DISCOS
Weezer
Make Believe
· 11 Set 2005 · 08:00 ·
Importa ao caso exercitar uma breve tertúlia cor-de-rosa centrada em Rivers Cuomo, o excêntrico líder dos Weezer. Consta de entrevista cedida à Rolling Stone (a mesma revista que quase arruinou a carreira dos Weezer) que Rivers passou os últimos dois anos da sua vida entre a meditação cultivada dentro de um armário escuro e uma inconstante actividade em estúdio. Rivers sancionou-se com um enclausuramento imposto a si mesmo. Não seria de esperar tal comportamento de um “geminiano” que tinha por dilemas clássicos os que colocavam groupies e prostitutas asiáticas numa balança pré-horizontal. Entretanto e a partir desses tempos agitados, um dos nerds mais perseguidos além Atlântico manteve um inquebrável celibato e voltou a expor-se mediaticamente na temporada de promoção a este Make Believe. Rivers arranhou as solas da obra-prima (menor, certamente) com um manifestamente confessional Pinkerton, a servir de diário à mercê de quem o queira vasculhar. Make Believe só expõe mais fragilidades perante os incautos que se atreverem à sua audição.
Make Believe exige de quem escuta a mesma fé cega (surda, neste caso) que terá servido de norte aos seus criadores. Os mesmos que parecem determinados a provar a cada novo disco que este sim representa o “regresso à sonoridade clássica dos primeiros discos”. Só de polegar entre os lábios alguém é capaz de acreditar que Make Believe pode sequer dormir no tapete em que o primeiro disco homónimo limpa os pés dos clones entretanto acumulados, diga-se. Mesmo que “Perfect Situation” invoque a introdução de “Glorious Day” (parte do álbum verde, que nem sequer pode ser tomado como Weezer vintage) ou “Freak Me Out” inclua um cameo da gaita de beiços de “My Name is Jonas”, custa a acreditar que Make Believe soe a convincente noutro prisma que não aquele que o dá como disco à deriva.
Os pontos de exclamação que vinham brotando da linha cronológica que antecede a Make Believe faziam antever um pequeno desastre. Passo a discriminá-los: um significativo lote de demos (que, por comparação, parecem um tesouro pirata) disponíveis para download gratuito na página oficial da banda e as primeiras manchetes a apontarem o novo álbum como um suicídio comercial. Rivers desfez-se do que tinha acumulado até ali e contratou o super-produtor Rick Rubin (Midas de barba longa) para refrescar as ideias alinhadas para novas sessões. Rubin esquivou-se a um rude golpe na reputação e passou a ser apenas mentor espiritual da banda (o que, no seu caso, significa escolher os concertos de James Brown a visionar e o “fast food” onde comer). A longa gestação do quinto disco do =W= alado resultou num penoso desgaste que, por sua vez, se manifesta numa manta de retalhos a que só mesmo os religiosos retiram maná que lhes sirva de alento.
A seriedade rui sobre o risível a cada vez que os Weezer rumam por um atalho. A tragédia sussurra aos ouvidos quando Rivers exibe os seus dotes de MC em “Beverly Hills”, pretensioso hino de estádio ao estilo boom-boom-chop de “We Will Rock You”. “This is such a pity” é tão retro (modo 80) quanto a laca que mantinha o cabelo de Ric Ocasek de pé (o membro dos Cars que até produziu o primeiro disco dos Weezer). “We are all on drugs” surpreende pela sinceridade e faculta a explicação mais viável para o descalabro que se escuta nas faixas periféricas. Sim, porque rodeada por tanta dislexia musical “We are all on drugs” quase parece um novo “London Calling”. O tecto que tenho para a crueldade não me permite sequer comentar “Freak me out” ou “Haunt you everyday”.
Make Believe não conta com um refrão que se aproxime dos tempos gloriosos de Weezer (Blue), que reclamava por pares de fãs embriagados a entoarem em coro as suas melodias em grandes plataformas comerciais. Os momentos de inspiração nula - que em Maladroit resultavam em músicas desinteressantes - são agora despromovidos à condição de embaraçosos. Ainda assim, Maladroit é um diamante quando comparado com Make Believe. Durante o tempo que este texto me tomou, o site oficial dos Weezer conheceu mais 2898 visitas. Razão para pensar que muitos andarão a comer gato por lebre. Alguém tem por aí um armário bem escuro e apertadinho para este gato pardo?
Miguel ArsénioMake Believe exige de quem escuta a mesma fé cega (surda, neste caso) que terá servido de norte aos seus criadores. Os mesmos que parecem determinados a provar a cada novo disco que este sim representa o “regresso à sonoridade clássica dos primeiros discos”. Só de polegar entre os lábios alguém é capaz de acreditar que Make Believe pode sequer dormir no tapete em que o primeiro disco homónimo limpa os pés dos clones entretanto acumulados, diga-se. Mesmo que “Perfect Situation” invoque a introdução de “Glorious Day” (parte do álbum verde, que nem sequer pode ser tomado como Weezer vintage) ou “Freak Me Out” inclua um cameo da gaita de beiços de “My Name is Jonas”, custa a acreditar que Make Believe soe a convincente noutro prisma que não aquele que o dá como disco à deriva.
Os pontos de exclamação que vinham brotando da linha cronológica que antecede a Make Believe faziam antever um pequeno desastre. Passo a discriminá-los: um significativo lote de demos (que, por comparação, parecem um tesouro pirata) disponíveis para download gratuito na página oficial da banda e as primeiras manchetes a apontarem o novo álbum como um suicídio comercial. Rivers desfez-se do que tinha acumulado até ali e contratou o super-produtor Rick Rubin (Midas de barba longa) para refrescar as ideias alinhadas para novas sessões. Rubin esquivou-se a um rude golpe na reputação e passou a ser apenas mentor espiritual da banda (o que, no seu caso, significa escolher os concertos de James Brown a visionar e o “fast food” onde comer). A longa gestação do quinto disco do =W= alado resultou num penoso desgaste que, por sua vez, se manifesta numa manta de retalhos a que só mesmo os religiosos retiram maná que lhes sirva de alento.
A seriedade rui sobre o risível a cada vez que os Weezer rumam por um atalho. A tragédia sussurra aos ouvidos quando Rivers exibe os seus dotes de MC em “Beverly Hills”, pretensioso hino de estádio ao estilo boom-boom-chop de “We Will Rock You”. “This is such a pity” é tão retro (modo 80) quanto a laca que mantinha o cabelo de Ric Ocasek de pé (o membro dos Cars que até produziu o primeiro disco dos Weezer). “We are all on drugs” surpreende pela sinceridade e faculta a explicação mais viável para o descalabro que se escuta nas faixas periféricas. Sim, porque rodeada por tanta dislexia musical “We are all on drugs” quase parece um novo “London Calling”. O tecto que tenho para a crueldade não me permite sequer comentar “Freak me out” ou “Haunt you everyday”.
Make Believe não conta com um refrão que se aproxime dos tempos gloriosos de Weezer (Blue), que reclamava por pares de fãs embriagados a entoarem em coro as suas melodias em grandes plataformas comerciais. Os momentos de inspiração nula - que em Maladroit resultavam em músicas desinteressantes - são agora despromovidos à condição de embaraçosos. Ainda assim, Maladroit é um diamante quando comparado com Make Believe. Durante o tempo que este texto me tomou, o site oficial dos Weezer conheceu mais 2898 visitas. Razão para pensar que muitos andarão a comer gato por lebre. Alguém tem por aí um armário bem escuro e apertadinho para este gato pardo?
migarsenio@yahoo.com
RELACIONADO / Weezer