DISCOS
Get Hustle
Rollin In The Ruins
· 25 Dez 2005 · 08:00 ·

Get Hustle
Rollin In The Ruins
2005
Three One G
Sítios oficiais:
- Get Hustle
- Three One G
Rollin In The Ruins
2005
Three One G
Sítios oficiais:
- Get Hustle
- Three One G

Get Hustle
Rollin In The Ruins
2005
Three One G
Sítios oficiais:
- Get Hustle
- Three One G
Rollin In The Ruins
2005
Three One G
Sítios oficiais:
- Get Hustle
- Three One G
São intemporais as situações que a tradição rock invoca para celebrar a decadência. Numa era em que Ozzy Osbourne era o rosto mais visível da rebeldia, incidiam sobre ele a maior fatia de suspeitas. Agora, antes de alguém mijar para cima de um theremin em Melbourne, já alguém lhe cagou em cima em Brooklyn. No dia seguinte, a forquilha dá conta da notícia e, antes que o Billy Corgan se lembre de inventar mais uma banda para colmatar o seu egocentrismo, já existe uma cena musical em torno das potencialidades escatológicas do theremin. As afrontas à convencionalidade vão-se reciclando a uma velocidade impossível de acompanhar por quem trabalhe a tempo inteiro. Tempos houve em que um disco como Surfer Rosa dos Pixies dispunha do tempo certo para se assumir como uma bomba absurdamente sexy, sem ser confrontado por concorrência imediata à sua libido. Chegou a hora destes Get Hustle cravarem na bússola da excentricidade uma insurrecta adaga chamada Rollin In The Ruins.
No mercado de revistas para adultos, a grande vantagem da Hustler sobre a Playboy reside no charme rasca da primeira. A típica pin-up da Hustler atreve-se a posar com as pernas feitas num ângulo obtuso. As coelhinhas optam na maior parte dos casos pela posição da sereia e assumem a anatomia do “Z”. Os Get Hustle aproveitam deixas a ambos os colossos da nudez: do obtuso fazem um ângulo raso e aproveitam o “Z” como letra para classificar o cinema que a sua música sugere. Na hora de manchar a manta com um rock praticado como vudu, não conhece pudor este power-trio que deixou a Kill Rock Stars para ingressar na Three One G. Menos é mais, e aos Get Hustle bastam a voz possessa de Valentine Falco (tem como diabo no corpo o glam e a herança vamp), uma bateria tentacular e um piano eléctrico cujo dó-ré-mi bastaria como sinopse a todos os episódios de Contos da Cripta. A excelência tropicalista dos lendários Mutantes passou anos enclausurada na mesma arca que the gimp - o submisso freak que obedecia às ordens de Zed em Pulp Fiction -, e saiu de lá espicaçada, trôpega e decidida a fazer crónica do ar rarefeito das caves de Los Angeles num rock que é, ao mesmo tempo, academicamente progressivo (na medida em que não serve de montra a virtuosismos Satrianiastas) e promiscuamente inebriante como o do promissor power-trio CAVEIRA (que soa melhor dito com sotaque espanhol).
A estética dominante é a do “um diz mata, o outro diz esfola” - que sempre auxilia o grindcore a superar-se a si mesmo e que aqui muito favorece Rollin In The Ruins. Faixas como “Revolution Van” ou “Brothers & Others” ensaiam danças macabras que suplicam por lama. Confere-se um aspecto mais grunho a ecos de rock progressivo (que podiam pertencer a In The Court of Crimson King de King Crimson) e “W.T.S.P.” arrisca-se a ocupar o lugar da maçã do pecado que os defensores ortodoxos do género não anteciparam. A extensivamente paranóica segunda metade de “Revolution Van” (faixa oculta) encontra os Get Hustle com a ponta de uma bota de cabedal entre os lábios indefinidos do spazzcore e as nádegas de uma voz arrastada espalmadas sobre um assento de comboio mal assombrado. Comboio assombrado esse que nunca descarrila em anti-climax por um triz.
