DISCOS
Deadbeat
New World Observer
· 07 Jun 2005 · 08:00 ·

Deadbeat
New World Observer
2005
~scape / Flur
Sítios oficiais:
- Deadbeat
- ~scape
- Flur
New World Observer
2005
~scape / Flur
Sítios oficiais:
- Deadbeat
- ~scape
- Flur

Deadbeat
New World Observer
2005
~scape / Flur
Sítios oficiais:
- Deadbeat
- ~scape
- Flur
New World Observer
2005
~scape / Flur
Sítios oficiais:
- Deadbeat
- ~scape
- Flur
O dub quer-se denso, pronto a desembaraçar os nós de quem vive tenso. Quando chega aquele momento da noite em que são demasiados os espaços vazios - ainda há pouco pertencentes a movimentos e euforia -, vem o dub preencher as lacunas ao fazer dispersar a sua densidade. O cansaço e uma folha em branco no lugar do pensamento formam as condições mais propícias à progressão do dub, embora tal não obrigue a que o maná cerebral seja servido num formato simplificado. Cada um aguenta-se à bronca com a tola que tem. Os estimulantes devem ser facultativos. Deadbeat - Scott Montheit no Registo Civil – ensaia um dub de índole narrativa; sem desautorar a matriz reggae, amplia a capacidade de sedução do ventre jamaicano além da dimensão apropriada a aeroportos (tal como um dia criada por Brian Eno). New World Observer é um camaleão que se atreveu a ganhar asas.
Com um olho assente no Boletim Meteorológico de uma floresta tropical onde nada se passa e outro na procura de alternativas para o dub, Deadbeat diagnostica a New World Observer uma bipolarização rítmica que lhe permite contagiar os circundantes quando se atreve a aviar loops aromáticos e a conduzir à sonolência assim que se recolhe à placidez do downtempo. Bem vistas as coisas, o terceiro disco de Deadbeat já não é tão assumidamente dub quanto isso. Jura fidelidade aos mandamentos do género que o orienta, mas apenas de esguelha. Muito mais se assemelham estas faixas a hinos compostos por Four Tet para manifestações do Greenpeace, do que a uns Alpha & Omega em missão ecologista.
O compromisso perante a narrativa torna os três discos assinados por Deadbeat passíveis de serem interpretados como partes de uma mesma trilogia. Quando é o próprio autor a assumir isso, não há como divorciar o capítulo final do seu carácter conclusivo. Pois se Wild Life Documentaries e Something Borrowed, Something Blue sufocavam o dub ao ponto deste servir apenas como agente de uma insinuação esparsa, o novo capítulo renova o espectro com uma mão cheia de faixas abençoadas pela voz encantadora de Athésia (nos discos anteriores, as vozes eram gambuzinos). Como o rei que regressa à sua corte, também New World Observer parece ter invocado argumentos de peso (além das vozes, as camadas surgem com uma dinâmica renovada) para restituir a paz ao seu território.
Já existe música apropriada ao dia em que todas as criaturas mitológicas do universo Miyazaki (A Princessa Mononoke, A Viagem de Chihiro) se decidirem a passar o resto dos dias no ócio despreocupado de quem vive da reforma (agora, só a partir dos 65). À terceira investida, Deadbeat arranca-nos o tapete de debaixo dos pés e faz-nos aterrar no coração da floresta onde os cogumelos multi-coloridos se cansaram da inércia imposta pelo dub e passaram a organizar-se num ritual de dança antes de se perderem no vapor do tacho. New World Observer representa, afinal, o oráculo repartido pelas fábulas projectadas nesse vapor. Deadbeat é um Tolkien dedicado à agricultura de sons frutíferos.
Miguel ArsénioCom um olho assente no Boletim Meteorológico de uma floresta tropical onde nada se passa e outro na procura de alternativas para o dub, Deadbeat diagnostica a New World Observer uma bipolarização rítmica que lhe permite contagiar os circundantes quando se atreve a aviar loops aromáticos e a conduzir à sonolência assim que se recolhe à placidez do downtempo. Bem vistas as coisas, o terceiro disco de Deadbeat já não é tão assumidamente dub quanto isso. Jura fidelidade aos mandamentos do género que o orienta, mas apenas de esguelha. Muito mais se assemelham estas faixas a hinos compostos por Four Tet para manifestações do Greenpeace, do que a uns Alpha & Omega em missão ecologista.
O compromisso perante a narrativa torna os três discos assinados por Deadbeat passíveis de serem interpretados como partes de uma mesma trilogia. Quando é o próprio autor a assumir isso, não há como divorciar o capítulo final do seu carácter conclusivo. Pois se Wild Life Documentaries e Something Borrowed, Something Blue sufocavam o dub ao ponto deste servir apenas como agente de uma insinuação esparsa, o novo capítulo renova o espectro com uma mão cheia de faixas abençoadas pela voz encantadora de Athésia (nos discos anteriores, as vozes eram gambuzinos). Como o rei que regressa à sua corte, também New World Observer parece ter invocado argumentos de peso (além das vozes, as camadas surgem com uma dinâmica renovada) para restituir a paz ao seu território.
Já existe música apropriada ao dia em que todas as criaturas mitológicas do universo Miyazaki (A Princessa Mononoke, A Viagem de Chihiro) se decidirem a passar o resto dos dias no ócio despreocupado de quem vive da reforma (agora, só a partir dos 65). À terceira investida, Deadbeat arranca-nos o tapete de debaixo dos pés e faz-nos aterrar no coração da floresta onde os cogumelos multi-coloridos se cansaram da inércia imposta pelo dub e passaram a organizar-se num ritual de dança antes de se perderem no vapor do tacho. New World Observer representa, afinal, o oráculo repartido pelas fábulas projectadas nesse vapor. Deadbeat é um Tolkien dedicado à agricultura de sons frutíferos.
migarsenio@yahoo.com
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