DISCOS
13 & God
13 & God
· 19 Jun 2005 · 08:00 ·
13 & God
13 & God
2005
Anticon / Flur
Sítios oficiais:
- 13 & God
- Anticon
- Flur
13 & God
2005
Anticon / Flur
Sítios oficiais:
- 13 & God
- Anticon
- Flur
13 & God
13 & God
2005
Anticon / Flur
Sítios oficiais:
- 13 & God
- Anticon
- Flur
13 & God
2005
Anticon / Flur
Sítios oficiais:
- 13 & God
- Anticon
- Flur
Tivesse Confúcio abandonado o mundo num estado de graça profético, e “13 and God” teriam sido as últimas palavras proferidas pelo filósofo chinês. Perante o panorama do hip hop actual – mergulhado em águas turvas pela abundância de curvas -, o projecto que reúne os esforços dos Notwist e Themselves soa magnificamente erudito, capaz de mover as montanhas do conformismo Pimp my Ride, o programa da MTV que vende o sonho suburbano em forma de carro artilhado. Podem os incautos continuar a brincar aos carrinhos, enquanto o refogado ferve o ímpeto criativo de duas formações auto-suficientes que, nem que só para descobrir relevo à terceira via, debulharam os respectivos códigos genéticos sem que tal implicasse um acanhamento cortês ou cortes significativos nas essências.
Unem-se pela lógica do traçado duas super ramificações distintas: uma delas – os Notwist – habituada às mutações que separam o rock independente do agigantamento proporcionado pela electrónica, a outra – os Themselves – generalizadamente reconhecida por habitar um meio – a Anticon - em que a dança de cadeiras surte resultados sempre mais impressionantes que o solilóquio de umbigo. O super passa a mega e 13 & God reivindica para si o direito a ser escutado, nem que seja pela improbabilidade de voltarem a colaborar num mesmo disco a meia-dúzia de cérebros aqui reunidos. Talvez porque a Anticon merece desde há muito a simpatia e atenção do ciberespaço, 13 & God será mais um happening que um disco capaz de sobreviver ao tempo e a múltiplas escutas.
Ainda assim e dada a imprevisibilidade com que procede ao cruzamento de universos, a peça de teatro virtual (reparem na capa) provoca no ingénuo um impacto comparável ao dos primeiros vinte minutos d’O resgate do Soldado Ryan. À medida que sibilam junto dos ouvidos as balas alienígenas (“Ghostwork” e “Afterclap” passam de raspão), vê-se ameaçada a estabilidade dos sentidos que procura um novo disco dos Notwist ou uma sequela para The No Music do colectivo Themselves. 13 & God estará muito mais próximo de uma destemida vontade própria requisitada ao glorioso Kid A. Tritura coordenadas impostas por expectativas e a partir dessa matéria produz hambúrgueres cósmicos.
Alturas há em que 13 & God parece estar-se completamente nas tintas para qualquer obrigatoriedade hip-hop. Por isso e porque não seria descabido atribuir a sua autoria aos Postal Service, torna-se viável o trocadilho entre “Men of Station” e manifestation (manifestação). Isto porque o harmonioso single não se acanha na hora de manifestar um esplendor pop capaz de ofuscar o periférico hip hop. Também esse tem direito à ribalta quando a ocasião se revela propícia: “Soft Atlas” proporciona o fatalismo ideal ao flow inconfundível de Doseone (o mais proeminente dos Themselves) e “Superman on Ice” alterna rimas numa roleta russa em que o bravio heróico dos intervenientes vai aos poucos sendo asfixiado por sons urbanos empilhados ao ritmo da bolsa de valores Nasdaq. Caso submetesse o seu estilo à lei da robótica, Guillermo de Llera (Primitive Reason) poderia bem ser o quarto Themselves.
A figura medonha que figurava no single de apresentação era afinal o coelho que em Donnie Darko anunciava o fim do mundo e despertava no protagonista uma motivação criativa tão destrutiva quando construtiva. As parecenças não deixam lugar à dúvida. 13 & God é uma ameba digna de se contemplar durante o período de actividade hormonal. E, tal como a ameba, impressiona a cada vez que percorre qualquer distância (em direcção ao futuro do hip-hop, neste caso). Não há contudo paciência que aguente visionamentos repetidos de uma prova de cem metros barreiras disputada por dois bichos demasiado empenhados em exibirem o vanguardismo da sua viscosidade.
Miguel ArsénioUnem-se pela lógica do traçado duas super ramificações distintas: uma delas – os Notwist – habituada às mutações que separam o rock independente do agigantamento proporcionado pela electrónica, a outra – os Themselves – generalizadamente reconhecida por habitar um meio – a Anticon - em que a dança de cadeiras surte resultados sempre mais impressionantes que o solilóquio de umbigo. O super passa a mega e 13 & God reivindica para si o direito a ser escutado, nem que seja pela improbabilidade de voltarem a colaborar num mesmo disco a meia-dúzia de cérebros aqui reunidos. Talvez porque a Anticon merece desde há muito a simpatia e atenção do ciberespaço, 13 & God será mais um happening que um disco capaz de sobreviver ao tempo e a múltiplas escutas.
Ainda assim e dada a imprevisibilidade com que procede ao cruzamento de universos, a peça de teatro virtual (reparem na capa) provoca no ingénuo um impacto comparável ao dos primeiros vinte minutos d’O resgate do Soldado Ryan. À medida que sibilam junto dos ouvidos as balas alienígenas (“Ghostwork” e “Afterclap” passam de raspão), vê-se ameaçada a estabilidade dos sentidos que procura um novo disco dos Notwist ou uma sequela para The No Music do colectivo Themselves. 13 & God estará muito mais próximo de uma destemida vontade própria requisitada ao glorioso Kid A. Tritura coordenadas impostas por expectativas e a partir dessa matéria produz hambúrgueres cósmicos.
Alturas há em que 13 & God parece estar-se completamente nas tintas para qualquer obrigatoriedade hip-hop. Por isso e porque não seria descabido atribuir a sua autoria aos Postal Service, torna-se viável o trocadilho entre “Men of Station” e manifestation (manifestação). Isto porque o harmonioso single não se acanha na hora de manifestar um esplendor pop capaz de ofuscar o periférico hip hop. Também esse tem direito à ribalta quando a ocasião se revela propícia: “Soft Atlas” proporciona o fatalismo ideal ao flow inconfundível de Doseone (o mais proeminente dos Themselves) e “Superman on Ice” alterna rimas numa roleta russa em que o bravio heróico dos intervenientes vai aos poucos sendo asfixiado por sons urbanos empilhados ao ritmo da bolsa de valores Nasdaq. Caso submetesse o seu estilo à lei da robótica, Guillermo de Llera (Primitive Reason) poderia bem ser o quarto Themselves.
A figura medonha que figurava no single de apresentação era afinal o coelho que em Donnie Darko anunciava o fim do mundo e despertava no protagonista uma motivação criativa tão destrutiva quando construtiva. As parecenças não deixam lugar à dúvida. 13 & God é uma ameba digna de se contemplar durante o período de actividade hormonal. E, tal como a ameba, impressiona a cada vez que percorre qualquer distância (em direcção ao futuro do hip-hop, neste caso). Não há contudo paciência que aguente visionamentos repetidos de uma prova de cem metros barreiras disputada por dois bichos demasiado empenhados em exibirem o vanguardismo da sua viscosidade.
migarsenio@yahoo.com
RELACIONADO / 13 & God