DISCOS
VVV
Resurrection River
· 12 Set 2005 · 08:00 ·
VVV
Resurrection River
2005
Mego / Matéria Prima
Sítios oficiais:
- Mego
- Matéria Prima
Resurrection River
2005
Mego / Matéria Prima
Sítios oficiais:
- Mego
- Matéria Prima
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Resurrection River
2005
Mego / Matéria Prima
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Resurrection River
2005
Mego / Matéria Prima
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- Mego
- Matéria Prima
Este pode bem ser o verdadeiro rio místico, onde, tal como no filme de Clint Eastwood, vão a enterrar os pecados. Neste caso específico, um bizarro fervor religioso - subvertido pelo aspecto “kitsch” – que faz derreter dois glaciares num mesmo caudal altamente tóxico. Entre as suas águas nadam paradoxos escamados. A poluição tornada bênção, o limiar do herético enquanto primeiro passo rumo à purificação, o macabro revestido com um multicolorido cromado Power Ranger (avançar até à demente “Chrome Z-Fighters 2003”). Resurrection River é um daqueles discos que parece vocacionado a medir a pulsação a um futuro incerto, mas que, antes de alcançar dados clinicamente fiáveis, cede à tentação de lhe organizar um piroso funeral. Daí que a ressurreição do seu título seja mais uma ironia a servir de rasteira.
O reincidente projecto VVV serve de pretexto à convergência de duas instituições altamente influentes: os seminais Suicide - representados pela inconfundível metade Alan Vega - e os todo-o-terreno Pan Sonic na forma de Mika Vainio e Ilpo Väisänen. Os três Vês das iniciais podiam também ser os de “volúpia, violência, veneno”. Poderão certamente servir de coroa à vitória da frieza industrial sobre o calor de tudo o que pudesse ser perscrutado como electro à superfície sonora do rio. Juntaram-se os três à ravina e elaboraram electrónica híbrida capaz de dizimar a esperança a uma grande parte de párocos mais conservadores (comparativamente, os Chemical Brothers são ainda mais meninos de coro).
Resurrection River será igualmente capaz de dizimar os nervos a todos os que ainda não tenham sido capazes de acertar agulhas com o inconfundível registo vocal de Alan Vega. Ele que, apesar de empenhado em suplantar a sonolência da pior metade do debute Endless, continua a vociferar sem pudor a mesma lava punkabilly que provocava motins nos concertos dos Suicide. Tente agora o leitor que conhece o registo cambaleante a Vega imaginá-lo numa deriva freestyle (do MCing pouco ortodoxo a uivos capazes de assustar criancinhas que já sabem ler) por entre episódios do Scooby Doo desenhados por Robert Crumb (por altura de um “11:52 PM” com direito a solo de órgão a cargo de Jimi Tenor). O segundo capítulo da colaboração Pan Sonic / Vega obriga os primeiros a submeterem a (nem sempre) escorreita meticulosidade de estúdio à insanidade dominante do segundo. Vega transforma o rio num lamaçal onde uns até aqui respeitáveis Pan Sonic passam a chapinhar alegremente.
Perante a força do ataque sensorial galopante que se faz sentir (nunca é demais relembrar os Suicide como lendários arruaceiros sónicos), inverte-se a lógica à separação das águas e unem-se - com resultados surpreendentes - duas fórmulas de intersecção improvável. Os únicos a dispersarem-se neste cenário serão mesmo os estômagos tementes de corrosibilidade. Também O Exorcista tinha ambulâncias à saída dos cinemas aquando da sua primeira estreia. Resurrection River pertencerá à cabeceira de Salman Rushdie no dia em que o maldito escritor se afoitar a uma sequela para os Versículos Satânicos.
Miguel ArsénioO reincidente projecto VVV serve de pretexto à convergência de duas instituições altamente influentes: os seminais Suicide - representados pela inconfundível metade Alan Vega - e os todo-o-terreno Pan Sonic na forma de Mika Vainio e Ilpo Väisänen. Os três Vês das iniciais podiam também ser os de “volúpia, violência, veneno”. Poderão certamente servir de coroa à vitória da frieza industrial sobre o calor de tudo o que pudesse ser perscrutado como electro à superfície sonora do rio. Juntaram-se os três à ravina e elaboraram electrónica híbrida capaz de dizimar a esperança a uma grande parte de párocos mais conservadores (comparativamente, os Chemical Brothers são ainda mais meninos de coro).
Resurrection River será igualmente capaz de dizimar os nervos a todos os que ainda não tenham sido capazes de acertar agulhas com o inconfundível registo vocal de Alan Vega. Ele que, apesar de empenhado em suplantar a sonolência da pior metade do debute Endless, continua a vociferar sem pudor a mesma lava punkabilly que provocava motins nos concertos dos Suicide. Tente agora o leitor que conhece o registo cambaleante a Vega imaginá-lo numa deriva freestyle (do MCing pouco ortodoxo a uivos capazes de assustar criancinhas que já sabem ler) por entre episódios do Scooby Doo desenhados por Robert Crumb (por altura de um “11:52 PM” com direito a solo de órgão a cargo de Jimi Tenor). O segundo capítulo da colaboração Pan Sonic / Vega obriga os primeiros a submeterem a (nem sempre) escorreita meticulosidade de estúdio à insanidade dominante do segundo. Vega transforma o rio num lamaçal onde uns até aqui respeitáveis Pan Sonic passam a chapinhar alegremente.
Perante a força do ataque sensorial galopante que se faz sentir (nunca é demais relembrar os Suicide como lendários arruaceiros sónicos), inverte-se a lógica à separação das águas e unem-se - com resultados surpreendentes - duas fórmulas de intersecção improvável. Os únicos a dispersarem-se neste cenário serão mesmo os estômagos tementes de corrosibilidade. Também O Exorcista tinha ambulâncias à saída dos cinemas aquando da sua primeira estreia. Resurrection River pertencerá à cabeceira de Salman Rushdie no dia em que o maldito escritor se afoitar a uma sequela para os Versículos Satânicos.
migarsenio@yahoo.com
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