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yeah NO
Swell Henry
· 13 Fev 2005 · 08:00 ·
yeah NO
Swell Henry
2004
Squealer
Sítios oficiais:
- Squealer
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Há gente que não anda nisto por ver andar os outros. Nos serões da província, a vida é lenta p’ra diabo e as alminhas unidas à volta da lareira encomendam-se, e aos seus, ao que está lá em cima. Fraca sina a de quem tem nestes recontros o ponto mais alto da sua socialite. Fora isso, e se ainda descontarmos a falta de chuva, a vida segue tranquila para quem não se arrisca a levar com um balázio no meio da testa. A cidade e as serras num fresco que, sendo de hoje, podia datar de há séculos atrás. Mas nos Balcãs a coisa é diferente.
O jazz, na sua definição primeva, é sobre perder o tino e soltar-se na música, nadar e afogar-se nela até não se poder mais e vir à superfície. E é nesta embriaguez de Baco que se desenvolve uma inteligência de Apolo, e traça no infinito novas pistas para chegar a qualquer coisa, que não foi o ponto do novelo onde se havia começado. Nestas fantasias a abstracção é pedra de toque mas, no caso de algumas big bands, é mito. O velho binómio improvisação/horas de treino aqui interessa pouco.
É que, para o caso, quatro é companhia. Em Swell Henry estamos perante um quarteto de jazz que tem num senhor de boas famílias (cresceu em Seattle, fez vida na Big Apple) a sua estrela mais brilhante. Chris Speed é saxofonista e clarinetista de formação e atira-se aos instrumentos como se a vida fosse um par de horas. Faz-se acompanhar de um baixo mortiço – neste caso, até é bom, sublinhe-se –, um trompete que se amarra à noite para não deixar nascer o dia e uma bateria pontualíssima.
Depois disto, há uma “balcanização” do som, numa alusão ao termo odioso que alguém se lembrou de inventar para se referir a tudo o que seja ostracismo, não olhar à volta e definhar numa casmurrice deliciosa. Mas aqui é mesmo ir aos Balcãs e trazer de lá cheiros e formas e fazer uma bela infusão pastiche, entre o ruralóide e o citadino dos casinos cheios de pêgas e meninos-bem. (O gozo que não sentimos ao ver o Woody Allen a educar aquelas cabeças de vento na passagem do ano… Já parece o Ingmar Bergman com a mania do digital e a restringir, por cá, a mostra de Saraband ao Alvaláxia).
Bom, mas o quarto dos yeah NO é um disco de despiques emocionais, em que o prato da balança pende mais para uma tristeza que não se descreve, ainda que com inusitados picos de euforia para ajudar ao groove. “She Has Four Thorns” é uma composição lânguida mas sem Sol e chega para abrir o álbum. Passado pouco tempo, roda “Born in the Air”, o tema mais Kusturica de todos, com trapos sonoros das mais interessantes origens: ciganos, palhaços, encantadores de serpentes e salas de lounge. Excita mas não chega a borrar a pintura.
A parvónia irrepreensível do free jazz acontece mais em “Staircase Genius”, em três minutos de saxofone tocado até doerem os beiços. Já “Camper Giorno” é uma descarga desacelerada de meteoritos amigos, bem compostos e cheios de vida para continuarem a desenvolver-se quando atingem o solo. Este bem podia ser o disco da estação das chuvas. A ver se chove de vez.
Hélder GomesO jazz, na sua definição primeva, é sobre perder o tino e soltar-se na música, nadar e afogar-se nela até não se poder mais e vir à superfície. E é nesta embriaguez de Baco que se desenvolve uma inteligência de Apolo, e traça no infinito novas pistas para chegar a qualquer coisa, que não foi o ponto do novelo onde se havia começado. Nestas fantasias a abstracção é pedra de toque mas, no caso de algumas big bands, é mito. O velho binómio improvisação/horas de treino aqui interessa pouco.
É que, para o caso, quatro é companhia. Em Swell Henry estamos perante um quarteto de jazz que tem num senhor de boas famílias (cresceu em Seattle, fez vida na Big Apple) a sua estrela mais brilhante. Chris Speed é saxofonista e clarinetista de formação e atira-se aos instrumentos como se a vida fosse um par de horas. Faz-se acompanhar de um baixo mortiço – neste caso, até é bom, sublinhe-se –, um trompete que se amarra à noite para não deixar nascer o dia e uma bateria pontualíssima.
Depois disto, há uma “balcanização” do som, numa alusão ao termo odioso que alguém se lembrou de inventar para se referir a tudo o que seja ostracismo, não olhar à volta e definhar numa casmurrice deliciosa. Mas aqui é mesmo ir aos Balcãs e trazer de lá cheiros e formas e fazer uma bela infusão pastiche, entre o ruralóide e o citadino dos casinos cheios de pêgas e meninos-bem. (O gozo que não sentimos ao ver o Woody Allen a educar aquelas cabeças de vento na passagem do ano… Já parece o Ingmar Bergman com a mania do digital e a restringir, por cá, a mostra de Saraband ao Alvaláxia).
Bom, mas o quarto dos yeah NO é um disco de despiques emocionais, em que o prato da balança pende mais para uma tristeza que não se descreve, ainda que com inusitados picos de euforia para ajudar ao groove. “She Has Four Thorns” é uma composição lânguida mas sem Sol e chega para abrir o álbum. Passado pouco tempo, roda “Born in the Air”, o tema mais Kusturica de todos, com trapos sonoros das mais interessantes origens: ciganos, palhaços, encantadores de serpentes e salas de lounge. Excita mas não chega a borrar a pintura.
A parvónia irrepreensível do free jazz acontece mais em “Staircase Genius”, em três minutos de saxofone tocado até doerem os beiços. Já “Camper Giorno” é uma descarga desacelerada de meteoritos amigos, bem compostos e cheios de vida para continuarem a desenvolver-se quando atingem o solo. Este bem podia ser o disco da estação das chuvas. A ver se chove de vez.
hefgomes@gmail.com
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