacionalmente consensual Old Jerusalem (tendo mesmo ferido susceptibilidades quando apresentada em Paredes de Coura ’04). A inclusão é, em todo o caso, louvável. Perante este câmbio fronteiriço, urge receber a Acuarela com três salvas adicionais pela preservação em catálogo do momento distinto que os Windsor for the Derby atravessam.

Antes de ditar bitaite que seja relativamente ao EP que motiva a este resenha, convém actualizar quem, entre mudanças de formação e lançamentos em catadupa, possa ter perdido o rasto aos Windsor for the Derby (os restantes podem também aderir à comitiva). Do projecto, sabe-se que, até à feitura do último disco (Giving Up the Ghost), não impunha restrições quanto à entrada e saída de membros – sendo que a manutenção dos mentores Dan Matz e Jason McNeely permaneceu assegurada, mesmo que à distância de vários estados (unidos). Outra das característica inalienáveis a apontar aos WFTD diz respeito à instabilidade da linearidade que parece existir apenas a nível subterrâneo (de forma a não impedir a anexação de novos elementos). Só assim se explica que em tão escasso tempo se sucedam discos como Repetition and Difference - alquimia da intimidade extraída a guitarras corcundas – que os revelou ao mundo pela mão de Michael Gira, capítulos intermédios onde dinâmicas ambientais se revelavam gradualmente e a digressão voyeuristica sobre ninho de revestimento indie descrito no recente (e bem conseguido) longa-duração Giving Up the Ghost (o disco que consolidou os Windsor for the Derby como banda, atendendo a que, a título inédito, foi gravado num mesmo espaço físico e não à distância, como era habitual). O facto de Confianza / Visiones ser o primeiro registo a documentar a estadia congregante em Filadélfia, leva a que a lógica se ocupe de tomar o EP lançado pela Acuarela como a manifestação paralela que se antecipou à tendência de Giving Up the Ghost no rompimento com o passado. Os Windsor for the Derby agora são uma banda. E já não será muita a distância que os separa de alcançar o estatuto de instituição.

Dada a sua condição exorcista, Confianza / Visiones actua um pouco como uma desintoxicação cumprida em intensidades várias, na sua maior parte próximas da estratosfera ocupada pelas ramificações mais gasosas do rock (space, pós- e por aí). “Confianza”, por exemplo, representa, no seu serpentear sigmático, um hino de dança preservado em surdina, algo muito próximo do flirt que “Money” dos Ölga assume com aquela explosão dourada por consumar. “Visiones” patenteia a forma dos passos que conduziram a Giving Up the Ghost. Adivinha-se marcha sonâmbula a guitarras e baixo nebulosos, embaladas por ritmo techno esquelético. “No Tekno w/ Drums” (captada a um concerto em Itália) soterra a martelo persistente (semelhante ao da ritmada “The Hammer”) qualquer impureza que reste a Confianza / Visiones. Isto para que nova etapa seja encarada pelos Derby como página em branco.

Além das sensações de leveza que oferece o convívio com estes exercícios de insuflação a hélio, volta um disco dos Windsor for the Derby a surtir o mesmo efeito póstumo: não há persistência que consiga resgatar melodias para mais tarde contar a história. Parece ser essa uma das alíneas constantes do pacto mantido com os guitarristas Matz e McNeely: gozar da aptidão cronometrada que permite vislumbrar a ponta ao icebergue sentimental de ambos e abrir mão dessas memórias à saída. Mais que nunca, um disco de WFTD assume-se como ponto de controle alfandegário. Algo a declarar?
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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