DISCOS
Steve Lacy/Roswell Rudd Quartet
School Days
· 09 Mai 2005 · 08:00 ·
Steve Lacy/Roswell Rudd Quartet
School Days
1963
Hat Hut


Sítios oficiais:
- Hat Hut
Steve Lacy/Roswell Rudd Quartet
School Days
1963
Hat Hut


Sítios oficiais:
- Hat Hut
Entre 1961 e 1963 quatro jovens e promissores músicos decidiram reunir-se para abordar a música composta pelo genial pianista do bebop Thelonious Monk. Ao trombone de Roswell Rudd, o líder, juntaram-se o contrabaixo de Henry Alonzo Grimes, a bateria de Dennis “Jazz” Charles e o saxofone soprano de Steven Norman Lackritz - a maioria reconhecerá melhor o nome Steve Lacy. Por esta altura Lacy já era um sábio conhecedor do songbook monkiano e até já havia gravado um disco baseado exclusivamente nas criações de Monk: REFLECTIONS (New Jazz, 1959), mas aqui Lacy demonstra uma evolução notória e é determinante. Esta formação fez questão de gravar a sua marca na história, não só pela originalidade do grupo, mas, sobretudo, pela excelência da música que desenvolveu. Partindo da cave do bop, estes quatro músicos empenharam-se em reformular o cardápio monkiano e apresentar música completamente inovadora. Conciliando a tradição e técnica do bebop com a modernidade efervescente da new thing que estava para surgir, este grupo ousou fazer uma nova ponte em Nova Iorque – não entre Brooklyn e Manhattan, que essas já existiam, mas entre o Minton’s Playhouse dos 1940’s e o Village Gate dos 1960’s.

Apesar de tudo, a importância desta música não justificou nem uma gravação de estúdio. Fosse a história um poço de injustiça e este seria mais um caso, entre muitos, de um grupo de quem alguns se recordariam (eventualmente de algum concerto num clube) mas que, à falta de documentos, o tempo acabaria por fazer esquecer. Não seria facto suficiente para perturbar a carreira de Steve Lacy ou Roswell Rudd, mas era uma pena não haver um qualquer registo deste fabuloso quarteto. Felizmente, alguém teve a ideia feliz de gravar uma actuação ao vivo, no Phase Two Coffee House em Nova Iorque. E muitos anos depois foi possível conhecer a arte magnífica destes senhores. 1963 é o ano para onde viajamos quando carregamos no botão play.

Do rico e vasto repertório de Monk, a selecção dos temas não terá sido a mais evidente. Ficaram de fora os mais conhecidos (Straight, No Chaser, Round Midnight) e em vez disso escolheram-se algumas das músicas mais difíceis. Brilliant Corners é um tormento de execução técnica, pelas constantes mudanças de tempo, e Skippy é velocidade constante e um dos momentos superiores do álbum. Aliás, quase todos os temas (à excepção da terna Monk’s Mood) vivem da rapidez da execução – o que remete directamente para o clássico bebop. Os temas que abrem e fecham o disco (Bye-Ya e Pannonica, respectivamente) são um pouco mais secos, devido à ausência do contrabaixo de Henry Grimes, que (diz-se) chegou atrasado ao concerto, mas ainda assim teve tempo para insuflar os temas restantes com a sua espuma harmónica. Talvez o mais saboroso desta gravação seja assistir ao jogo permanente entre sax soprano e trombone, os diálogos, os balanços e os equilíbrios. Lacy e Rudd percorrem quase sempre linhas próximas, mas nunca se atropelam. Começam por deslizar juntos sobre a melodia para, depois de se terem afastado, voltarem a cruzar-se no meio do caminho. É fascinante escutar a complementaridade destas duas vozes.

Esta obra (prima) é fruto do trabalho do quarteto de instrumentistas, mas não ficaria mal designar a entidade responsável pela geração desta música como quinteto, se tivermos em conta o peso da figura tutelar - o grande Thelonious, um dos maiores impulsionadores da música de todo o sempre. Lacy, Rudd, Grimes e Charles criaram uma das mais belas homenagens à música do mestre. Na grande escola universal do jazz, Monk é uma das cadeiras basilares. E este é um compêndio essencial para compreender a sua dimensão.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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