DISCOS
Serial
Brilhantes Diamantes
· 03 Dez 2005 · 08:00 ·

Serial
Brilhantes Diamantes
2005
NorteSul
Brilhantes Diamantes
2005
NorteSul

Serial
Brilhantes Diamantes
2005
NorteSul
Brilhantes Diamantes
2005
NorteSul
Da palavra grega “adamas” – que significa força e perpetuidade do amor – surgiu pela primeira vez a palavra “diamante”, tendo sido na Índia que, entre os anos 800 e 600 a.C., a exploração de diamantes se desenvolveu sobremaneira. Em tempos, os diamantes eram apelidados de pedras do Sol, devido ao seu brilho ímpar. O Oriente foi o responsável, durante quase dois mil anos, pela produção dos mais famosos diamantes do mundo. A luxuosa pedra, de rara beleza, foi sempre sinónimo de poder e riqueza. Os diamantes eram utilizados quase exclusivamente por reis e as suas cortes e além da realeza, só a Igreja tinha acesso a eles. Estas pedras foram mesmo fonte de inspiração para poetas e pintores, chegando até a serem apontadas como poder de cura para certos e determinados males e doenças. Curiosamente, a partir do século XV os diamantes passaram a ser distinguidos como a jóia da noiva, mas tendo em conta o poder que simbolizam, foram sempre motivo de afincadas buscas fosse por expectantes noivos, fosse por outros sacrificados com o intuito de enriquecimento.
Aqui, o líder da expedição em busca dos diamantes é Serial, o DJ e produtor de serviço dos Mind da Gap, mas não está só. Em seu apoio está a crew do costume e alguns elementos surpresa: Ace e Presto também dos Mind da Gap, Maze, Fuse, Mundo e Xpião (os dois últimos sob a designação de Terrorismo Sónico) dos Dealema (é bem conhecida a relação entre as duas bandas, expressa por exemplo em digressões conjuntas), os portuenses Rey e Chase e ainda os galegos El Puto Coke e Sofia. Em pausa dos projectos principais depois de tempos frutíferos para o hip hop made in Portugal, Brilhantes Diamantes, gravado, misturado e produzido por Serial no seu estúdio La Suite no Porto (com a excepção da faixa “Sempre a Manter”, que foi misturada por Troy Hightower, em Nova Iorque, cidade onde o disco também foi masterizado por Jim Brick), parece dar continuação a uma vaga de artistas do meio (em nome próprio ou escondidos por detrás de pseudónimos) com discos a solo onde se incluem Fuse (que já vai no terceiro), D-Mars e até mesmo Ace; lançamentos que, de forma paralela, mantêm o espírito aceso. Este tem um valor acrescentado: é um disco de um DJ.
Logo a abrir o disco, “A Obsessão” serve de manifesto de intenções e de tentativa de explicação do valor dos diamantes apesar de não ser possível comê-los, vesti-los ou construir casas a partir deles. Algures na faixa cria-se o som perfeito para a sensação deixada pelas pedras preciosas: algo quase arrepiante. “Brilhantes Diamantes” (o primeiro single do álbum), nas vozes de Maze e Ace, apenas necessita de “pratos, tarola e bombo e um sample divino para mostrar o caminho. Isso e um refrão: “Não mudo a minha atitude, nem por instantes / Todos os momentos são brilhantes diamantes / Eu abro-te o trinco da porta do labirinto / Canto o que sinto isto sai-me por instinto”. Rima após rima apontam-se metas e finalidades: “tou farto desta máquina capitalista / no fundo quero mais humanidade e justiça / pra acabar com a ganância e cobiça / que enfeitiça, alicia / e alimenta a desigualdade / tanta dificuldade / Aguça a minha vontade de criar, alcançar / um pouco mais de liberdade” ou então “Fortaleço o meu carácter / A um nível profundo / Com verticalidade / Como um fio de prumo / Longe do luxo, ócio e comodidade / Prefiro valores altruístas de fraternidade / Dos quais não abdico”. O destaque pode parecer porventura exagerado, mas “Brilhantes Diamantes” é – brilhante, soalheira, positiva, cool até dizer chega - um dos melhores temas de sempre do hip-hop português.
E depois de “Brilhantes Diamantes” até parece complicado superar o momento, por isso há que ser sincero: não há nada no resto do disco que se lhe assemelhe, mas isso não significa necessariamente que o disco não possua trunfos necessários para audição completa. “Sê real”, por exemplo, é porrada sonora com Rey, onde até se aproveita para se cagar no sistema e na puta da indústria, e “Façam Barulho!!!” parece ter sido feita propositadamente para Fuse, curto e grosso, rimar por cima das beats (a certa altura Fuse avisa que “as editoras andam a tentar foder o movimento”). “Três Manos” e “A Voz”, duas das melhores faixas do disco, fazem com que Brilhantes Diamantes pareça um disco (com núcleo) de Mind da Gap, mas “Subnegócios” sai um pouco desse universo por ser uma narrativa em galego sobre um mundo ilegal, levada a cabo por El Puto Coke e Sofia. “Sempre a Manter” é um dos dois instrumentais do disco (o outro é “Faz o teu Funk”), com toada clássica e em formato-misturadora (de tons e estilos). Há até um tema apelidado de “Terrorismo Sónico” apesar de Fuze – inconfundível – ter pedido no disco para que mudassem a faixa. E para o mundo caótico, aqui, apresenta-se o terrorismo sónico como solução. O final do disco apanha Serial a caminhar por terrenos menos férteis.
