Há bandas que marcam de uma forma estrondosa os rumos que a música leva, que são visionárias e que transformam a música que se vai produzir nas décadas seguintes. Bandas como os Velvet Underground são o exemplo imediato desse mesmo facto. Apesar de pouco ouvidos no seu tempo, viriam a ser considerados com unanimidade a banda que fundou a modernidade do rock. Outra forma de desmarcação da banda do seu tempo era o facto de aliarem o pop e a arte ao mesmo tempo, influência directa de Andy Warhol.

Formados em 1964, em Nova York, os Velvet Underground não eram propriamente uma banda de quem se falasse ou escrevesse por essa altura. Gravaram o primeiro álbum em 1966, mas apenas 11 meses depois veio a conhecer edição por parte da Verve (que editou também os dois álbuns seguintes da banda, ficando o quarto a cargo da Warner). Sucessivamente recusado, talvez devido ao seu lado vanguardista e inovador, “The Velvet Underground & Nico” é hoje um clássico indiscutível da história da música, sendo frequentemente apontado como melhor álbum de sempre. Apesar de hoje se dizer dos Velvet Underground tamanha importância, esse disco apenas chegou ao 171º lugar do top na altura do lançamento. Os outros três discos da banda viriam a conhecer semelhante destino, sendo praticamente ignorados pelo público e pela imprensa, que, até ao lançamento do terceiro álbum pouco ou nada tinha escrito sobre eles. Mas, e é sempre importante repetir a frase charneira de Brian Eno, que dizia que haviam sido poucos os que ouviram os Velvet Underground na sua altura, mas todos eles tinham formado uma banda.

A música do grupo é importante porque de certa forma foi com ela que surgiram muitas bandas nas décadas seguintes e que, hoje mesmo e passadas três décadas desde o fim da banda, continuam a surgir. Tanto Patti Smith, como os R.E.M. ou David Bowie foram imensamente influenciados por este som vanguardista, que os Velvet Underground practicam. “An Introduction to...” espelha bem diversas fases da banda. Passando pelo rock “moderno” e por canções obscuras que “invocam” o Mal e falam ou de drogas, ou de prácticas sado-masoquistas, ou até mesmo do... amor. Tudo isto, seguindo sempre uma linha que não fugia muito a guitarras eléctricas e uma bateria. A obscuridade foi um tema abordado pela banda, mas que não surge como único ponto. Conseguimos encontrar neste “An Introduction...” também algumas canções pop, porque os Velvet Underground também as sabiam fazer. Pena que numa compilação deste género, não exista nenhum tema interpretado por Nico. Se hoje, ao ouvirmos este álbum julgamos e vemos esta música como “normal”, é porque os Velvet Underground tiveram tantos seguidores que tornaram este rock de então vanguardista, numa coisa hoje “normal” (“normal” num sentido de não nos chocar). Os Velvet Underground nunca seguiram uma fórmula, e isso está bem presente neste disco.

Impossível esquecer também as presenças marcantes na banda de Nico e Andy Warhol. A primeira, apesar de presença polémica, foi imposta no primeiro álbum por Andy Warhol, e seria a presença que destoaria numa banda que era uma constatação do mal. Andy Warhol, pagou o disco e propiciou um local para ensaios, ofereceu o dinheiro e também as drogas.

É na década de 80 que os Velvet Underground se tornam conhecidos e acabam por vender mais discos do que aquando do lançamento dos álbuns. É aqui que começa a existir um autêntico culto à volta da banda, a curta discografia de quatro discos é então ampliada para um sem número de discos piratas, raridades e coisas tiradas do baú.

Esta compilação, como se explica no texto do inlay da autoria de Daryl Easlea, não funciona como um banal Best Of, mas sim e como o nome indica uma colecção de algum do muito material interessante que a banda criou e que pode servir de mote ao descobrimento dos Velvet Underground. Contém quatro temas do álbum inicial “Velvet Underground & Nico”, três temas do “White Light/White Heat”, outros tantos do “Velvet Underground” e dois do “Loaded” (estes em versão ao vivo) entre outras músicas não presentes nos quatro discos da banda. Um excelente olhar de síntese de uma obra importantíssima que, obviamente, não dispensa a audição da discografia da banda.

Passaram nove anos entre a formação e o desmembramento total dos Velvet Underground, e bastaram nove anos para mudar o percurso da música, tornando a banda de Lou Reed e John Cale num mito ainda hoje por muitos venerado.