DISCOS
Midaircondo
Shopping For Images
· 06 Out 2005 · 08:00 ·

Midaircondo
Shopping For Images
2005
Type
Sítios oficiais:
- Midaircondo
- Type
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Midaircondo
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OK! Do you want something simple?
The reviews
Do you want something simple?
The look
Do you want something simple?
The songs
Do you want something simple?
The sex
Do you want something simple?
The silence
(adaptado a partir de “OK! Do you want something simple?” dos Gift)
Foram necessários quase sete anos até alguém tratar de satisfazer a vontade a quem respondia afirmativamente a todas as questões disparadas pela música que lançou os Gift. Entretanto, o fenómeno que colocou Bristol no mapa – o trip-hop, pois claro - esmoreceu assim que os seus arquitectos Portishead optaram por um hiato nebuloso (que, entre ameaças, dura até hoje) e extinguiu-se quando a sua segunda vaga trocou a placidez noctívaga pelo calor sintético do electro. Apesar de nem sequer ter provocado fortes espasmos a um hype que não dorme, Shopping For Images consegue assumir-se como um recital de minimalismo sem tomar apontamentos directos aos tutores dessa delicada arte que a obsessiva preservação da essência representa. O trip-hop renasceu.
Quando o volume de informação é reduzido, automatiza-se o magnetismo entre ouvidos passageiros e o charme das sereias escandinavas. As Midaircondo parecem compor música para passagens de modelos encenadas com a anti-gravidade de O Tigre e o Dragão (o épico esvoaçante de Ang Lee em que os heróis cruzavam os ares como aves). Passa então uma espécie de cosmopolitismo etéreo a agir em função da envoltura do canto das sereias, que, assim que conhece a atmosfera, se torna universal. Além de surpreender toda uma série de sons ilusoriamente concretos (manipulados a seis mãos assentes sobre três laptops), as escamas menos ortodoxas de um trip-hop embrionário brilham mais intensamente a cada vez que se escutam incursões pelo jazz de redoma (há muito que um saxofone não soava tão deliciosamente caseiro) ou uma nova infância aos loops energeticamente trepidantes, quase sempre incumbidos da função de combustível não-poluente. Perante tão favorável cenário, ganha força a sensação de que Cocorosie é um pleonasmo quando lido Cócórosie.
Depois, à saída de uma “Coffeeshop” cuja implosão frenética faz suspeitar um passado raver às Midaircondo, Shopping For Images ensaia o mais convincente dos colapsos dramáticos que escutei a um disco este ano. A “Sorry”- tão simploriamente construído quanto o seu título aparenta – bastaria somente a voz para ser avassaladora. Contudo, comete o glorioso pecado de acrescentar o mais agilmente discreto dos acompanhamentos conhecidos ao disco. O azul do eyeliner ganha um tom aguado e a sopa um gosto mais salgado. É nessa altura que Alice Harford (Nicole Kidman em De Olhos Bem Fechados) pede perdão pelo adultério cometido com os marinheiros que não existem senão nos receios do seu esposo. E Björk é tão mais graciosa e sensual no desespero agridoce de quem está disposto a morrer electrocutado desde que abraçado à sua paixão. “Sorry” é uma das grandes faixas do ano, portanto.
Assim como Shopping For Images será um daqueles discos a descobrir e assimilar gradualmente a um ano de 2005 que, em meados de Outubro, pode já gabar-se de uma generosidade superior à dos anos constantes da mesma casa milenar. Midaircondo quase soa a Mid-air-combo. A segunda expressão pode dar nome à combinação aplicada por um lutador de beat ‘em up (tipo Street Fighter II ou Tekken) quando, a meia altura, apanha o adversário desprevenido e indefeso e lhe dizima a barra de energia por metade. Eu, incurável masoquista que perdia demasiado tempo com a inutilidade de algum trip-hop sucedâneo, posso hoje afirmar que nunca uma sova – confessional e marcante - me soube tão bem.
Miguel ArsénioThe reviews
Do you want something simple?
The look
Do you want something simple?
The songs
Do you want something simple?
The sex
Do you want something simple?
The silence
(adaptado a partir de “OK! Do you want something simple?” dos Gift)
Foram necessários quase sete anos até alguém tratar de satisfazer a vontade a quem respondia afirmativamente a todas as questões disparadas pela música que lançou os Gift. Entretanto, o fenómeno que colocou Bristol no mapa – o trip-hop, pois claro - esmoreceu assim que os seus arquitectos Portishead optaram por um hiato nebuloso (que, entre ameaças, dura até hoje) e extinguiu-se quando a sua segunda vaga trocou a placidez noctívaga pelo calor sintético do electro. Apesar de nem sequer ter provocado fortes espasmos a um hype que não dorme, Shopping For Images consegue assumir-se como um recital de minimalismo sem tomar apontamentos directos aos tutores dessa delicada arte que a obsessiva preservação da essência representa. O trip-hop renasceu.
Quando o volume de informação é reduzido, automatiza-se o magnetismo entre ouvidos passageiros e o charme das sereias escandinavas. As Midaircondo parecem compor música para passagens de modelos encenadas com a anti-gravidade de O Tigre e o Dragão (o épico esvoaçante de Ang Lee em que os heróis cruzavam os ares como aves). Passa então uma espécie de cosmopolitismo etéreo a agir em função da envoltura do canto das sereias, que, assim que conhece a atmosfera, se torna universal. Além de surpreender toda uma série de sons ilusoriamente concretos (manipulados a seis mãos assentes sobre três laptops), as escamas menos ortodoxas de um trip-hop embrionário brilham mais intensamente a cada vez que se escutam incursões pelo jazz de redoma (há muito que um saxofone não soava tão deliciosamente caseiro) ou uma nova infância aos loops energeticamente trepidantes, quase sempre incumbidos da função de combustível não-poluente. Perante tão favorável cenário, ganha força a sensação de que Cocorosie é um pleonasmo quando lido Cócórosie.
Depois, à saída de uma “Coffeeshop” cuja implosão frenética faz suspeitar um passado raver às Midaircondo, Shopping For Images ensaia o mais convincente dos colapsos dramáticos que escutei a um disco este ano. A “Sorry”- tão simploriamente construído quanto o seu título aparenta – bastaria somente a voz para ser avassaladora. Contudo, comete o glorioso pecado de acrescentar o mais agilmente discreto dos acompanhamentos conhecidos ao disco. O azul do eyeliner ganha um tom aguado e a sopa um gosto mais salgado. É nessa altura que Alice Harford (Nicole Kidman em De Olhos Bem Fechados) pede perdão pelo adultério cometido com os marinheiros que não existem senão nos receios do seu esposo. E Björk é tão mais graciosa e sensual no desespero agridoce de quem está disposto a morrer electrocutado desde que abraçado à sua paixão. “Sorry” é uma das grandes faixas do ano, portanto.
Assim como Shopping For Images será um daqueles discos a descobrir e assimilar gradualmente a um ano de 2005 que, em meados de Outubro, pode já gabar-se de uma generosidade superior à dos anos constantes da mesma casa milenar. Midaircondo quase soa a Mid-air-combo. A segunda expressão pode dar nome à combinação aplicada por um lutador de beat ‘em up (tipo Street Fighter II ou Tekken) quando, a meia altura, apanha o adversário desprevenido e indefeso e lhe dizima a barra de energia por metade. Eu, incurável masoquista que perdia demasiado tempo com a inutilidade de algum trip-hop sucedâneo, posso hoje afirmar que nunca uma sova – confessional e marcante - me soube tão bem.
migarsenio@yahoo.com
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