Em tempos, os gregos acreditavam que os diamantes eram estilhaços de estrelas que caíam do céu – chegavam a dizer que eram lágrimas dos deuses. No entanto estavam longe de imaginar que descessem à terra acompanhados de beats e rimas. Os temas do disco de estreia a solo de Serial – mais ou menos lapidados, com menos ou mais facetas – parecem dar razão à máxima que diz que os diamantes podem ser comparados com as impressões digitais devido às suas características únicas, não existem dois iguais – um deles até se assemelha a RJD2 (“Faz o teu Funk”), uma pedra que, infelizmente, veio perdendo o seu valor com o tempo. Resta esperar que Serial não siga os passos do autor do inconsequente Since We Last Spoke.
André GomesAqui, o líder da expedição em busca dos diamantes é Serial, o DJ e produtor de serviço dos Mind da Gap, mas não está só. Em seu apoio está a crew do costume e alguns elementos surpresa: Ace e Presto também dos Mind da Gap, Maze, Fuse, Mundo e Xpião (os dois últimos sob a designação de Terrorismo Sónico) dos Dealema (é bem conhecida a relação entre as duas bandas, expressa por exemplo em digressões conjuntas), os portuenses Rey e Chase e ainda os galegos El Puto Coke e Sofia. Em pausa dos projectos principais depois de tempos frutíferos para o hip hop made in Portugal, Brilhantes Diamantes, gravado, misturado e produzido por Serial no seu estúdio La Suite no Porto (com a excepção da faixa “Sempre a Manter”, que foi misturada por Troy Hightower, em Nova Iorque, cidade onde o disco também foi masterizado por Jim Brick), parece dar continuação a uma vaga de artistas do meio (em nome próprio ou escondidos por detrás de pseudónimos) com discos a solo onde se incluem Fuse (que já vai no terceiro), D-Mars e até mesmo Ace; lançamentos que, de forma paralela, mantêm o espírito aceso. Este tem um valor acrescentado: é um disco de um DJ.
Logo a abrir o disco, “A Obsessão” serve de manifesto de intenções e de tentativa de explicação do valor dos diamantes apesar de não ser possível comê-los, vesti-los ou construir casas a partir deles. Algures na faixa cria-se o som perfeito para a sensação deixada pelas pedras preciosas: algo quase arrepiante. “Brilhantes Diamantes” (o primeiro single do álbum), nas vozes de Maze e Ace, apenas necessita de “pratos, tarola e bombo e um sample divino para mostrar o caminho. Isso e um refrão: “Não mudo a minha atitude, nem por instantes / Todos os momentos são brilhantes diamantes / Eu abro-te o trinco da porta do labirinto / Canto o que sinto isto sai-me por instinto”. Rima após rima apontam-se metas e finalidades: “tou farto desta máquina capitalista / no fundo quero mais humanidade e justiça / pra acabar com a ganância e cobiça / que enfeitiça, alicia / e alimenta a desigualdade / tanta dificuldade / Aguça a minha vontade de criar, alcançar / um pouco mais de liberdade” ou então “Fortaleço o meu carácter / A um nível profundo / Com verticalidade / Como um fio de prumo / Longe do luxo, ócio e comodidade / Prefiro valores altruístas de fraternidade / Dos quais não abdico”. O destaque pode parecer porventura exagerado, mas “Brilhantes Diamantes” é – brilhante, soalheira, positiva, cool até dizer chega - um dos melhores temas de sempre do hip-hop português.
E depois de “Brilhantes Diamantes” até parece complicado superar o momento, por isso há que ser sincero: não há nada no resto do disco que se lhe assemelhe, mas isso não significa necessariamente que o disco não possua trunfos necessários para audição completa. “Sê real”, por exemplo, é porrada sonora com Rey, onde até se aproveita para se cagar no sistema e na puta da indústria, e “Façam Barulho!!!” parece ter sido feita propositadamente para Fuse, curto e grosso, rimar por cima das beats (a certa altura Fuse avisa que “as editoras andam a tentar foder o movimento”). “Três Manos” e “A Voz”, duas das melhores faixas do disco, fazem com que Brilhantes Diamantes pareça um disco (com núcleo) de Mind da Gap, mas “Subnegócios” sai um pouco desse universo por ser uma narrativa em galego sobre um mundo ilegal, levada a cabo por El Puto Coke e Sofia. “Sempre a Manter” é um dos dois instrumentais do disco (o outro é “Faz o teu Funk”), com toada clássica e em formato-misturadora (de tons e estilos). Há até um tema apelidado de “Terrorismo Sónico” apesar de Fuze – inconfundível – ter pedido no disco para que mudassem a faixa. E para o mundo caótico, aqui, apresenta-se o terrorismo sónico como solução. O final do disco apanha Serial a caminhar por terrenos menos férteis.
Em tempos, os gregos acreditavam que os diamantes eram estilhaços de estrelas que caíam do céu – chegavam a dizer que eram lágrimas dos deuses. No entanto estavam longe de imaginar que descessem à terra acompanhados de beats e rimas. Os temas do disco de estreia a solo de Serial – mais ou menos lapidados, com menos ou mais facetas – parecem dar razão à máxima que diz que os diamantes podem ser comparados com as impressões digitais devido às suas características únicas, não existem dois iguais – um deles até se assemelha a RJD2 (“Faz o teu Funk”), uma pedra que, infelizmente, veio perdendo o seu valor com o tempo. Resta esperar que Serial não siga os passos do autor do inconsequente Since We Last Spoke.
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