Rollin In The Ruins é um anti-disco, O.V.N.I. por homologar, o mosaico de alegre decadência que faltará a algumas galerias de horrores. E aqui os Pixies voltam a ser pertinentes, pois também eles – no Paredes de Coura deste ano – me proporcionaram um quadro inesquecível de despreocupada decadência. Não tanto directamente, mas por terem executado a banda-sonora ideal a um micro-circo de delírio que ocorria no percurso de pedras que ladeia o anfi-teatro natural. Por lá, um pequeno grupo de pessoas dançava sem a mínima noção do amanhã, trocavam beijos com um cão meio-adormecido, entoavam os refrães de Frank Black à sua maneira etílica e fotografavam-se mutuamente com flashes quase criminosos (enviem-me isso para o e-mail, e terei imenso gosto em recompensar-vos com um disco de Gritali & os Tratantes pelo Natal). Mais do que nunca, o chavascal espanholado de faixas como “Vamos!” fez sentido. Por agora e sempre que for escutado durante o mês de Dezembro, Rollin In The Ruins fará sentido ao lado de Fuck Christmas, I Got The Blues de Legendary Tiger Man, como disco que menos preocupações alimentará em relação à quantia que leva o Pai Natal a prostituir-se durante esta quadra maldita.
Miguel ArsénioNo mercado de revistas para adultos, a grande vantagem da Hustler sobre a Playboy reside no charme rasca da primeira. A típica pin-up da Hustler atreve-se a posar com as pernas feitas num ângulo obtuso. As coelhinhas optam na maior parte dos casos pela posição da sereia e assumem a anatomia do “Z”. Os Get Hustle aproveitam deixas a ambos os colossos da nudez: do obtuso fazem um ângulo raso e aproveitam o “Z” como letra para classificar o cinema que a sua música sugere. Na hora de manchar a manta com um rock praticado como vudu, não conhece pudor este power-trio que deixou a Kill Rock Stars para ingressar na Three One G. Menos é mais, e aos Get Hustle bastam a voz possessa de Valentine Falco (tem como diabo no corpo o glam e a herança vamp), uma bateria tentacular e um piano eléctrico cujo dó-ré-mi bastaria como sinopse a todos os episódios de Contos da Cripta. A excelência tropicalista dos lendários Mutantes passou anos enclausurada na mesma arca que the gimp - o submisso freak que obedecia às ordens de Zed em Pulp Fiction -, e saiu de lá espicaçada, trôpega e decidida a fazer crónica do ar rarefeito das caves de Los Angeles num rock que é, ao mesmo tempo, academicamente progressivo (na medida em que não serve de montra a virtuosismos Satrianiastas) e promiscuamente inebriante como o do promissor power-trio CAVEIRA (que soa melhor dito com sotaque espanhol).
A estética dominante é a do “um diz mata, o outro diz esfola” - que sempre auxilia o grindcore a superar-se a si mesmo e que aqui muito favorece Rollin In The Ruins. Faixas como “Revolution Van” ou “Brothers & Others” ensaiam danças macabras que suplicam por lama. Confere-se um aspecto mais grunho a ecos de rock progressivo (que podiam pertencer a In The Court of Crimson King de King Crimson) e “W.T.S.P.” arrisca-se a ocupar o lugar da maçã do pecado que os defensores ortodoxos do género não anteciparam. A extensivamente paranóica segunda metade de “Revolution Van” (faixa oculta) encontra os Get Hustle com a ponta de uma bota de cabedal entre os lábios indefinidos do spazzcore e as nádegas de uma voz arrastada espalmadas sobre um assento de comboio mal assombrado. Comboio assombrado esse que nunca descarrila em anti-climax por um triz.
Rollin In The Ruins é um anti-disco, O.V.N.I. por homologar, o mosaico de alegre decadência que faltará a algumas galerias de horrores. E aqui os Pixies voltam a ser pertinentes, pois também eles – no Paredes de Coura deste ano – me proporcionaram um quadro inesquecível de despreocupada decadência. Não tanto directamente, mas por terem executado a banda-sonora ideal a um micro-circo de delírio que ocorria no percurso de pedras que ladeia o anfi-teatro natural. Por lá, um pequeno grupo de pessoas dançava sem a mínima noção do amanhã, trocavam beijos com um cão meio-adormecido, entoavam os refrães de Frank Black à sua maneira etílica e fotografavam-se mutuamente com flashes quase criminosos (enviem-me isso para o e-mail, e terei imenso gosto em recompensar-vos com um disco de Gritali & os Tratantes pelo Natal). Mais do que nunca, o chavascal espanholado de faixas como “Vamos!” fez sentido. Por agora e sempre que for escutado durante o mês de Dezembro, Rollin In The Ruins fará sentido ao lado de Fuck Christmas, I Got The Blues de Legendary Tiger Man, como disco que menos preocupações alimentará em relação à quantia que leva o Pai Natal a prostituir-se durante esta quadra maldita.
migarsenio@yahoo.com
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