DISCOS
Head Wound City
Head Wound City EP
· 08 Jan 2006 · 08:00 ·
Head Wound City
Head Wound City EP
2005
Three One G


Sítios oficiais:
- Three One G
Head Wound City
Head Wound City EP
2005
Three One G


Sítios oficiais:
- Three One G
Sou apologista da soberania que qualquer banda procure manter sobre o aspecto visual do disco que concebeu. Se optarem os membros dos Faxed Head ou Brujeria por manter as verdadeiras identidades encapuçadas no anonimato, assim seja. Além do mais, o mais certo é que essas seitas sejam orquestradas pelo clone de Mike Patton que se ocupa do death metal parodiante (aquele que, em reuniões de família, se dá particularmente mal com o Patton do hip hop). Nem sempre primam pela estética aqueles autocolantes que as distribuidoras colocam para rentabilizar a popularidade das bandas que servem de tecto aos representados em desempenhos secundários. Não há, por exemplo, autocolante logísticamente concebível que abarque todos os envolvidos nos A Gun Called Tension (o projecto híbrido que, à margem de hype que o insuflasse, reuniu no álbum homónimo membros de Modest Mouse e dos extintos Anti-Pop Consortium e Murder City Devils, entre tantos outros). Numa iniciativa igualmente órfã de bruá por parte dos meios especializados, eis que o colectivo Head Wound City reuniu nas suas fileiras Jordan Blilie (voz...), Cody Votolato (...e guitarra extraídas aos glóbulos dos Blood Brothers), Justin Pearson (baixo...), Gabe Serbian (...e bateria decepados aos The Locust) e Nick Zinner (perfurativo guitarrista que dispara riffs nos Yeah Yeah Yeahs). Muita fruta ácida, não? O único autocolante a fazer algum sentido aqui seria o da Chiquita (a das bananas) após ter testemunhado o ritual canabalístico-macabro entre três tribos de voracidades completamente distintas. O horror. O horror.

O vocalista Jordan Blilie descreveu o projecto como a banda que podia resultar da união entre Predador e Alien, no dia em que optassem por conjugar esforços em vez de combaterem entre si. Outras parelhas são igualmente prováveis para estabelecer a analogia. Os cadáveres de Shakira e Alejandro Sanz a esfregarem-se maquinalmente, enquanto fazem dos putrefactos vegetais – colhidos à San Diego industrial dos Locust – picadinho para usar em refogado sanguinário (os berros de Blilie parecem pertencer a alguém que caminha sobre brasas). King Kong e Godzilla em apogeu de virilidade, estimulados pela capacidade que a guitarra / fulgor artístico de Nick Zinner (a Naomi Watts da monstruosa equação) possa ter no instigar à demolição de melodia e serenidade. Não se sabe ao certo do paradeiro da influência de Zinner na união de titãs de ruído. Assim como sempre se desconhece alvo predefinido ao ataque indiscriminado da parte Locust dos HWC, que se revela mais activa na faixa que encerra o disco, “Michael J. Fox” (alguém não gostou da voz irritante do Stuart Little...). Por acaso ou talvez não, a derradeira investida dos HWC termina com algo muito semelhante a um coro de alienígenas prontinhos a declarar Marte Ataca! (onde Michael J. Fox também participava). Afinal, constituem eles ameaça mais temível que todos os monstros mencionados até aqui. Head Wound City parte para a sua curta duração com um intuito semelhante: conduzir a um extremo inédito as pontas mais afiadas de tentáculos por si só ameaçadoramente extremos.

Atendendo a que não são totalmente cumpridos os níveis de interesse que a fusão prometia, a saliva produzida terá de esperar por alimento de maior consistência que as sete faixas servidas em menu compacto de nove minutos e quarenta e um segundos. Não haja, contudo, dúvidas quanto ao facto de Head Wound City dispor de inabalável pinta arty (é absolutamente surpreendente a forma como o in-lay revela as letras), além de personalidade suficiente para vir a engordar, com três palavras adicionais, futuros parênteses relativos às bandas fundidas neste gume. Os coleccionadores e fãs dispõem de razões para afiar as garras. Aos restantes, aconselha-se compasso de espera que auxilie a paciência a aguardar por novidades de maior vulto da parte dos intervenientes.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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